Comitiva conhece processo da Indicação Geográfica para valorizar a erva-mate

REGIÃO ALTA

Comitiva conhece processo da Indicação Geográfica para valorizar a erva-mate

Mais de 40 pessoas de sete municípios foram até o Vale dos Vinhedos para entender o processo de IG e Denominação de Origem e como o setor ervateiro pode ser beneficiado com a classificação

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Atualizado quinta-feira,
11 de Abril de 2024 às 08:36

Comitiva conhece processo da Indicação Geográfica para valorizar a erva-mate
Comitiva posa junto dos pesquisadores na Embrapa Uva e Vinho. (fotos: Matheus Giovanella Laste)

A Indicação Geográfica (IG) é uma classificação que indica que um produto é patrimônio regional, onde normas e regras específicas já estão organizadas para preservar esta identidade. Um dos critérios para alcançar esse reconhecimento é que o objeto já seja parte da cultura do povo, tenha uma história de vínculo com a comunidade e esteja dentro de uma determinada área demarcada. Um exemplo é o Vinho do Porto, em Portugal, e Champagne, na França.

Diante disso, é compreensível porque o Polo Ervateiro do Alto Taquari têm interesse em conquistar essa classificação para a erva-mate. Com esse objetivo uma comitiva com 45 pessoas de Arvorezinha, Ilópolis, Doutor Ricardo, Itapuca, Fontoura Xavier, Anta Gorda e Putinga (os municípios da Região Alta que a IG deve comportar) foram até Bengo Gonçalves para observar os próximos passos a serem tomados.

A viagem foi organizada pelo Associação dos Amigos e Parceiros da Erva-mate do Polo do Alto do Vale do Taquari (AA Erva-Mate), com um trabalho de articulação do Sebrae. Na comitiva estavam produtores, empresários, líderes comunitários, secretários e o prefeito de Ilópolis. Segundo o presidente da entidade, Clóvis Roman, a expectativa é conseguir a classificação em 2025. A região possui 73 agroindústrias de erva-mate registradas e concentra 55% dos produtores de erva-mate do estado.

Projeto-Piloto

Em janeiro o projeto-piloto para a busca dessa IG foi apresentado na Câmara de Vereadores de Ilópolis. Na ocasião, os presentes foram informados das potencialidades que a denominação pode valorizar ao setor. A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPI) iniciou em 2022 a pesquisa que objetiva investigar e apontar elementos relacionados ao território que singularizam a erva-mate na Região Alta. A metodologia visou à análise do território e do produto em suas dimensões agronômicas, climáticas, históricas e culturais.

Quando o projeto-piloto estiver finalizado, ele será encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O trabalho é desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) e SEAPI das áreas de ciências do solo, agrometeorologia, meteorologia e desenvolvimento rural, em cooperação com as extensionistas da Emater das áreas de tecnologia de alimentos e agronegócios.

O que é uma Denominação de Origem (DO)?

Considera-se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

Embrapa Uva e Vinho

A primeira parada da comitiva foi na Unidade Descentralizada da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O local desenvolve ações de pesquisa com uva, vinho, maçã e outras fruteiras de clima temperado. O grupo assistiu uma palestra sobre Denominação de Origens (DO) de Vinhos com o pesquisador Jorge Tonietto, um dos responsáveis pela conquista da IG do Vale dos Vinhedos em 2002.

“Tive acesso a alguns documentos em busca de estruturar a DO da erva-mate no Alto Taquari. E vi que é um trabalho muito consistente. E outro ponto que chamou atenção é a mobilização dos produtores e associação com os órgãos públicos. Pela nossa experiência sabemos que esse movimento conjunto é fundamental para o sucesso” salientou o engenheiro-agrônomo. O especialista aponta que por meio da classificação, o produto recebe um selo de diferenciação e qualidade que valorizará os produtores, o território e diferentes municípios. “Certamente trará uma nova luz de percepção a região, isso atrai outros negócios e investimentos, o que vai dinamizar o turismo. E estão no caminho certo”, disse Tonietto.

Aprovale – Vinícola Miolo

Durante palestra da Aprovale, houve degustação em tradicional vinícola

Ao fim da visitação a comitiva esteve na Vinícola Miola, onde puderam degustar um dos vinhos tradicionais a disposição e aprender sobre a trajetória da empresa e as mudanças geradas após conseguirem o IG para a região. O coordenador de enoturismo, Vinni Fernandes, revelou que se sentia honrado com a oportunidade de instruir o grupo. “Poder compartilhar como as denominações de origem foram desbravadas é muito bacana. E mostrar que ter esse selo de qualidade e procedência passa uma segurança para o consumidor porque ele percebe que é um produto único”, apontou.

