Reforma abre debate sobre futuro da Ponte de Ferro

LAJEADO-ARROIO DO MEIO

Reforma abre debate sobre futuro da Ponte de Ferro

Intenção do governo de Lajeado em executar nova travessia sobre o Rio Forqueta onde estão os vãos gerou reações na comunidade. Grupo prepara carta em defesa da estrutura histórica. Ontem, primeira parte das peças do novo vão foram transportadas até o local

Por

Atualizado terça-feira,
04 de Junho de 2024 às 08:24

Reforma abre debate sobre futuro da Ponte de Ferro
Estrutura do novo vão sobre o Rio Forqueta começou a ser montada ontem à tarde. Previsão é concluir reforma até 12 de junho. (Foto: BIANCA MALLMANN)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Símbolo da integração e do turismo regional, a Ponte de Ferro está no centro das atenções. Em vias de ser recolocada sobre o Rio Forqueta após a destruição causada pela enchente do começo de maio, a histórica estrutura entre Lajeado e Arroio do Meio gera discussões na comunidade, sobretudo em relação ao seu futuro.

A polêmica reside na obra licitada pelo governo de Lajeado para a construção de uma nova estrutura para veículos leves e pesados. Para isso, no entanto, está prevista a demolição da travessia de ferro e madeira para erguê-la no mesmo ponto. Na sexta-feira, 31, foi anunciada a empresa vencedora da concorrência, a Medabil, de Nova Bassano, e isso gerou reações diversas.

Se por um lado o Executivo projeta concluir esta ponte em 100 dias a partir da ordem de início da obra, a reforma da Ponte de Ferro ganhou ampla aceitação de moradores, tanto pela preservação do monumento quanto por reconectar as duas cidades após mais de um mês de espera. Encampada pela iniciativa privada, deve ser entregue até o dia 10 de junho.

Pela importância das ligações, há movimentações e tratativas que visam a manutenção da estrutura histórica, sem impedir a construção da nova ponte. Enquanto uma teria um fluxo mais restrito de veículos, outra permitiria a passagem nos dois sentidos.

Transporte das estruturas de ferro até as margens do Forqueta mobilizou esquema de segurança. (Foto: Aldo Lopes)

Ontem, a primeira parte das estruturas que formarão o novo vão da Ponte de Ferro chegaram até o local da travessia. Escoltado pela Polícia Rodoviária Federal, o transporte saiu de Estrela e durou cerca de 1h30min, seguindo até as margens do Rio Forqueta. A última etapa da logística será amanhã, 5. A reforma é custeada pela Lyall e empresas parceiras, ao custo estimado de R$ 1,5 milhão.

Apelo histórico

Dentro de Lajeado, a Setorial do Patrimônio Histórico, ligada ao Conselho Municipal de Política Cultural, prepara uma carta aberta em defesa da manutenção da Ponte de Ferro. Algumas entidades e serviços, como o Rotary Club de Lajeado Engenho e a Associação Literária do Vale do Taquari (Alivat) devem subescrever o documento.

O arquiteto e urbanista e professor universitário, Augusto Alves, foi um dos voluntários que puxou a frente da iniciativa. Motivado pelo valor histórico da ponte, recorda que a travessia, por quase quatro décadas, foi a única ligação por terra entre Lajeado e Arroio do Meio.

“Mesmo depois da inauguração da ponte na 130, ela seguiu como um acesso importante. A ponte tem uma imagem simbólica e significativa, uma estrutura bonita e que se tornou um ponto de referência por isso. O pilar é de uma beleza incomparável. Então ela tem um simbolismo especial que não deve ser minimizado”, frisa.

Alves entende ser fundamental a região manter seus símbolos num momento onde muita história documentada foi perdida na enchente. “Precisamos preservar esses marcos. Já perdemos muita coisa para o progresso e agora a água veio e levou uma parte da ponte. Mas a outra se manteve em pé, e essa reforma mostra a garra da nossa população. Não faz sentido ignorar isso e colocá-la abaixo”.

