Sentados na calçada, na esquina entre as ruas Tiradentes e João Abott, em Lajeado, cinco amigos de 13 a 16 anos tiveram a ideia de criar uma escola de samba. Na época, outros três grupos já eram famosos pelos desfiles que subiam a Júlio de Castilhos. O carnaval era forte na cidade e, no dia 5 de janeiro de 1976, há 48 anos, a Escola de Samba Cascata foi fundada para integrar a festa feita no município.
Marco Antônio Bald e Carlos Schroeder estavam entre os jovens fundadores. “Naquela época, a grande escola era o Maracangalha. A mídia nos chamava de preguinhos do Cascata, justamente porque era só gurizada nova”, lembra Bald.
A primeira apresentação do grupo foi em um carnaval infantil no Clube Tiro e Caça (CTC), para depois integrarem a avenida, onde ficaram por cerca de 10 anos. “O carnaval até hoje é muito lembrado pela grandiosidade. Isso foi uma grande escola de liderança, de responsabilidade. Nos fez crescer pessoalmente e nos ajudou profissionalmente”, diz Bald.
Nesses anos, o Cascata conquistou o primeiro lugar em cinco carnavais. As grandes escolas que desfilavam, além do Cascata e do Maracangalha, eram Soreba, Explode Coração e Deixa Sambar, todas da cidade. “Houve épocas em que se criou o chamado Carnaval Regional e também nos apresentamos em Estrela, Roca Sales e outros municípios da região”, conta Schroeder.
Perde forças
A vida social dos carnavalescos se resumia ao carnaval durante todo o ano. Nas férias, os presidentes de comissões deixavam de viajar ou de estar com a família para se dedicar às escolas e, com o tempo, o tamanho dos eventos fez com que o orçamento aumentasse. As equipes também não foram renovadas, já que havia poucos sucessores, e a junção desses elementos fez com que as festividades perdessem força.
O advogado Giovani Lucian integrou o Cascata alguns anos mais tarde do que Bald e Schroeder, e participava da ala de composição dos sambas-enredos. Ele conta que a falta de apoio financeiro dos municípios também esmoreceu a festa na região. “Foi uma desistência, uma decisão coletiva”.
Para se manter, o Cascata então virou um bloco de carnaval e é o único daquela época ainda ativo na cidade. Os carnavalescos lembram que no início dos anos 2000 a festividade até chegou a voltar e a escola participou de outros desfiles de rua, competindo contra novos grupos como a Mocidade São Cristóvão.
Mesmo 48 anos depois, o Cascata ainda se destaca por uma das alegorias que fez sucesso nos anos 70 e 80, a bateria, e se apresenta no sábado, 17, no CTC, para a comemoração do bloco.
De volta às ruas
Para contornar a falta de verba e de pessoas para ajudar na organização, as escolas se adaptam e criam alternativas para continuar os festejos. Neste ano, Estrela não terá o tradicional desfile, mas uma roda de samba marca a data. O carnaval de rua ainda resiste em Venâncio Aires, Vespasiano Corrêa e Bom Retiro do Sul. Depois de cinco anos, Taquari também volta a celebrar nas ruas da cidade, no ano em que o Batutas da Orgia completa seis décadas de história.
Carnavalesco do município, Chico Passos, 57, é um dos responsáveis pelo carnaval de Taquari. Em um dos ginásios da cidade, ele, a esposa e o filho finalizam os últimos figurinos para o desfile que passa pela Sete de Setembro em direção à Lagoa Armênia.
Para fugir do feriado, Taquari optou por um carnaval fora de época, marcado para 1º a 3 de março. Desta vez, apenas o Batutas se apresenta. Para os próximos anos, a ideia é continuar colocando as escolas na avenida, também com participação da escola de samba Irmãos da Opa.
Passos tem quase um par de anos de experiência com carnavais e já esteve na produção de desfiles de escolas como a Imperatriz Dona Leopoldina, de Porto Alegre, com quem foi campeão.
Natural de Canoas, fez carreira com a cenografia, tendo participado de produções de cinema, teatro e comerciais, inclusive, do Rio de Janeiro e São Paulo. A experiência com os cenários foi adaptada às escolas de samba e ele tomou gosto pela organização. Neste carnaval, Passos conta ter feito figurinos para as sete alas da escola de samba, que vai às ruas com mais de 170 pessoas.