Para o profissional que atua há quatro anos no empreendimento de Bento Gonçalves, essa visibilidade possibilitada pela classificação gera curiosidade que atrai meios de comunicação, apreciadores e turistas. “É muito bonito de ver esse ciclo girar. Conseguimos ter essa penetração de mercado e chegar realmente para quem o nosso produto é feito. E isso vale para diversas denominações”, comentou Fernandes. Para finalizar, os integrantes acompanharam a palestra do consultor técnico da Aprovale, Jaime Milan.

Perspectiva final

Produtores, empresários, secretários e líderes comunitários conheceram o processo de industrialização da vínicola Miolo

Ao fim do passeio, a empresária carioca e graduada em Geografia, Ariana Maia, uma das integrantes da AA Erva-Mate, pontuou sobre o quão enriquecedor a visita técnica foi para objetivo de todos. “Foi importante para situar os nossos produtores e empresários sobre todo trabalho que estamos realizando. É um processo moroso e prolongado, mas fazê-los vivenciar uma realidade que já funciona e que também se baseou em dificuldades, dá esperança e uma vontade a mais para fazer acontecer, porque é muito mais fácil aprendermos com atos concretos”, avaliou.

Apesar da complexidade evidente do processo para conseguir a IG, os próximos passos estão definidos. “Trabalhamos com três ciclos de análise da erva-mate, dois deles foram coletados e entregue a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Contratamos uma especialista para analisar as nossas erveiras para ir de encontro a essa classificação e entendimento do produto único que temos” salientou Ariana.

Para o presidente da entidade, agora é o momento de comunicar de forma eficiente o andamento do processo. “É preciso destacar todo esse trabalho desenvolvido pelo setor ervateiro. Planejamento, pesquisas, visitas técnicas, análise química e tudo mais precisa ser informado. É um caminho longo, porém ele está sendo trilhado e planejado de maneira muito organizada para conseguirmos o êxito de entregar a nossa documentação em 2025 e pouco tempo depois conquistarmos o selo da IG” afirmou Roman.

Análise das lideranças:

Prefeito de Ilópolis, Edmar Pedro Rovadoschi: “Foi ótimo trocar essa experiência junto com os produtores e empresários. Principalmente já que buscamos aumentar a qualidade e valorizar nossos produtos. A erva-mate tem muito potencial e todos ganhamos com isso”.

Presidente da Associação de Turismo de Arvorezinha (Atuar), Valdecir Bresciani: “Nós entendemos que o turismo será muito beneficiado com a IG do Alto Taquari. Vamos continuar apoiando o processo e compartilhando experiências”.

Proprietário da Buena Agroindústria de Erva-Mate e Diretor de Indústrias da Associação Comercial e Industrial de Ilópolis (Acii), Joel Gaio: “Vimos outra realidade que deixa claro que temos que subir patamares e agregar valor ao que fazemos. A DO vem pra mostrar isso e refletir no produto final. Nós ganhamos e o nosso consumidor também”.

Supervisor de compras da Ximango, Fabio Zerbielli: “Essa visita nos traz um despertar, um olhar diferente de um outro setor, de uma outra cadeia produtiva. Porém, devemos fazer a nossa parte e temos a certeza que estamos caminhando a passos lentos, mas firmes e seguros. E tomara Deus tenhamos êxito, porque queremos que todos os elos participem e desfrutem desse reconhecimento”.

Secretária de Agricultura e Meio Ambiente de Itapuca, Izabel Burille: “Foi um dia muito importante, buscamos conhecimentos essenciais para a criação da nossa IG, e com isso agregar valor tanto na propriedade quanto na produção final da erva-mate”.

Produtor e presidente do STR de Anta Gorda, Joelmo Balestrin: “A parte mais interessante foi perceber que a nossa equipe está tomando a iniciativa de fazer com que essa IG aconteça. Estamos no caminho certo, então isso nos motiva a continuar”.

Proprietário da Agroindústria Mate Vida de Putinga, Quender Fusiger: “É bastante informação nova mas é um processo que devemos buscar pensando no público a longo prazo. Ainda está um pouco distante, mas aí é um caminho que vamos percorrer para poder amadurecer e alcançar um resultado final interessante”.

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