Permanência

Do lado de Arroio do Meio, líderes comunitários defendem a permanência da ponte de ferro após a reforma. Para o corretor de imóveis e empresário do ramo turístico, Joner Frederico Kern, por se tratar de um patrimônio histórico e cultural da região, além de ter contribuído com o desenvolvimento do Vale do Taquari.

“Jamais posso concordar com a desativação e a demolição dela. Deve continuar como uma das pontes que interligam os dois municípios. Penso que elas devem estar lado a lado com as devidas distâncias entre uma e outra. Então, a Ponte de Ferro não pode ficar apenas na história, nos livros ou fotografias. Tem que permanecer”, frisa.

Na mesma linha, o empresário João Carlos Hilgert entende que a história da ponte precisa ser preservada. “Por muito tempo, ela foi a única ligação entre as duas cidades, e também de Porto Alegre com a região Norte do RS. Então tem uma importância estadual. Independente de ter uma nova ponte, os pilares originais estão lá. Precisamos restabelecer as ligações”, salienta.

Dentro deste contexto, Hilgert espera que a discussão sobre as travessias entre Lajeado e Arroio do Meio reacendam também um velho debate: o da ligação entre Arroio do Meio e Colinas, pelo Rio Taquari. “Pouco se fala, mas seria fundamental não apenas para a nossa cidade, mas também para a parte alta do Vale. Hoje, estamos vendo como um município depende do outro”.

Enquete

A discussão que envolve as pontes também tomou as redes sociais. Enquete feita pelo Grupo A Hora questiona internautas sobre o que pensam sobre as travessias sobre o Rio Forqueta. Até as 15h30min de ontem, mais de 2 mil votos haviam sido registrados. A opção de manutenção da Ponte de Ferro com a construção de nova estrutura ao lado recebeu ampla maioria dos votos, 88%. Já os 12% entendem que a melhor saída é a retirada dos vãos de ferro para instalação da nova travessia no mesmo local.

Das primeiras balsas às passagens improvisadas

As ligações entre Lajeado e Arroio do Meio:

  • BALSA
    – No início, só havia uma forma de ligação entre os dois municípios: pelo rio. As embarcações da família Käfer trafegavam pelas águas do Forqueta e também do Taquari. Por este meio de transporte, saíam e entravam as produções agrícolas, as riquezas das famílias e também as pessoas que se deslocavam de um município para outro;
  • PONTE DE FERRO
    – Iniciada em 1927, a construção da Ponte de Ferro foi concluída mais de uma década depois, em 1939. A obra, que chegou a ser interrompida dois anos após o início, foi custeada pelos dois municípios. Houve intensa mobilização política para viabilizar a travessia, considerada inovadora à época. Com a passagem por terra, a balsa foi desativada pouco tempo depois.
  • ERS-130
    – Antiga RS 11/38, a rodovia que liga Lajeado a Encantado foi construída na década de 1970. No trecho de Arroio do Meio, a nova ponte, com trânsito nos dois sentidos, possibilitou uma ligação inédita e mais rápida entre as duas cidades. Com o passar dos anos, o fluxo de veículos aumentou exponencialmente. As discussões sobre uma duplicação existem há cerca de 30 anos.
  • PASSADEIRAS
    – A enchente do começo de maio levou consigo parte das pontes de ferro e da ERS-130. Com isso, para reconectar provisoriamente as duas cidades, foram instaladas duas passadeiras do Exército sobre o Forqueta. Em determinados momentos, também foram utilizados barcos, balsa e botes.

Discussão retomada

  • A construção de uma nova ponte entre Lajeado e Arroio do Meio ganhou evidência no começo do ano passado, quando os prefeitos Marcelo Caumo e Danilo Bruxel iniciaram as tratativas. O objetivo era desafogar o tráfego de veículos da ERS-130;
  • Um projeto foi elaborado à época, com a obra avaliada em R$ 11,8 milhões. A ideia das administrações municipais era de repartir os custos com o Estado, que arcaria com metade do valor. O local para construção seria ao lado da Ponte de Ferro, que seria preservada;
  • O projeto, no entanto, não avançou na ocasião, pois, um mês após ser apresentado ao Piratini, o governo gaúcho precisou priorizar pontes destruídas pela enchente de setembro.

Acompanhe
nossas
redes sociais