“Na tragédia, o ser humano é a raça mais incompreensível da natureza”

Abre aspas

“Na tragédia, o ser humano é a raça mais incompreensível da natureza”

Thiago Evandro Amorim tem 36 anos e é binômio. No Corpo de Bombeiros, o binômio é o bombeiro que age em parceria com cães, procurando vítimas em grandes tragédias. Amorim reside em Santa Catarina com Moana, uma cadela labrador de 25 quilos que, na região, localizou o corpo de uma menina de 11 anos, soterrado a dois metros abaixo do solo, entre entulhos e lama. Thiago e Moana permaneceram sete dias no Vale do Taquari, fazendo varreduras no solo, e devem voltar à região para mais buscas

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“Na tragédia, o ser humano é a raça mais incompreensível da natureza”
Foto: ALDO LOPES
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Quantos resgates você e a Moana fizeram no Vale do Taquari?

Localizamos o corpo de uma vítima que estava desaparecida há 15 dias. Os cães atuam em cenários onde o homem não consegue localizar a vítima. Esse é um trabalho minucioso, onde cada loca- lização é extremamente técnica e difícil.

Qual história te marcou no Vale?

Uma mãe, junto de seu marido e sua filha de 11 anos, estava no telhado da residência quando tiveram que pular na água para tentar se salvar. A mãe sobreviveu quase dois dias no alto de uma torre de alta tensão, mas seu marido e sua filha estavam desaparecidos. Ela foi resgatada e estava há 15 dias sem notícias dos seus entes queridos. Sabia-se que estavam sem vida e a história ganhou grande comoção na comunidade local. Recebi uma área para realizar a varredura com a Moana e, nos primeiros 25 minutos de atividade, ela sinalizou a localização de uma vítima através de latidos. Tratava-se da menina de 11 anos que estava desaparecida. O corpo estava soterrado a dois metros abaixo do solo, entre entulhos e lama.

O que você aprendeu com as grandes tragédias?

Que o ser humano é a raça mais incompreensível da natureza. Pois, em momentos de tragédia, mostra o seu lado mais afetivo, mas também sua pior parte vem à tona.

Como é sua relação com sua parceira Moana?

Estamos juntos desde 2019, quando ela tinha 45 dias e foi selecionada para a função. Moana tem 5 anos e mora comigo desde os primeiros dias de vida. No Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, os cães moram com os condutores e somente o militar responsável pelo treinamento atua com o animal. É uma relação muito próxima, os cães são membros das famílias dos condutores. A Moana se alimenta de uma ração de alta qualidade, uma das melhores do mercado, com suprimentos necessários para seu alto ren- dimento. Além disso, tem acompanhamento veterinário para suplementar os ingredientes necessários para uma vida saudável. Temos acompanhamento veterinário disponível 24 horas por dia, 7 dias na semana.  Toda a estrutura necessária para a função e bem-estar do animal está disponível.

Na infância, qual foi sua ligação com animais?

Desde muito novo sou muito ligado aos animais. Lembro que, quando criança, dava bastante trabalho para o meu pai ao retirar cães da rua em situação de risco e precisar dar a eles um lar. Achava que teria que ajudar todos os animais, mas hoje entendo que nunca conseguirei fazer isso. Meu coração fica apertado em saber que animais morreram nesta tragédia, mas é o ciclo da vida e temos que entender as partidas. O mais importante é aprender com os acontecimentos e evoluirmos.

Quanto tempo permaneceram no Vale?

Cada equipe deslocada permanece de maneira autônoma na ocorrência por sete dias. Ao fim desse período, há um revezamento entre equipes, e quem atuou retorna à situação de aguardo por novo acionamento
e recuperação física. Estamos aguardando o acionamento para deslocarmos à região. Estamos prontos para servir a comunidade com um trabalho extremamente eficiente.

O que você aprendeu com a Moana?

Aprendi que tudo na vida tem um tempo e está programado para acontecer. Esse tempo não é o tempo dos homens, mas o tempo de Deus.

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