Região se especializa em traumatologia, mas tem dificuldade para zerar fila

SAÚDE

Região se especializa em traumatologia, mas tem dificuldade para zerar fila

Em Estrela e Encantado, que se tornaram referência em média e alta complexidade no Vale, atendimentos aumentaram, mas ainda não suprem demanda. Custo é um dos desafios

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Região se especializa em traumatologia, mas tem dificuldade para zerar fila
Na região, os hospitais de Estrela, Encantado e Teutônia são habilitados para cirurgias da especialidade (Foto: arquivo / A Hora)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Quarenta e cinco dias foi o tempo entre o acidente de moto e a cirurgia de Letícia Mombaque de Oliveira, 21. A moradora do bairro Bom Pastor, de Lajeado, ficou um mês e meio na lista de espera do procedimento para reparar a fratura de pelve e bacia. Ela foi a primeira a ser atendida com cirurgia de alta complexidade em traumato-ortopedia no Hospital Estrela, no fim de junho do ano passado.

No primeiro semestre de 2023, Estrela e Encantado se tornaram referências regionais para o atendimento em traumato-ortopedia, abrangendo os municípios da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS). No Hospital Estrela, ficaram as cirurgias de alta complexidade. Em julho, iniciou o trabalho no ambulatório referência em baixa e média complexidade do Hospital Beneficente Santa Terezinha, em Encantado.

Como o acidente que Letícia sofreu foi em maio, as unidades do Vale ainda não estavam prontas para atender a cirurgia. O Hospital de Canoas era a antiga referência, e a jovem procurou atendimento na instituição, mas foi encaminhada de volta à lista de espera do Vale.

“Eu fiquei com fraturas e um fixador externo. Tinha dor, não conseguia me mexer, precisava de ajuda para tomar banho, me vestir. E, pelo tempo de espera, quando fiz a cirurgia, tive uma infecção”. Letícia passou mais 20 dias internada no hospital após o atendimento e passou por mais dois procedimentos de limpeza.

Depois de meses em cadeira de rodas e se locomovendo com andador, hoje ela volta a caminhar. Mas diz que a recuperação ainda é difícil. Apesar dos transtornos da demora, Letícia afirma ter sido bem atendida na casa de saúde.

Mais atendimentos

A primeira cirurgia de alta complexidade da traumatologia do Hospital Estrela foi em junho de 2023 (Foto: Divulgação)

O Hospital Estrela iniciou os atendimentos em traumatologia em junho, mas a habilitação junto ao Ministério da Saúde foi efetivada em outubro. Os atendimentos feitos até a habilitação foram em caráter excepcional, sem faturamento Sus, apenas para casos de maior gravidade que não poderiam aguardar atendimento.

Após a habilitação, o hospital mais que triplicou o número de cirurgias mensais. De junho a setembro, foram 15 cirurgias de alta complexidade. De outubro a janeiro de 2024, foram 65 cirurgias.

O contrato do hospital é para 16 procedimentos de alta complexidade, 42 de média complexidade e 704 consultas por mês. Segundo a instituição, de junho de 2023 a janeiro de 2024, foram feitas 80 cirurgias de alta complexidade, 397 de média complexidade e 4,9 mil consultas.

Na alta complexidade, os procedimentos mais comuns são artroplastia de joelho e de quadril. Na média complexidade, reconstruções ligamentares do joelho, ombro e tratamento de fraturas cirúrgicas.

De acordo com dados da instituição, a maior lista de espera está nos atendimentos de alta complexidade, em especial na artroplastia de quadril, em que os novos agendamentos já superam o tempo de espera de um ano.

“Pelo curto tempo de implantação do serviço de traumatologia, vemos os resultados como positivos.

Apostamos que este ano será de consolidação e os resultados e impactos na comunidade serão ainda maiores”, afirma Johnnie Locatelli, gerente administrativo do Hospital Estrela.

Alta demanda

Até então, Canoas centralizava esses atendimentos de média e alta complexidade. Mesmo após a mudança, o Hospital de Pronto-Socorro da cidade continua sendo referência para a traumato-ortopedia de urgência, e o Hospital Universitário do município para a traumato-ortopedia pediátrica.

