Do início promissor à decepção

SITUAÇÃO DA BR-386

Do início promissor à decepção

Duplicação do primeiro trecho começou em 2021 e ritmo acelerado surpreendeu a região e fez com que se criasse uma expectativa de que seria concluída em tempo recorde. Nesta semana, a obra foi suspensa pela segunda vez

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Do início promissor à decepção
Há mais de duas semanas a obra em toda extensão de Marques até Estrela foi interrompida. Expectativa é que próxima empresa seja anunciada durante reunião do conselho de usuários, na quarta-feira, dia 13. (Foto: Filipe Faleiro)
Vale do Taquari

Quase 500 operários, chegada de dezenas de máquinas, frentes de trabalho nos três turnos. Marques de Souza vivenciou como uma obra de grande porte interfere na empregabilidade, nos serviços e na movimentação econômica.

O ano era 2021. Depois de um hiato de quatro meses devido a falta de licença ambiental, a Eurovias (contratada pela CCR ViaSul para o projeto de duplicação dos mais de 20 quilômetros até Lajeado) começou a maior obra de infraestrutura no RS em julho.

Pelo prazo, seriam 24 meses de intervenções. Passados três anos, pairam muitas dúvidas sobre a possibilidade de término da obra ainda em 2024. “A rodovia mudava todo o dia. Era um ritmo de obra muito intenso. Acreditávamos que logo estaria pronto. Nunca imaginamos tantos transtornos”, relembra o vice-presidente de Relações Institucionais da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Nilto Scapin.

Esta semana foi marcada pela segunda paralisação da obra. Mais uma vez devido a desacertos sobre o contrato entre concessionária e terceirizada. Com a rescisão encaminhada, agora a CCR ViaSul faz um diagnóstico das obras inacabadas para repassar à próxima empresa responsável por finalizar o trecho.

“A obra deveria estar pronta. Nosso inconformismo é devido a maneira como a CCR vem tratando esse contrato. É inaceitável. Teremos uma reunião para avaliar os primeiros cinco anos de concessão, mas não há como avaliar. Com tudo incompleto, como vamos saber o que precisa de ajuste”, critica o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo.

A CCR Viasul venceu o leilão para gerir as BRs 386, 101, 290 e 448 em novembro de 2018. O contrato faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), e a empresa terá que investir mais de R$ 7,8 bilhões em 30 anos de concessão. No primeiro trecho, de Marques de Souza a Lajeado, o investimento previsto se aproxima dos R$ 230 milhões.

Relação tumultuada

A primeira paralisação foi de março até junho do ano passado. O motivo foi a reanálise do contrato. Mais de 45 dias depois, um novo acordo foi elaborado e a Eurovias retornou para finalizar a obra.

Naquela ocasião, o primeiro trecho estava cerca de 70% concluído. Pouco mais de seis meses depois, o impasse entre as empresas retornou e culminou com a rescisão em comum acordo. O anúncio ocorreu nessa quarta-feira.

Os cerca de 100 funcionários da Eurovias foram chamados para uma reunião, onde foi comunicado o fim das intervenções da empresa na BR-386.

A Eurovias era responsável por dois serviços; além dos 20 quilômetros de duplicação, também fazia parte da ampliação das pistas e acessos entre Lajeado e Estrela.

Congestionamentos, atrasos e prejuízos

O ritmo lento na duplicação começou a ser percebido no início deste ano. O número de trabalhadores esperado ficava perto dos 360 profissionais. No entanto, menos de um terço deste total atuava de Marques até Estrela (somado o trecho de ampliação).

Com horários de trabalho em dois turnos, o resultado diário era de congestionamentos. Ônibus intermunicipais que passam pela rota da BR-386 atrasados na chegada às rodoviárias de Lajeado e Estrela, causando transtornos para passageiros e motoristas. Para a logística regional, o transporte de produtos também se tornou mais caro. “O prejuízo é para o Vale e para todo o RS”, diz o empresário e representante do Sindicato das Empresas de Transporte (Setcergs), Diego Tomasi.

Análise dos primeiros cinco anos

Na próxima quarta-feira, 13 de março, às 10h, na sede da concessionária, em Porto Alegre, ocorre a reunião sobre os cinco primeiros anos de administração da CCR ViaSul. O Vale do Taquari tem dois representantes.

Há projetos protocolados e outras demandas que serão apresentadas. Conforme o presidente da Câmara da Indústria e do Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa, o documento é elaborado pelo grupo de trabalho formado na terça-feira. “Ainda trabalhamos no material mais completo para levar ao Ministério dos Transportes, ANTT e com cópia à CCR”, diz.

Obras paradas e dúvidas

No trecho urbano de Lajeado a entrada de Estrela, diversas melhorias paralisadas são alvo de questionamentos.

Problemas nos acessos, falta de retornos e vias paralelas são os pontos analisados. Confira os principais:

Ampliação da ponte sobre o Arroio Forquetinha

Foto: Filipe Faleiro

Há mais de 15 dias parada. Entrada pela pista principal em direção a Marques de Souza está sinalizada. Mesmo assim, o estreitamento da pista deixa o tráfego mais lento.

Túnel de retorno em Conventos

Foto: Bianca Mallmann

Uma das obras mais atrasadas. Fica nas proximidades da PRF. A unidade tem que ser demolida. Preocupação é quanto a altura da passagem para caminhões bitrens. Em Marques de Souza, veículos ficaram entalados.

Viaduto entre Montanha e Olarias

Foto: Filipe Faleiro

A segunda ligação entre os bairros é usada mesmo sem ter sido liberada. Rua paralela dos dois lados ainda não foi concluída. Ferros da estrutura do viaduto estão à mostra.

Passagem inferior no Montanha

Foto: Filipe Faleiro

Considerada a mais complexa entre as obras inacabadas, também é a que levará mais tempo para ser concluída. A densidade dos muros para a passagem superior pela BR-386 está em análise pela engenharia da CCR. Sem previsão para liberar a passagem pela parte de baixo, entre os bairros.

Acesso secundário pela Bento Rosa

Foto: Filipe Faleiro

Um dos temas mais polêmicos. A remodelação do trevo elimina as alças atuais e cria duas novas, uma para ingressar na cidade, nas imediações da Apomedil, e uma saída ao lado da concessionária Peugeot. Na visão de técnicos da região, o excesso de curvas tornaria o fluxo de caminhões e ônibus confuso e perigoso.

A equipe da CCR defende que manter como está hoje não é viável, pois não atende o raio de giro mínimo tanto para acesso ao município, quanto para ligação à BR.

Rótula de acesso para São José, em Estrela

Foto: Filipe Faleiro

Tanto o trevo em direção a localidade São José, em Estrela (rota que vai a Colinas), está com obras interrompidas. Faz parte do projeto de ampliação do fluxo. Futura empresa que fará a duplicação também assume trecho urbano de Estrela.

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