“Meus pais tiveram que deixar a Alemanha e construir uma nova vida aqui no Brasil”

ABRE ASPAS

“Meus pais tiveram que deixar a Alemanha e construir uma nova vida aqui no Brasil”

Karin Melchers Arend, 72, nasceu na Alemanha, em 1951. Sua família embarcou para o Brasil em um navio francês em 1955, logo após a Segunda Guerra Mundial, chegando ao Rio de Janeiro em 22 de novembro de 1955. A família residia em Guaíba, Monte Alegre, Vila Melos e depois Bauereck, em Forquetinha, carregando consigo histórias de coragem e resiliência. Karin junto com o esposo Raul tem três filhos e quatro netos

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“Meus pais tiveram que deixar a Alemanha e construir uma nova vida aqui no Brasil”
Foto: Gabriel Santos
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Como foi a vida da família na Alemanha?

Nasci em 5 de maio de 1951 no Castelo de Dorneicheinbach, na Alemanha. Meu pai, Harry Melchers, serviu no quartel durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto minha mãe, Johanna, trabalhava como enfermeira. Casaram-se em 1948 e posteriormente trabalharam na agricultura, cuidando de uma propriedade em Melterirtz, próximo a Leipzig.

Como foi o pós-guerra na Alemanha?

O pós-guerra foi muito difícil, com escassez de alimentos e a ameaça da construção de um muro dividindo a Alemanha. Isso incentivou minha família a buscar uma nova vida no Brasil. Meu pai ficou receosos pois na época era proibido sair do país, mas ele já tinha irmãos morando aqui que incentivaram a família.

Como foi essa mudança?

Em dezembro de 1954, fiquei doente com meningite, o que coincidiu com a decisão de minha família de deixar a Alemanha. Tive que ficar isolada num quarto, recebia injeção a cada três horas. Neste período meu pai estava em casa e teve que fugir da polícia russa. Ele escapou pelos fundos da propriedade, correu por vários quilômetros.

Como vocês se reencontram?

Bom, ele na escapada encontrou um amigo que doou roupas e dinheiro para ele pegar um trem para Alemanha Ocidental. Em uma estação os russos chegaram a procurar ele, mas meu pai utilizava um boné no rosto e fingiu que estava dormindo. Assim ele passou despercebido pelos militares. Quando eu saí do hospital, minha mãe retornou para casa, ficou assutada. Depois de algumas semanas ela fez as malas e partimos para o Brasil.

Como foi a viagem e a chegada ao Brasil?

Meu pai já estava trabalhando aqui em uma fábrica de tratores. Em 2 de novembro de 1955, embarcamos no navio francês Lavosier, enfrentando desafios durante a viagem até chegarmos ao Rio de Janeiro, onde fomos recebidos pelo meu tio Hanz. Eu recordo que no navio havia um espaço grande com muitos brinquedos onde eu passava a maior parte do dia. A embarcação balançava muito e a maioria dos tripulantes ficavam com mal estar.

E a chegada ao Brasil?

Chegamos no Rio de Janeiro no dia 22 de novembro de 1955. Fizemos um passeio pela cidade e logo depois pegamos o avião para Porto Alegre.

Como foi a adaptação no Rio Grande do Sul?

Inicialmente difícil, especialmente por sermos os únicos alemães na região. Passamos por Guaíba e Monte Alegre antes de nos estabelecermos em Forquetinha. Meu pai e meu tio, naquela época, arrendaram 200 hectares de terra em Guaíba. Meu tio era revendedor de implementos agrícolas e meu pai trabalhava com a mão de obra. Naquele período a adaptação foi difícil, também sofremos bullying por ser os únicos alemães da região.

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