Obra em viaduto da BR-386: “É um caos anunciado”

LAJEADO

Obra em viaduto da BR-386: “É um caos anunciado”

Modificação nos acessos preocupa líderes locais. Prevista no contrato de concessão, reestruturação do trecho elimina alças existentes e cria novas faixas para entrada e saída da rodovia. Argumento é de que fluxo de trânsito vai piorar. Governo prioriza busca por alteamento da Bento Rosa em período de revisão contratual

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Obra em viaduto da BR-386: “É um caos anunciado”
Foto: Felipe Neitkze
Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Trânsito confuso. Engarrafamentos. Acessos dificultados. Apresentado como solução pela CCR ViaSul, o projeto da obra de reestruturação do viaduto da BR-386 sobre a rua Bento Rosa, no bairro Hidráulica, é alvo de críticas e preocupação de especialistas. A argumentação é de uma provável piora no fluxo de veículos em um dos trechos mais movimentados da rodovia.

O projeto será executado junto a construção da terceira faixa da BR, entre Lajeado e Estrela. Porém, como há uma janela a partir deste mês para atualizações e modificações nas obras previstas no contrato de concessão, líderes locais se mobilizam para viabilizar uma alternativa. A tendência é de que as movimentações se fortaleçam após o Carnaval.

Ex-diretor de infraestrutura da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Leandro Eckert ajudou na elaboração de um projeto, por parte do Fórum das Entidades. A proposta foi levada à CCR, mas acabou rejeitada na época. Segundo ele, da forma como foi desenvolvido pela concessionária, o futuro trevo deve complicar tanto o trânsito interno quanto na rodovia.

Projeto apresentado pela CCR ViaSul é questionado por líderes locais (Foto: reprodução)

A remodelação do trevo elimina as alças atuais – de quem se desloca de Estrela a Lajeado e vice-versa – e cria duas novas alças, uma para ingressar na cidade, nas imediações da Apomedil, e uma saída ao lado da concessionária Peugeot. Mudanças que, para Eckert, vão causar uma “confusão bárbara” no trânsito.

“Não faz sentido um projeto assim. Qual foi o embasamento? É dois pesos e duas medidas. Por que o trevo da São José (em Estrela) foi feito de outra forma? Se for para fazer algo assim, era melhor manter do jeito que está”, afirma.

Pontos de conflito

Um dos principais pontos que justifica a não execução do projeto, para o engenheiro civil César Garcia, é o surgimento de diversos pontos de conflito na rotatória da ponte seca, que hoje representa um dos gargalos mais conhecidos no trânsito local. “São pelo menos 90. Temos que lembrar que é um trecho por onde passa 80% da economia gaúcha”.

Um exemplo citado por ele é o deslocamento em direção a Estrela, de quem sai do Centro de Lajeado. Ao invés de descer a Bento Rosa e ingressar na BR pela alça atual, ao lado da Havan, o motorista terá que retornar pela nova alça para, então, acessar a rodovia. “Imagina um caminhão, uma carreta, ou mesmo um ônibus fazendo esse monte de voltas”.

Eckert lembra que a preocupação foi levada à CCR logo após o projeto ser apresentado ao Fórum das Entidades. “Nós levamos uma solução para o entroncamento, mas não fomos ouvidos. Nós queremos apenas que a BR e o trânsito da cidade tenham maior fluidez”.

“Vai engarrafar”

O empresário Nilto Scapin, que atuou como vice-presidente de Relações Institucionais da Acil na gestão anterior, participou de reuniões com a CCR. Desde o começo, se mostrou contra o projeto apresentado para o entroncamento da BR com a Bento Rosa. Para ele, vai gerar grande impacto no trânsito local.

“Vai engarrafar o fluxo. Particularmente, sou contra, pois precisamos facilitar as entradas e saídas, obviamente sempre respeitando a segurança. A Bento Rosa é o segundo acesso mais importante do município. O Poder Público precisa se engajar conosco”, frisa. Também lamenta a dificuldade de diálogo com a concessionária. “O que nós queremos, eles não querem”.

