Sociedade, escola e comportamento

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Sociedade, escola e comportamento

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Atualizado quinta-feira,
04 de Abril de 2024 às 11:33

Lajeado

Qual a diferença entre a educação dos anos 80 e 90 frente ao que se vive hoje? Tal pergunta abre diferentes tipos de resposta. Pode-se avaliar os valores sociais e dos grupos familiares; da rediscussão do papel do professor e da autoridade desta figura; do sucateamento da escola pública e da consequente perda de qualidade. Todas observações válidas e com algum grau de responsabilidade sobre os resultados atuais.

Agora, talvez a mais impactante seja de ordem tecnológica. Hoje a informação está em todo o lugar e na velocidade de um clique. Mudaram as relações, a forma das pessoas interagirem, da construção do aprendizado e, até mesmo, do entretenimento e do lazer.

Os acontecimentos em uma sala de aula da Univates, em espaço cedido ao Colégio Castelo Branco, nesse 1º de abril, servem como exercício para pensar todas essas variáveis.

Se não houvesse celular, imagens, gravações e propagação pelas redes da internet, tal briga jamais ultrapassaria os muros da escola. Isso é bom ou ruim? Aqui está o “x” da questão. Nenhum dos dois.

Nesta curva de 40 anos, todos que foram adolescentes lembram de episódios de brigas e conflitos em espaços de socialização. Não é novidade dizer que hoje continuam parte do cotidiano das instituições educacionais. A diferença hoje é que atinge muito mais pessoas.

Imagina você pai, você mãe: chega em casa do trabalho, senta-se no sofá para descansar um pouco. Como um sopetão, recebe vídeos do seu filho(a) em algum fato constrangedor e traumático.

Pois então, essa é a sociedade em que estamos. Imersa em um ambiente digital, que por vezes nos faz reagir de forma rápida, na emoção e sem o raciocínio necessário.

Retirar os celulares e evitar o uso em ambiente escolar resolveria? Longe disso. A briga, os conflitos, os excessos, a indisciplina, continuariam.

A escola é parte da sociedade. Ela reflete padrões vistos fora dela. Tudo interfere sobre o ambiente, ainda mais em uma instituição tão heterogênea como o Castelinho. As vivências, a relação familiar, os grupos de amigos e a classe social, tornam aquele pequeno universo em um espelho do que existe na rua, nos bairros, nos lares e nas cidades.

Os pontos de ruptura estão justamente no comportamento. Por isso chamo atenção para o uso racional dos aparelhos digitais. O que faz alguém preferir expor o colega a se levantar e evitar uma confusão naquelas proporções? Há responsabilidades em jogo. É preciso conhecer sobre ética, moral e legislação quando se acende um rastilho de pólvora de um conteúdo sensível direto para a grande rede de computadores.

A culpa é da mídia

Eu ouvi essa frase de diferentes pessoas, em especial de professores, depois da repercussão em que o vídeo da briga alcançou. E vou dizer, está errada. Primeiro que a mídia não é homogênea, ou um ser onipresente e onisciente que tudo sabe ou vê. É feita por pessoas, por organizações com diferentes linhas editoriais. Segundo, se não tivesse o filtro do jornalismo, a busca por informações para relatar o fato, traria mais versões e boatos.

Entendo que, quando algo dá errado, o ser humano sempre procura um culpado, um responsável. E, para esse fato do Castelo, não existe um, mas vários.

Passa por questões individuais entre os envolvidos; por uma invasão de ambiente escolar; falta de controle sobre quem entra e quem sai. Também por valores familiares e sociais, pela distância no conhecimento sobre cultura de paz e de inteligência emocional. Na própria reação das pessoas, em que por várias vezes parte do falso entendimento de que porrada resolve.

Enquanto repórter, digo e repito: antes de publicar, entender o que aconteceu. Outra coisa, jamais fazer algo apenas para caçar cliques ou audiência. Ser fiel ao princípio de jornalismo profissional, sem sensacionalismo, juízo de valor ou preconceitos. Como qualquer ser humano, posso acertar ou errar. Mas jamais por má-fé.

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