Geração Z desafia empresas e exige quebra de paradigmas

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Geração Z desafia empresas e exige quebra de paradigmas

Mais conectados, com experiências diferentes na comparação aos de outras faixas etárias, jovens de até 24 anos lideram movimentos que questionam a visão de que o trabalho é o mais importante na vida

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Geração Z desafia empresas e exige quebra de paradigmas
Por terem nascido em uma sociedade já imersa pelas tecnologias, jovens nascidos no fim dos anos 1990 se familiariza com profissões mais próximas ao meio digital. (FOTOS FILIPE FALEIRO)
Vale do Taquari

Mais equilíbrio entre atividades profissionais e pessoais. Menos compromissos e exigências quanto às obrigações fora do expediente, com possibilidade de uma atuação mais flexível em relação aos horários. Nestas bases se sustentam algumas perspectivas de trabalho para os nascidos no fim dos anos 1990.

A chamada Geração Z começa a ocupar postos no mercado e traz consigo uma série de desafios para gestores e líderes. Em cima disso, especialistas advertem: as empresas precisam se preparar, rever paradigmas e até mesmo processos, sob risco de não ter mão de obra no futuro.

“O primeiro papel é o do líder. É preciso de treino para saber como equilibrar expectativas, cobranças e conversas com esse público. As empresas precisam ampliar o repertório em relação aos perfis dos funcionários. A diversidade é hoje muito estimulada. E o etarismo faz parte disso”, destaca a gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Bebidas Fruki, Ana Luísa Herrmann.

Na avaliação dela, as organizações precisam abordar valores e a cultura organizacional de maneira constante. “Esses movimentos estão sempre em evolução. Dentro da Fruki, tentamos evoluir em agilidade, em formas de se conectar e em competências. Em cima disso, adequamos a nossa linguagem com as equipes.”

Uma das mudanças foi os treinamentos. “Hoje fazemos cursos mais curtos, com uso de plataformas digitais. Nestes formatos, entram conceitos novos, como o de gamificação.

“Há uma transformação em curso. Pela primeira vez, temos gerações com visões diferentes no mesmo ambiente de trabalho. As experiências de vida dos Baby Boomers até os Millennials (Geração Y) não eram tão diferentes quanto as dos nascidos a partir dos anos 2000”, destaca o superintendente do Serviço Social da Indústria no RS (Sesi-RS), Juliano Colombo.

O principal ponto de choque, acredita, está na visão do trabalho. “Antes era trabalhar muito e, se der tempo, viver um pouco. Nesta nova geração, o desejo é ter mais equilíbrio. Então, querem cumprir a carga horária determinada e dar conta às outras partes da vida.”

Em cima disso, Colombo ressalta: “não quer dizer que as outras gerações não querem qualidade de vida. A diferença é que essa geração tomou à frente nessas cobranças.”

Equilibrar expectativas

Conseguir formas de manter a atenção dos mais jovens, para que se sintam parte das equipes e desafiá-los por meio de projetos. Essa é uma das metodologias adotadas pelo Senai para ser o elo entre indústria e jovens, conta o diretor da unidade no Vale do Taquari, Jerry Hibner.

Muitos dos alunos da escola técnica em Lajeado tem a primeira experiência profissional por meio do programa Jovem Aprendiz. “Procuramos orientar sobre os comportamentos esperados no ambiente profissional. Junto com isso, fazer com que tanto as aulas teóricas quanto as práticas tenham significado.”

Na experiência enquanto gestor do Senai Vale do Taquari, verifica mudanças drásticas entre as gerações. “De maneira geral, para além dos que estão conosco, percebo que eles estão mais ansiosos, com dúvidas quanto a metas e objetivos profissionais.”

De acordo com ele, o relato das empresas mostra isso. “Há muito imediatismo. Esses jovens querem resultados logo. Poucos pensam em construir uma carreira em uma empresa para chegar em alguma posição de destaque.”

