Movidos pela fé

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Movidos pela fé

Na contramão de uma maioria de jovens desconectados da religião, outra parcela mantém seus laços com a fé por meio de promessas.

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Movidos pela fé
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Sonhos como tirar a carteira de motorista, comprar a casa própria ou até mesmo passar no vestibular estão presentes na vida de muitos jovens da região. Indo na contramão de uma maioria que se desconectou das religiões, três jovens do Vale do Taquari deixaram a fé falar mais alto na hora de lutar pelos mais diversos sonhos.

Católico e cheio de fé, um casal de Arroio do Meio utilizou das promessas a santos para obter sucesso no que almejavam. Juntos faz quatro anos e meio, Letícia Halmenschlager, 19, e Diogo Mallmann, 25, fizeram a mesma promessa, mas com propósitos diferentes. Ela, após rodar duas vezes na prova de direção para carteira de motorista, resolveu pedir uma ajudinha a Nossa Senhora Aparecida.

Já ele, fanático pelo Grêmio, fez promessa para o time ser campeão da Libertadores em 2017. Se conseguissem comemorar suas vitórias, iriam caminhando de Arroio do Meio até a imagem de Nossa Senhora Aparecida, em Encantado. O local, famoso por receber devotos a pedir e agradecer, fica às margens da RS-130, conhecido como “a santinha do perau”.

Carteira de motorista e título da Libertadores em mãos, em fevereiro, o casal caminhou 13 quilômetros morro a cima para cumprir com o que prometeu. “Foi um alívio alcançar a graça e poder pagar a promessa. Uma experiência interessante para nós como casal”, diz Letícia.

Mallmann conta que não foi a primeira vez que fez promessas. “Normalmente as minhas são relacionadas ao futebol e faço questão de pagar todas. Não ganhávamos desde 2007. Foi um trauma, então, apelei pra santa”, brinca.


Renata

Raspei meu cabelo

Nascida e criada pertinho da igreja, Renata Agostini, 27, de Encantado, conta que desde pequena frequentava missas locais e novenas nas casas vizinhas. “Morei lá até os meus 19 anos, mas passei a ser mais ativa na Igreja Católica aos 16 anos, quando fui para o meu primeiro retiro jovem”, lembra.

Com cinco anos ativa no grupo, Renata viajou em 2013 ao Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude. Três anos depois, embarcou para a Polônia e trabalhou em grupos de redes sociais, dos quais ainda faz parte e se prepara para a próximo, no Panamá, em 2019.

Morando na Irlanda desde 2015, Renata se tornou em 2017 coordenadora do grupo de jovens da comunidade Católicos em Dublin, onde assiste às missas em português. “Eu sempre tive muita fé e gosto de estar nesses grupos para ajudar ao próximo de forma voluntária”, diz.

Como você cultiva a sua fé?

Renata – Principalmente pelo voluntariado, pelo envolvimento nesses grupos de jovens católicos. Rezo em casa, rezo pelos meus amigos e familiares e neste ano estou passando a buscar mais entendimento da Bíblia. Quanto aos santos, vejo neles um testemunho, um exemplo de vida e conversão em Cristo.

Como você enxerga as promessas feitas a santos?

Renata – As promessas são algo muito particular de cada pessoa. Eu nunca tinha feito promessa a santo até vir pra Irlanda. Nunca tinha sentido esta necessidade. Aqui, diante de tantas diversidades, tive que aprender a confiar mais, afinal, ter fé é ter confiança. Algumas vezes, tem coisas que não dão certo e quem me conhece já corre dizendo ‘fez mais uma promessa’. Mas não é assim. Até hoje, as que fiz foram muito sérias e só depois de muito tentar e buscar. Promessa não pode se tornar banal, se não, fica sem sentido. É preciso esforço também e não esperar que o santo faça tudo sozinho.

De que forma a fé influencia na sua vida?

Renata – A fé pode ser traduzida em muitas palavras, cada um tem a sua interpretação. Para mim, significa confiança. Mais do que agradecer ou pedir, é preciso confiar. Até então, de tudo que já li e já busquei, só pela fé, pelo amor de Deus é que a vida tem sentido. Para estar vivo, é preciso acreditar em algo, em um mundo melhor, em pessoas melhores. A fé me faz querer ser melhor, amar mais ao próximo como a mim mesmo, ter mais compaixão e humildade ao saber que não sou mais do que ninguém e nem menos, porque o Espírito Santo que nos une é o mesmo.

Promessas de Renata

No Brasil, sempre fui devota de Nossa Senhora Aparecida, mas nunca fiz promessa pra ela. As promessas começaram na Irlanda, quando as dificuldades foram de fato maiores. Em 2015, mudei para cá a fim de estudar inglês. Um dia me atrasei para aula e a professora não me deixou entrar. Então fui passear e acabei parando na catedral de Saint Patrick, o padroeiro da Irlanda. O santo foi o primeiro a pregar o cristianismo nesta terra que era pagã. Ele era estrangeiro, foi escravizado aqui e, mesmo depois de fugir, voltou para converter o povo.

Renata e Eduardo

1. A primeira promessa foi feita para Saint Patrick. Ela e o marido não encontravam lugar para morar a um valor acessível, então, Renata pediu ao santo que os ajudasse a encontrar um. A resposta veio na mesma semana. Para agradecer, Renata foi à catedral rezar durante um mês, todos os dias.

2. N a segunda, ela queria muito ir para a Jornada Mundial da Juventude, na Polônia. Para ser voluntária, era necessário ficar lá por duas semanas, mas o trabalho só liberava uma. Em maio de 2016, foi até a catedral novamente e pediu auxílio a Saint Patrick. Em menos de três horas, tudo se resolveu. “Eu pedi e confiei e deu certo”, comemora. Passado o encontro na Polônia, para cumprir a promessa, Renata ficou quatro meses falando apenas inglês.

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3. Para a terceira promessa, pediu que Saint Patrick lhe ajudasse a conseguir cidadania italiana, que era seu sonho. “Reuni documentos, busquei, trabalhei duro pra pagar a tradução, apostilagem e acomodação. Fiz tudo que estava ao meu alcance, mas o processo não andava”, relembra. Quando viu que não dependia mais dela, recorreu a Saint Patrick novamente. Desta vez, com uma promessa mais radical, rasparia o cabelo todo se ele resolvesse a parada em dez dias. “Sim, ainda dei prazo! No terceiro dia, me responderam que o processo estava sendo finalizado. Em julho, completa um ano”, comemora. Todo o cabelo foi doado ao projeto Cabelaço, viajando via correio da Irlanda para o Brasil.

4. A última promessa foi em relação ao visto do marido, em novembro de 2017. A burocracia era tanta que já não havia mais o que fazer. “Algumas pessoas podem me julgar como desesperada, mas quando se é estrangeiro as dificuldades são dobradas”, conta. Em um mês, a graça foi alcançada e Renata e o marido cumprirão o acordo com o santo em julho próximo. “Vamos subir a montanha que ele costumava subir, mas de uma forma diferente, que não posso contar enquanto não cumprirmos”, finaliza.

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