“O que eu tinha pra perder, eu perdi em setembro”

APÓS A TRAGÉDIA

“O que eu tinha pra perder, eu perdi em setembro”

Morador do bairro Carneiros, em Lajeado, Milton da Silva passou pelas cheias de setembro e novembro de 2023, quando perdeu a esposa para as águas. Desta vez, as perdas foram materiais e ele encontra na fé, a força para recomeçar

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Atualizado quinta-feira,
09 de Maio de 2024 às 10:42

“O que eu tinha pra perder, eu perdi em setembro”
Milton da Silva, morador do bairro Carneiros, em Lajeado Foto: Caetano Pretto
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

O bairro Carneiros de Lajeado foi afetado pela enchente mais uma vez. Na limpeza de uma das casas, próxima ao rio Taquari, estava Milton da Silva, 64. A residência dele já tinha sido atingida pelas cheias em setembro de 2023, depois em novembro e, nessa enchente, ficou destruída.

“O que eu tinha pra perder, eu perdi no ano passado, quando minha esposa morreu. Ela foi resgatada por um helicóptero e caiu na água, sem colete salva-vidas. Assisti ela morrer aqui de casa”, conta.

Dessa vez, Silva saiu às pressas com um frigobar e umas peças de roupa no carro, não conseguiu um caminhão para tirar os móveis de casa. Apesar da perda da residência e dos bens materiais, Silva diz que não se sente triste por isso. “Tudo que eu tinha para sofrer, eu chorei em setembro. Essa minha casa não tem importância, a gente tem que valorizar as pessoas. Isso aqui a gente pega uma pá e arruma”, enfatiza.

Milton trabalha na limpeza como forma de carinho ao local onde criou os sete filhos e os 19 netos, mas não pode retornar para a moradia. “Voltar aqui sempre vou, essa casa é uma lembrança da minha vida. E ainda vou fazer uma homenagem ali na frente, onde minha esposa morreu. Sei que vou ter saudades desse lugar.”

Com botas de borracha, limpava o lodo do chão. “Farei isso quantas vezes forem necessárias. Se Jesus carregou a cruz e passou por aquilo tudo, quem sou eu para reclamar de um pouco de lama? Se essa é a minha cruz, eu vou carregar.”

Silva fez aniversário no dia 29 de abril, semana em que a enchente começou. “Acho que foi um presente que a natureza me deu. Tudo poderia ser muito pior, eu poderia não estar aqui. Então agradeço.”

Mesmo em meio à tragédia, ele mantém o ânimo. “Adianta ficar bravo com uma coisa dessas? O negócio é resolver, não brigar. Precisamos cuidar do rio, da natureza, da pessoa humana. Deus está onde tem alegria, ele não mora na tristeza. Ele está aqui comigo, embora eu esteja sofrendo para tirar essa lama toda”, brinca.

Confira o depoimento clicando aqui.

 

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