Ensaio sobre a cegueira

Opinião

Carlos Schäffer

Carlos Schäffer

Advogado

Ensaio sobre a cegueira

Por

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José Saramago foi um famoso escritor português, que faleceu no dia 18 de junho de 2010 na cidade de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, na Espanha, onde morava. Era filho de camponeses, e antes de se dedicar à literatura trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção de uma editora. E foi comunista até morrer.

Escreveu diversos livros que tiveram enorme sucesso. Um dos quais, de 1965, leva o título de Ensaio Sobre a Cegueira.

Nesse livro, ele conta a história de um motorista que, parado num sinal de trânsito subitamente constata que está cego. Foi o primeiro caso de uma doença que acaba se espalhando de forma incontrolável pela cidade. A cegueira, que ele denomina de “branca”, ´´ é contagiosa. Os cegos são postos em quarentena e acabam constatando que a essência de sua humanidade fica reduzida a uma viagem às trevas. Os cegos precisarão aprender a viver de novo, com suas necessidades mais básicas dependendo do auxílio de outros, do afeto e carinho de terceiros, essas coisas que a gente conhece bem.

Em que pese as muitas verdades mencionadas na história quanto ao desconhecimento das pessoas sobre o que está acontecendo no mundo, a ideia da cegueira generalizada me parece ter um objetivo claro: o ideológico, já que, de certa forma, ele critica a sociedade atual entendendo que ela está dominada cada vez mais pelo capitalismo.

Saramago sempre defendeu a ditadura cubana. Mas no ano de 2003, de forma surpreendente, ele rompeu com o regime, e escreveu uma carta aberta à Fidel Castro, criticando a execução de três dissidentes que queriam fugir para os Estados Unidos.

A carta começava assim: “Até aqui cheguei. De agora em diante, Cuba seguirá seu caminho e eu fico onde estou.” E onde é que ele estava naquele momento? Estava num tempo da história em que o regime cubano já havia executado – desde que assumiu o poder em 1959 – mais de 3 mil pessoas. Vale dizer que com o assassinato de até 3 mil pessoas Saramago concordou, três a mais do que isso o indignaram.

Teria Saramago sido curado da sua cegueira? Penso que não. Ele próprio se reconhecia como um militante hormonal, a doença estava no seu sangue, não tinha cura, pois. A mensagem contida no livro é a da cegueira do tipo de pessoas que não enxergam o que está acontecendo mundo afora. Nesse ponto específico lhe dou razão. Mas poderia ter sido bem mais claro em relação ao que pretende fazer o comunismo com a humanidade.

No ano de 1998 Saramago recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Recentemente, no dia 22 de janeiro deste ano, um sociólogo de quem não lembro o nome reuniu-se com o ministro dos Direitos Humanos com o objetivo de propor que o governo federal iniciasse uma campanha para que o “padre” Júlio Lancelotti receba o Nobel da Paz. Presumo que todos já conhecem o que faz o referido “padre”. Na mesma reunião foi também aventada a possibilidade de ser providenciada uma audiência com o papa Francisco para buscar apoio à indicação.

A doença da cegueira de que trata Saramago no seu livro está, definitivamente, se ampliando pelo mundo, e transformando-se numa verdadeira pandemia.

No final da história, Saramago, no diálogo que o personagem mantém com uma mulher, chega à seguinte conclusão: “Por que foi que cegamos. Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso. Diz. Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem.”

Nessa parte ele está certo.

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