A insistência na mesmice

Opinião

Guilherme Cé

Guilherme Cé

Economista

A insistência na mesmice

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Motivos para o Brasil mudar nas últimas décadas não faltaram. Escândalos de corrupção, políticas públicas mal desenhadas ou executadas, desperdício de dinheiro público. Um país com excesso de amarras e despesas que cada vez sufoca mais quem produz, gera emprego, renda e, também, o simples trabalhador. Mas parece que tudo isso não foi suficiente para o país sair da mediocridade. Avançamos em alguns pontos, é verdade. Mas quando nos comparamos com o restante do mundo e, principalmente, com países similares ao Brasil, nos vemos ficando para trás.

Os eventos dos últimos dias – tal qual os acontecimentos da década passada – são apenas mais motivos que nos deveriam fazer romper a mesmice. É desalentador que o nosso passado recente, o nosso presente e, ao que parece, o nosso futuro esteja restrito a figuras como Lula e Bolsonaro. É verdade que a mediocridade não se resume a esses dois personagens, tampouco a campo ideológico específico ou político A ou B. Mas isso não deveria ser desculpa para continuarmos insistindo no mesmo, sob o surrado argumento de que é a única opção. Sim, eu sei que criticar o lulopetismo ou o bolsonarismo é um caminho perigoso nestes trópicos. “Isentão” é apelido carinhoso que, provavelmente, também virá de alguns que se prestarem a ler esse simples texto de opinião. Tudo certo, rotulem como quiserem. Como se não fossem os próprios polos que se alimentam e fortalecem.

Alguns dirão – como sempre – que não há outra escolha possível, que quem não escolhe A escolhe B. Ou que nenhuma outra alternativa serve (afinal, bom mesmo só o nosso político preferido). Repito: sair da mesmice não necessariamente nos fará fugir de outras péssimas escolhas e é preciso sempre estar alerta para isso. Mas também é preciso saber que outros caminhos são possíveis, existem e devem ser construídos. Nossa saída da mediocridade passa, antes de tudo, por se convencer de que não existem salvadores da pátria. Gostemos ou não a política ainda é a arte do possível e, muitas vezes, é um jogo em que é preciso ceder para conseguir avançar. Mas isso não deveria ser desculpa para simplesmente relativizarmos toda e qualquer ação do nosso político favorito, enquanto somos inflexíveis com qualquer outra alternativa.

Esse meu texto provavelmente não terá o poder de mudar nada. Talvez nem pra reflexão sirva. Mas, mais uma vez, prefiro o fazer. Prefiro escrever e desagradar ambos os pólos do que fingir que lado A ou B é vítima do presente ou do passado. Vítima é a sociedade brasileira que acreditou e parece seguir acreditando que existem apenas dois caminhos. Porém, nesse caso, somos vítimas das nossas próprias escolhas. Reclamamos, mas temos feito por merecer. Até quando?

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