Travessia mantém importância logística e histórica para a região

85 ANOS DA PONTE DE FERRO

Travessia mantém importância logística e histórica para a região

As mais de oito décadas que separam os anos de 1939 e 2024 se conectam pela inauguração da histórica Ponte de Ferro. A estrutura, mais do que uma ligação entre cidades, hoje, representa um símbolo de reconstrução e esperança

Travessia mantém importância logística e histórica para a região
(Foto: Fábio Kuhn)
Vale do Taquari

Primeira ligação entre Arroio do Meio e Lajeado. Cartão postal do Vale do Taquari. Símbolo de reconstrução. A histórica Ponte de Ferro carrega diferentes representações para a comunidade ao longo dos seus 85 anos, celebrados nesta terça-feira, 16. A estrutura começou a ser construída em 1927, em um contexto em que Arroio do Meio ainda era distrito de Lajeado. Quando a ponte foi concluída, em 1939, a cidade tinha se emancipado.

Para a época, a travessia representava a possibilidade de integração mais fácil entre duas regiões prósperas. Ao invés da barca que ali existia para fazer a passagem, houve a possibilidade de fazer a travessia a pé e viabilizar o transporte terrestre entre as regiões.

Presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cíntia Agostini reforça que a região nasce no entorno do rio. As mercadorias eram transportadas sobre as águas e a ligação de parte do Vale com a capital também era feita desta forma.

Símbolo de prosperidade

À medida que as comunidades tomaram outros territórios, acessando novos locais e habitando outras regiões, foi preciso ligar por terra esses municípios, para se ter uma melhor mobilidade. A partir de então exigiu-se pontes entre localidades que antes não se tinha acesso.

“Nesse contexto surge a nossa Ponte de Ferro, que foi fundamental na mobilidade de pessoas e mercadorias”, destaca Cíntia. A travessia estava diretamente ligada ao crescimento das cidades e foi, por muito tempo, a principal ligação entre a parte alta e baixa do Vale.

Depois, surgiram outras ligações, como a ponte da ERS-130 e a Ponte de Ferro se tornou uma travessia mais local. Após as cheias de maio, no entanto, quando as duas estruturas foram destruídas, essa antiga construção voltou a ser valorizada, já que, por meio da iniciativa privada, foi reerguida. Hoje, assim como há 85 anos, a Ponte de Ferro é a única estrutura que liga a parte alta e baixa do Vale do Taquari.

Ponte da reconstrução

Ponte foi reconstruída pela iniciativa privada após parte dela ser destruída na cheia de maio

Por um projeto estruturado pela Lyall Construtora com o apoio de outras empresas e profissionais voluntários, a travessia voltou a fazer parte do trajeto dos moradores locais no dia 9 de junho. A primeira ideia do empresário Roberto Lucchese, à frente da construtora, foi recolocar no vão, a parte da Ponte de Ferro destruída. Mais tarde, foi elaborado um projeto de reconstrução dessa estrutura, nos mesmos moldes da original.

Diferente da obra feita há 85 anos, que levou uma década para ser finalizada, a nova ponte levou duas semanas para ser colocada nas cabeceiras que permaneceram de pé após as cheias. Há 85 anos, a estrutura veio da Alemanha. Já a atual, foi construída dentro de empresas, de forma improvisada, e pelas mãos de voluntários. A construção custou cerca de R$ 1,5 milhão.

Na história

Hoje, além da função original de facilitar o transporte sobre o Rio Forqueta, a ponte ganhou outras conotações, ligadas à subjetividade das pessoas que transformaram a estrutura em um símbolo, além de um bonito cartão postal.

“As pessoas registram fotograficamente e escolhem a Ponte de Ferro como lugar para ancorar as memórias”, afirma o historiador, professor da Univates e coordenador do Museu de Arroio do Meio, Sérgio Nunes Lopes.

Ele diz que após a reconstrução da ponte danificada pelas cheias, a comunidade criou uma ligação ainda maior com a história da estrutura. Mesmo assim, em relação à sua manutenção como importância histórica e cultural, acredita ainda não haver clareza para o poder público.

“A ponte está em evidência por sua função pragmática atualmente. Só o tempo dirá se este zelo será mantido após o restabelecimento de outros acessos”, reforça.

Ponte como patrimônio

O historiador afirma que pelo viés sócio-histórico, um patrimônio é tudo aquilo que ajuda a representar uma região ou uma comunidade, servindo até certo ponto como um documento da história daquelas comunidades. Apesar de cumprir essa função, no entanto, não há projeto conhecido sobre o tombamento da Ponte de Ferro como tal.

Por outro lado, Lopes afirma ter protocolodo, como coordenador do Museu de Arroio do Meio, um ofício direcionado à Secretaria de Indústria Comércio e Turismo, Secretaria de Educação e Cultura e Coordenação de Cultura do Município de Arroio do Meio, para que fosse feita uma aproximação entre as duas administrações de forma a deslocar a parte da ponte que colapsou para uma área conjuntamente definida a fim de transformá-la em uma espécie de memorial.

“Esta medida seria um bom começo para se pensar conceitualmente o Patrimônio Histórico e Cultural como uma espécie de referência para a reconstrução, evitando que tudo caia no esquecimento”.

Com um debate sobre a possibilidade de destruir a estrutura feita pela iniciativa privada após as cheias e reconstruir a ponte de forma a permitir a passagem de veículos pesados e com duas pistas, a Setorial do Patrimônio Histórico, ligada ao Conselho Municipal de Política Cultural de Lajeado, preparou uma carta aberta em defesa da manutenção da Ponte de Ferro. Algumas entidades e serviços, como o Rotary Club de Lajeado Engenho e a Associação Literária do Vale do Taquari (Alivat) participaram do documento.

Mais de oito décadas

  • Antes da ponte
    A travessia entre Lajeado e Arroio do Meio era feita por balsa. A família Käfer, de Arroio do Meio, foi responsável pela barca por décadas.

  • 1927
    Início da construção da Ponte de Ferro, custeada pelos dois municípios. As pedras em arenito que formam o pilar central foram retiradas aqui na região e transportadas de carroça até o local da ponte.

  • 1929
    A obra foi paralisada por causa da falta de verba. Nos anos seguintes, os governos das duas cidades fizeram empréstimos e angariaram parte dos recursos junto à comunidade, em especial, no interior.

  • Anos 1970
    A Ponte de Ferro foi a única travessia sobre o Rio Forqueta até a construção da ERS-130, nos anos 1970. Aos poucos, a ponte apresentou deteriorações e teve de ser interditada nos anos 80, quando foi reformada. Anos depois, foi proibida a passagem de veículos de carga na estrutura e a Ponte de Ferro se tornou uma rota alternativa e conquistou status turístico na região.

  • Maio de 2024
    A força das águas do Rio Forqueta levou embora parte da estrutura no dia 2 de maio. Quando o nível do rio baixou, a histórica travessia estava arrasada. No fim do mês, a Lyall Construtora, de Lajeado, assumiu a reforma da Ponte de Ferro.

  • 3 de junho
    Cerca de uma semana depois do início do projeto, a primeira parte da estrutura foi transportada para as margens do Rio Forqueta. No dia 5, chegou a segunda parte.

  • 7 de junho
    Equipes trabalharam no içamento do último vão da Ponte de Ferro, conectando a estrutura nova com a antiga.

  • 9 de junho
    A histórica Ponte de Ferro é reinaugurada, restabelecendo a ligação entre Lajeado e a região alta do Vale do Taquari. A estrutura se tornou um símbolo de reconstrução e esperança para a região.

Acompanhe
nossas
redes sociais