A vida é curta, a arte é longa

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A vida é curta, a arte é longa

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Essa semana o Dr. Wilson Dewes nos deixou. Sua mente inquieta e provocadora deixou marcas na Unimed, no HBB, na Univates, na FUNDEF e principalmente na comunidade. De todos os médicos atuantes no Vale do Taquari ele foi o que voou mais alto e o que mais longe fez chegar suas ideias e conhecimentos. Por esse motivo mais de uma vez me ofereci para escrever sua biografia. Ele sorria, agadecia e deixava a duvida no ar. Perdida a oportunidade, vou então contar a história dos dois maiores médicos (na minha opinião) que já viveram em Lajeado.

No final de 1923 Dr. Robert. Fleischhut iniciou seu consultório junto à Farmácia Schwarz, na Rua Júlio de Castilhos, nº 318. Nos fundos, estavam suas salas de cirurgia e recuperação. Ao lado, no segundo pavimento do prédio, o médico alugou um apartamento onde viveu por uma década. A dedicação ao doente e, sobretudo, a competência profissional acabaram por atrair doentes de todos os re­cantos do Estado e mesmo de Santa Catarina.

Foi esse trabalho que levou em 1930 católicos e protestantes lajeadenses, a se unir para construir um hospital. Eles tinham medo de perder os serviços médicos do Dr. Robert para uma cidade com hospital. Estrela que inaugurara um hospital um ano antes, fez aflorar ainda mais esses sentimentos. Em outras palavras, o antigo Hospital São Roque, atual HBB foi construído para manter Fleischhut na cidade de Lajeado.

Dez anos após a inauguração do hospital, já no final de 1943, Robert Fleischhut foi preso pelo governo Vargas. Seu crime: falar alemão! Nada mais que de repente, ficou proibido o uso de línguas alemã, italiana e japonesa, quer na fala, quer na escrita. Quem não sabia falar português, devia manter-se calado em qualquer local que estivesse. Corajoso, Fleischhut seguiu falando alemão com seus pacientes, a única língua que muitos entendiam.

Finda a guerra, em agosto de 1949, foi lhe prestada uma homenagem pelos 25 anos de exercício médico em Lajeado, registrado com uma placa de bronze no saguão de entrada do Hospital. No entanto, quis o destino que em 1951 durante viagem para Blumenau, sua esposa falecesse. Esse duro golpe fê-lo deixar o Hospital São Roque em 1953, para isolar-se em sua casa de praia. Ele prometeu voltar ao trabalho depois da formatura do filho Günter em medicina, promessa que ele cumpriu e retornou em 1957.

Pai e filho atraíram numerosos pacientes de toda a região e em 1968, Dr. Robert recebeu o título de Cidadão Lajeadense e veio a falecer 3 anos depois em Lajeado, em 24-5-1971. Por sua vez o Dr. Wilson Dewes formou-se médico pela UFSM em 1963 e alguns anos depois chegou a Lajeado onde foi trabalhar primeiramente como anestesista no ainda Hospital São Roque. Após algum tempo interessou-se pela otorrinolaringologia e em especial pela cirurgia de nariz e a de fissurados lábio-palatinos.

Aos poucos a ideia de montar uma instituição que atendesse esses últimos pacientes foi se moldando e vinte e cinco anos depois de sua chegada a Lajeado, Dr. Wilson Dewes fez um amplo relato sobre o Centro de Tratamento das Deformidades Craniofaciais na assembleia do HBB de 27-4-1992. Ele defendeu a criação de uma especialidade e de um serviço multiprofissional a ser implantado no Hospital Bruno Born. Sua proposta foi aprovada pelos presentes e foi marcada uma assembleia Geral Extraordinária para implementação da proposta. Em 16-10-1992, sob a presidência de Rubert Titze, a assembleia do HBB aprovou por unanimidade e autorizou o seguinte:

  • Autorização para Instituição de uma Fundação para Reabilitação das Deformidades Crânio-Faciais e doação do valor de Cr$ 10.000.000,00 (dez milhões de cruzeiros) em espécie à Fundação.

Infelizmente, o Dr. Dewes não sobreviveu o tempo suficiente para ver a obra que se materializa junto ao campus da Univates.

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