O atual diretor de infraestrutura da Acil, Eduardo Gravina, entende que, em termos de acesso e saída da cidade, “não se perde nada” e considera que o trecho ficará mais seguro, além de estar dentro das normas da ANTT. Para ele, é uma discussão que parece “vencida” e dificilmente será revertida.

“Ao meu ver, está consolidado e vai ter que ser assim. Foi uma briga perdida pelo descaso da CCR em levar adiante as alternativas propostas e também da burocracia do Estado para que um projeto seja revisto e alterado. As desapropriações já estão em andamento”.

Alteamento

Outro ponto que gera críticas e também já foi debatido é o trecho da Bento Rosa, sob a ponte seca da BR-386. Município e Fórum das Entidades apresentaram propostas para elevação em dois metros do trecho, com objetivo de minimizar prejuízos em decorrência de possíveis novas cheias do Rio Taquari. Com isso, a cota aumentaria de 22 para 24 metros no trecho.

“Emperramos na burocracia. O Marcelo (Caumo) disse que faria, se fosse o caso, mas o município não pode. Agora abriu a janela para solicitações de alteração no projeto. Precisamos fazer barulho para que as coisas aconteçam”, frisa Gravina, que complementa. “Ainda há chance de ser contemplado”.

O empresário Aquiles Mallmann, que presidia a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) na época das discussões, também é um entusiasta da demanda. “Participamos das tratativas. Foi feito um estudo para isso, mas a CCR negou, pois não estava no projeto deles. Nós acreditamos que precisa, sim, pois em enchentes de pequeno porte nos deixa sem acesso à cidade por baixo”, comenta.

Foto: Felipe Neitkze

Reivindicação do município

Conforme o prefeito Marcelo Caumo, as modificações nos acessos da BR contemplaram pedidos do município. Segundo ele, no contrato, não estava prevista a alça nas imediações da Apomedil. “Esta foi uma reivindicação nossa, apresentada há uns dois anos. A CCR concordou em executar o acesso”, comenta.

Para Caumo, esta foi a melhor alternativa encontrada à época da apresentação do projeto. “O município não iria abrir mão do acesso pela Bento Rosa. E desta forma, também respeita as normas técnicas, pois necessitava de aprovação da ANTT. É preciso respeitar determinadas distâncias”.

Quanto ao alteamento da Bento Rosa, Caumo lembra que é um pleito do município apresentado à ANTT, dentro do período de revisão contratual. “Aquele trecho têm influência direta no trânsito da BR”.

Em reunião com diretor executivo do A Hora, Adair Weiss, engenheiro e arquiteto urbanista detalharam proposta (Foto: Mateus Souza)

Movimentos de tráfego

– Procurada, a CCR ViaSul se manifestou por nota. Em relação ao projeto do entroncamento, frisa que “foram considerados todos os movimentos de tráfego os quais foram estudados por meio de contagens de veículos e dimensionamento de tráfego”;

– Já sobre o alteamento, afirma se tratar de uma obra não prevista no escopo de construção da faixa adicional e que o assunto já fora debatido com município e entidades;

– A concessionária frisa que está a disposição para recepcionar o “Projeto de Interesse de Terceiro (PIT), procedimento adotado onde o interessado fica responsável pelo projeto e pela obra de interesse dentro da faixa de domínio da União.

Entenda

– Desde 2019, a CCR ViaSul detém a concessão da BR-386, no trecho entre Canoas e Carazinho. A cada cinco anos, conforme previsto no contrato assinado à época, se abre um período para revisão e possível inclusão de novas obras ou alteração de projetos elaborados anteriormente;

– As modificações no entroncamento com a Bento Rosa estão previstas dentro do pacote de obras entre Lajeado e Estrela, iniciadas em 2022. Na época, a CCR acatou uma sugestão do município para um dos acessos. Já o projeto de alteamento da Bento Rosa deve ser analisado este ano;

– O Fórum das Entidades apresentou um projeto alternativo em relação ao entroncamento da Bento Rosa, mantendo as alças atuais. Porém, a proposta foi recusada pela concessionária;

– Ao todo, o investimento nas obras da terceira faixa, que incluem também alterações em acessos, trevos e construção de um novo viaduto em Estrela, é de R$ 100 milhões.

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