Quase 500 operários, chegada de dezenas de máquinas, frentes de trabalho nos três turnos. Marques de Souza vivenciou como uma obra de grande porte interfere na empregabilidade, nos serviços e na movimentação econômica.
O ano era 2021. Depois de um hiato de quatro meses devido a falta de licença ambiental, a Eurovias (contratada pela CCR ViaSul para o projeto de duplicação dos mais de 20 quilômetros até Lajeado) começou a maior obra de infraestrutura no RS em julho.
Pelo prazo, seriam 24 meses de intervenções. Passados três anos, pairam muitas dúvidas sobre a possibilidade de término da obra ainda em 2024. “A rodovia mudava todo o dia. Era um ritmo de obra muito intenso. Acreditávamos que logo estaria pronto. Nunca imaginamos tantos transtornos”, relembra o vice-presidente de Relações Institucionais da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Nilto Scapin.
Esta semana foi marcada pela segunda paralisação da obra. Mais uma vez devido a desacertos sobre o contrato entre concessionária e terceirizada. Com a rescisão encaminhada, agora a CCR ViaSul faz um diagnóstico das obras inacabadas para repassar à próxima empresa responsável por finalizar o trecho.
“A obra deveria estar pronta. Nosso inconformismo é devido a maneira como a CCR vem tratando esse contrato. É inaceitável. Teremos uma reunião para avaliar os primeiros cinco anos de concessão, mas não há como avaliar. Com tudo incompleto, como vamos saber o que precisa de ajuste”, critica o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo.
A CCR Viasul venceu o leilão para gerir as BRs 386, 101, 290 e 448 em novembro de 2018. O contrato faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), e a empresa terá que investir mais de R$ 7,8 bilhões em 30 anos de concessão. No primeiro trecho, de Marques de Souza a Lajeado, o investimento previsto se aproxima dos R$ 230 milhões.
Relação tumultuada
A primeira paralisação foi de março até junho do ano passado. O motivo foi a reanálise do contrato. Mais de 45 dias depois, um novo acordo foi elaborado e a Eurovias retornou para finalizar a obra.
Naquela ocasião, o primeiro trecho estava cerca de 70% concluído. Pouco mais de seis meses depois, o impasse entre as empresas retornou e culminou com a rescisão em comum acordo. O anúncio ocorreu nessa quarta-feira.
Os cerca de 100 funcionários da Eurovias foram chamados para uma reunião, onde foi comunicado o fim das intervenções da empresa na BR-386.
A Eurovias era responsável por dois serviços; além dos 20 quilômetros de duplicação, também fazia parte da ampliação das pistas e acessos entre Lajeado e Estrela.
Congestionamentos, atrasos e prejuízos
O ritmo lento na duplicação começou a ser percebido no início deste ano. O número de trabalhadores esperado ficava perto dos 360 profissionais. No entanto, menos de um terço deste total atuava de Marques até Estrela (somado o trecho de ampliação).
Com horários de trabalho em dois turnos, o resultado diário era de congestionamentos. Ônibus intermunicipais que passam pela rota da BR-386 atrasados na chegada às rodoviárias de Lajeado e Estrela, causando transtornos para passageiros e motoristas. Para a logística regional, o transporte de produtos também se tornou mais caro. “O prejuízo é para o Vale e para todo o RS”, diz o empresário e representante do Sindicato das Empresas de Transporte (Setcergs), Diego Tomasi.
Análise dos primeiros cinco anos
Na próxima quarta-feira, 13 de março, às 10h, na sede da concessionária, em Porto Alegre, ocorre a reunião sobre os cinco primeiros anos de administração da CCR ViaSul. O Vale do Taquari tem dois representantes.
Há projetos protocolados e outras demandas que serão apresentadas. Conforme o presidente da Câmara da Indústria e do Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa, o documento é elaborado pelo grupo de trabalho formado na terça-feira. “Ainda trabalhamos no material mais completo para levar ao Ministério dos Transportes, ANTT e com cópia à CCR”, diz.
Obras paradas e dúvidas
No trecho urbano de Lajeado a entrada de Estrela, diversas melhorias paralisadas são alvo de questionamentos.
Problemas nos acessos, falta de retornos e vias paralelas são os pontos analisados. Confira os principais:
Ampliação da ponte sobre o Arroio Forquetinha
Há mais de 15 dias parada. Entrada pela pista principal em direção a Marques de Souza está sinalizada. Mesmo assim, o estreitamento da pista deixa o tráfego mais lento.
Túnel de retorno em Conventos
Uma das obras mais atrasadas. Fica nas proximidades da PRF. A unidade tem que ser demolida. Preocupação é quanto a altura da passagem para caminhões bitrens. Em Marques de Souza, veículos ficaram entalados.
Viaduto entre Montanha e Olarias
A segunda ligação entre os bairros é usada mesmo sem ter sido liberada. Rua paralela dos dois lados ainda não foi concluída. Ferros da estrutura do viaduto estão à mostra.
Passagem inferior no Montanha
Considerada a mais complexa entre as obras inacabadas, também é a que levará mais tempo para ser concluída. A densidade dos muros para a passagem superior pela BR-386 está em análise pela engenharia da CCR. Sem previsão para liberar a passagem pela parte de baixo, entre os bairros.
Acesso secundário pela Bento Rosa
Um dos temas mais polêmicos. A remodelação do trevo elimina as alças atuais e cria duas novas, uma para ingressar na cidade, nas imediações da Apomedil, e uma saída ao lado da concessionária Peugeot. Na visão de técnicos da região, o excesso de curvas tornaria o fluxo de caminhões e ônibus confuso e perigoso.
A equipe da CCR defende que manter como está hoje não é viável, pois não atende o raio de giro mínimo tanto para acesso ao município, quanto para ligação à BR.
Rótula de acesso para São José, em Estrela
Tanto o trevo em direção a localidade São José, em Estrela (rota que vai a Colinas), está com obras interrompidas. Faz parte do projeto de ampliação do fluxo. Futura empresa que fará a duplicação também assume trecho urbano de Estrela.