Para além dos rótulos

Caíque Santos tem 24 anos e trabalha como técnico em informática. Começou pouco antes da pandemia. “Esses rótulos de geração eu não considero muito. Vai de cada pessoa, da criação, de como vê o mundo e como interage com as pessoas.”

Essa visão sobre os conceitos de gerações se aproxima da análise do diretor do Dale Carnegie Vale do Taquari, Gabriel Garcia. “A base que cada um tem é determinante na vida profissional. A família cumpre um papel importante. Tem quem consegue repassar para os filhos o que se espera no mundo lá fora.”

Para ele, as referências fazem diferença. “Quando se tem pais que trabalham e conseguem mostrar que todas as conquistas exigiram esforço, pode-se dar um retrato mais real do mundo do trabalho”, frisa.

Frases como: “não quero que eles passem pelo que passei. Eu não tive isso, então vou dar para meus filhos”, constroem um imaginário da recompensa antes do dever.

Para Garcia, não existe conquista sem esforço. “Facilitar demais o caminho tem como consequência dificuldades de lidar com o ‘não’, baixa resiliência, com pouca capacidade de adaptação e fragilidades emocionais.”

Visão dos jovens

Júlia Berteli é estudante de Publicidade e Propaganda. Atua meio turno na Univates e almeja trabalhar com mais equilíbrio entre profissão, treinamento e vida pessoal

Estudar e trabalhar. Junto com isso, ter tempo para atividades pessoais. Em diferentes esferas da vida, a aluna do curso de Publicidade e Propaganda da Univates, Júlia Berteli, 20, atua meio turno no Núcleo de Apoio Acadêmico da universidade.

“Há muitas oportunidades de trabalho para a minha geração. Assim como eu, muitos da minha idade começaram a trabalhar durante a pandemia. Isso nos levou a novas formas de trabalho, como o home office, que se mostrou eficiente em vários casos.”

O leque de áreas para atuar é maior hoje. Faz com que se tenha, inclusive, mais rotatividade. “É muito fácil encontrar alguma vaga. Existem diversos sites para isso. Quem se inscreve e fica ligado, consegue”, diz Manuela Kirchheim, 20.

Estudante do curso de Comunicação Social na Univates, no momento não trabalha. “O que mais me preocupa é o salário. Mas também é importante o ambiente, se vou gostar da atividade, dos colegas. Se vou começar algo, preciso, pelo menos, querer e estar animada.”

Cuidado com a ilusão

As referências da rede social, dos influenciadores digitais, também interferem na percepção do trabalho, acredita o CEO da BI Machine, Douglas Scheibler.

“Procuramos fazer movimentos e trazer profissionais com mais idade para criar impacto nos mais jovens. Mas minha base de contratação é de 22 e 23 anos.”

De acordo com ele, há aspectos positivos, em especial pela agilidade em aprender e aplicar. De negativo, sinaliza a falta de atenção e a impaciência.

“No passado, tínhamos como referência pessoas que estavam do nosso lado. Hoje são estranhos que fazem vídeos na internet, falando generalidades que muitos acreditam e tomam como verdade”, avalia Scheibler.

A estudante de Marketing, Isadora Petter Koerbes, 20, considera que as expectativas da Geração Z sobre o mercado de trabalho são muito altas. “E muitas vezes ilusórias”, ressalta.

Para ela, se cria uma realidade distorcida, muitas vezes pelas próprias redes sociais. Isadora acredita que o excesso desses canais de comunicação pela internet criam um imediatismo nos jovens, gera ansiedade e esgotamento mental. “Sinto que o desenvolvimento profissional exige humildade para aprender, disciplina para estudar e vontade para buscar novas formas de evoluir. Acredito que o resultado tende a vir com o tempo.”

PERFIL E CARACTERÍSTICAS

Estudos geracionais criaram quatro conceitos sobre as gerações.

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