“Eu acho que os últimos carnavais estavam deixando a desejar. Quando eu vim para cá, a primeira coisa que o prefeito pediu foi para deixar a cidade bonita, principalmente o carnaval”, destaca Passos.
O carnavalesco diz que a diferença financeira entre os desfiles da região e os feitos em Porto Alegre ou Rio de Janeiro é muito grande. “Aqui o cachê é pouco e o trabalho que estamos fazendo requer recursos. Pegamos umas coisas de uma escola ali, outra lá. Estamos nos virando para colocar a escola na avenida”.
Alegria de Rei Momo
Quem também leva o nome do carnaval da região é Valdir Antônio Ferreira, que desempenha o papel de Rei Momo há 11 anos em Venâncio Aires, representando a alegria, o humor e a irreverência da festa.
O reinado começou quase por acidente, em um dia em que Ferreira, que pertencia à escola de samba Unidos Vila Freese, foi até a secretaria de Cultura e descobriu sobre o concurso. Com menos de 30 dias para a prova, tratou de se preparar.
“A gente sambava, mas era aquele samba de festinha, não esse mais pegado como o de um samba-enredo”, lembra. Depois de muito treino, ele montou uma coreografia e se apresentou. “Graças a Deus fui agraciado com o título de Rei Momo e, desde lá, venho à frente das escolas de samba de Venâncio Aires”. Além dele, pela região, há ainda um Rei Momo em Santa Cruz do Sul.
A experiência de Ferreira o faz presidir a Liga do Samba de Venâncio Aires (Lisva). Há dois anos no cargo, ele diz que a ideia é inovar e melhorar o carnaval da cidade. Este ano, o desfile ocorre nos dias 10 e 12, a partir das 20h30min, com as escolas Unidos da Vila Freese, Fiel Tribo Guarani e Associação Négo Futebol Clube Acadêmicos do Samba. São aguardadas mais de 20 mil pessoas no centro da cidade, nas duas noites de desfiles.
A Associação Négo Football Club Acadêmicos do Samba leva às ruas o tema “Berço da vida ancestral: lugar de onde tudo parte e onde tudo volta”. Já a Fiel Tribo Guarani apresenta um samba-enredo voltado para viagens, passando por países da Europa, do México e terminando no Brasil. A Unidos da Vila Fresse fará uma homenagem aos Três Reis Magos.
Em Bom Retiro do Sul, neste ano, a Inhandava tem como tema-enredo “Viver os encantos turísticos do Pesqueiro do Vale”. A escola desfila com cerca de 250 integrantes.
Carnaval na região
Venâncio Aires:
10/02 e 12/02 – Ocorre o carnaval de rua a partir das 20h30min. Três escolas participam.
17/02 – Baile Mestres do Ritmo, em Linha Andreas;
24/02 – Imperadores da Folia, em Linha Cecília;
2/03 – Ki Ponto, em Linha Brasil;
9/03 – Imma Knill, Vila Santa Emília.
Nova Bréscia:
10/02 – Baile no Ginásio Municipal, organizado pelo Clube Tiradentes.
Bom Retiro do Sul:
9/03 – Desfile de rua a partir das 20h, na Rua Jorge Fett – “Passarela do Samba Antônio Edgar Chilella”. As escolas participantes são: Embaixadores do Ritmo (Rio Pardo), Escola Realeza (Rio Pardo) e Inhandava (Bom Retiro do Sul).
Estrela:
10/02 – A escola Renascer do Samba promove uma roda de samba a partir das 14h30min, na Escadaria de Estrela.
Lajeado:
15/02 – Bateria do Bloco Cascata se apresenta no Marreta.
17/02 – O Bloco Cascata organiza o baile Enterro dos Ossos no Clube Tiro e Caça, às 22h.
Vespasiano Corrêa:
13/02 – O carnaval de rua inicia às 19h, na Avenida Professor Sérgio Beninho Gheno, em frente ao Salão Paroquial.
Taquari:
2/03 e 3/03 – Carnaval de rua do município, com desfile até a lagoa.
Mato Leitão
11/02 – Festa Domingueira da Folia, às 19h, na Sociedade Esportiva União Boa Vista (SEUBV).
Santa Clara do Sul
10/02 – Baile no Centro de Reservistas, às 22h;
12/02 – Baile no Centro de Reservistas, às 22h.
Cachoeira do Sul
10/02 – Carnaval Sociedade Rio Branco, às 23h30min.