Visita presidencial ou comício político?

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

Visita presidencial ou comício político?

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A visita do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e da comitiva formada por diversos ministros do governo federal será lembrada como um dos dias mais emblemáticos da política do Vale do Taquari. Foi um movimento inédito em todo o Estado e restará vivo na memória de quem acompanhou o disputado ato.

Durante pouco mais de duas horas, Lajeado foi a “capital do país” e isso não é pouca coisa. É uma pena que este momento histórico está diretamente atrelado à nossa tragédia natural de setembro de 2023, a maior da história do Rio Grande do Sul, e que levou para sempre mais de 50 vidas e deixou um luto eterno no coração de cada morador da nossa região. Da mesma forma, é uma pena que o movimento da União ultrapassou alguns limites do bom senso, deixou diversas lacunas – como os incentivos às grandes empresas – e quase se transformou em um mero palanque político para enaltecer o PT e desprezar adversários.

Apesar da significância do evento, reforço, não podemos deixar de citar a impressão deixada por alguns integrantes do governo federal durante os discursos – e eu não coloco Lula neste grupo. Restou claro, assim como a seleção de quem poderia falar ou ingressar em determinados espaços do Teatro da Univates, que um dos objetivos do evento era gerar um comício para o PT divulgar as próprias ações, criticar o governo anterior e, por fim, inflamar militantes em solo gaúcho.

E foi justamente esse conjunto de posturas que instigou as constrangedoras e injustas vaias aos prefeitos de Lajeado e Estrela, e também ao governador Eduardo Leite (PSDB), além dos efusivos aplausos, gritos de “eu te amo Lula”, e outras manifestações com alto grau de histeria e nada apropriadas em um evento que deveria tratar tão somente das dores causadas pelas enchentes de 2023. Não por menos, o sentimento foi de “frustração” para muitos prefeitos.

Kalsing no PL. Mallmann no Podemos. E Ana no PP

O “Encontro da Direita dos Vales”, realizado na quinta-feira, em Estrela, também serviu para a filiação do vereador estrelense Luís Kalsing ao Partido Liberal (PL). Ele pertencia ao quadro do já extinto PTB. O PL também pretendia filiar o vereador Humberto Canigia (Republicanos), mas esse movimento não se confirmou. Outro vereador de Estrela, Márcio Mallmann confirmou a troca do PP pelo Podemos, e o ato oficial deve ocorrer no dia 22, durante encontro regional do Podemos. Já em Lajeado, Ana da Apama, a vereadora mais votada em 2020, vai trocar o MDB pelo PP.

“Hoje a política está medíocre”

Antes de visitar o Vale do Taquari, o presidente Lula (PT) discursou por mais de 30 minutos na sede da Fiergs, em Porto Alegre. Por lá, pediu desculpas ao saudoso Leonel de Moura Brizola por não ter acreditado no projeto do Ciep na década de 90, e elogiou a postura política do eterno pedetista. “Muitos educadores, inclusive do PT, eram contra o Ciep. E a gente nunca adotou o Ciep. Agora é unanimidade discutir a escola em turno integral”. O petista também relembrou os embates com o gaúcho de Carazinho. “Ele me chamava de ‘sapo-barbudo’. Mas sinto falta dele. Pessoas como ele fazem falta na política. Hoje a política está muito medíocre”, disparou. Por fim, criticou o governo anterior e chamou a atenção para, segundo ele, uma “extrema-direita violenta, raivosa e bruta”.

Bolsonaro falou com militantes

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou as expectativas de correligionários do Partido Liberal (PL) e outros agentes da direita regional e participou, por meio de videochamada, do evento “Encontro da Direita dos Vales”, realizado na quinta-feira, no Estrela Palace Hotel. O movimento serviu para realinhar as estratégias para o pleito municipal de outubro. E a breve e virtual participação do líder máximo da direita nacional certamente inflamou a vontade dos partidários.

Republicano, Leite pediu vacinas a Lula

O governador Eduardo Leite (PSDB) foi muito elogiado pela sua participação no encontro com o presidente Lula (PT) em Porto Alegre e em Lajeado. Na capital gaúcha, citou a importância de uma relação “leal e republicana” com o governo federal, e observou, de forma direta, o momento polarizado da política nacional. “Não pensamos igual. E isso é legítimo em um regime democrático que todos se empenharam para construir no passado e defender no presente. E independente de diferenças pontuais, das formas de organização da máquina pública e de pensamentos, pode ter certeza que eu torço para o senhor, o seu governo e o Brasil”. Um discurso republicano e de quem já vislumbra o pleito nacional de 2026. Por fim, pediu atenção especial à dívida dos Estados e cobrou doses de vacina contra a dengue. Em Lajeado, e diante das vaias do público a ele e alguns prefeitos da região, reforçou que a tragédia não pode ser contaminada por partidos ou ideologias.

TIRO CURTO

– Prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo (PP) foi o agente público mais vaiado pelo público presente ao Teatro da Univates, durante encontro com Lula. Ele inclusive tentou, sem sucesso, refutar uma foto com o presidente.
– Logo após o evento, Marcelo Caumo (PP) utilizou as redes sociais para tratar do assunto. “É simbólica a vaia recebida dos correligionários do PT”, escreveu. Para muitos, ele saiu ainda mais fortalecido em uma região com predominância de eleitores mais alinhados com a direita.
– Caumo também utilizou as redes sociais para criticar o evento em si. “É decepcionante que uma enchente que levou mais de 50 vidas, a casa e o trabalho de milhares de pessoas tenha se tornado um grande palanque político. O Vale do Taquari não precisa disso. Precisamos de celeridade e da efetiva entrega dos tão prometidos recursos”.
– Prefeito de Estrela, Elmar Schneider (MDB) também demonstrou frustração com o evento. Ele aguardava 300 casas populares, e o governo federal anunciou 100. “Foi um comício”, resumiu.
– Por fim, é preciso reforçar a articulação do PT regional, em especial o Secretário Institucional da Secom do governo federal, Maneco Hassen, e o coordenador regional Jones Fiegenbaum. Trazer uma comitiva de tamanha representatividade também é uma forma de manter viva a comoção regional e reforçar a urgência por recursos e políticas públicas ao Vale do Taquari.

 

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