Para atendimento de casos simples e de média complexidade, a região ainda tem o Hospital Ouro Branco, em Teutônia, como referência.

Mesmo com hospitais habilitados no Vale, nem todos os municípios são atendidos pelas instituições como o esperado. Hoje, o serviço de traumatologia no Hospital São José de Taquari, por exemplo, ocorre com o chamado de especialistas quando necessário, para o setor de urgência e emergência. As consultas eletivas são por meio particular ou convênios.

De acordo com informações do hospital, em 2023 foram 290 chamados de especialistas da área de traumato. A instituição de saúde tem hoje como referência Sus para alta complexidade o Hospital Universitário de Canoas, e para média complexidade o Hospital Ouro Branco, de Teutônia.

Vice-prefeito de Taquari, Ramon Kern de Jesus afirma que o município, apesar de pagar o convênio com os hospitais da região, não tem sido atendido conforme o acordado há cerca de seis meses. Conforme ele, há pacientes que aguardam mais de 30 dias nas casas de saúde até serem atendidos.

“Entendemos que a demanda é grande, mas já tivemos que pagar cirurgias particulares para atender a situação do município”, destaca.

Secretário de Saúde de Bom Retiro do Sul, Rodrigo Rodrigues afirma ter mais de 20 pessoas na lista de espera por cirurgia da especialidade no município. Ele ressalta que desde que o convênio com o Hospital Estrela foi feito, há seis meses, foram disponibilizadas seis consultas com pacientes da cidade e apenas um procedimento. A falta de atendimentos também é percebida no hospital de Teutônia. Por isso, muitos casos continuam sendo encaminhados para Canoas. “É uma discussão que estamos tendo, em alguns casos precisamos comprar as cirurgias, mesmo que já pagamos o convênio com os hospitais”.

Falta recurso

A defasagem dos valores repassados pelo SUS e do incentivo do Governo do Estado por meio do programa “Assistir” são pontos que dificultam ampliar a oferta de cirurgias na região. Diretor do Hospital Ouro Branco, de Teutônia, José Brandt diz que esta é a realidade de todo o país.

Na instituição, são 30 procedimentos mensais. “Poderíamos fazer mutirões, ou ampliar os atendimentos, mas isso gera uma dívida que não podemos pagar. Enquanto isso, a lista de espera está crescendo”.

Coordenadora da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Rafaela Fagundes destaca que na segunda-feira, 29, o Governo do Estado anunciou reajustes para o programa de incentivo “Assistir” nos hospitais, que pode reduzir o custo per capita dos municípios. “Assim podemos seguir no aprimoramento da traumato-ortopedia para os moradores do Vale do Taquari”, afirma a coordenadora.

Em construção

Diretor do Hospital de Encantado, Márcio Sottana afirma que, pelo ambulatório de traumatologia ser um projeto ainda recente, a equipe está em construção do serviço em conjunto com os médicos, municípios e estado. “No começo foi mais desafiador, porque a maioria dos pacientes que recebemos já estavam na fila de cirurgia há muitos anos, eram pacientes de maior complexidade”, destaca.

Hoje, são em média 240 consultas por mês e 30 cirurgias de baixa e média complexidade, conforme a meta prevista. Em seis meses de atendimentos, já são mais de 250 pacientes na fila por cirurgias na instituição.
Para que a casa de saúde também possa atender alta complexidade, há a exigência de uma nova certificação e vai depender da necessidade da região. “Mas é um começo, precisamos criar uma série histórica de atendimentos para isso”.

Hoje, os custos estão maiores do que as receitas que o hospital recebe, afirma Sottana. O programa não dispõe de recursos dos municípios, apenas incentivo estadual.

Cirurgias nos hospitais

Encantado

  • Mão: 34%
  • Ombro: 33%
  • Joelho: 23%
  • Pé: 8%
  • Femur/Tibia: 2%
  • Quadril: 1%

As cirurgias da traumatologia em cada especialidade são contabilizadas conforme demanda.

Estrela

  • Cirurgias de Alta Complexidade: 80
  • Cirurgias de Média Complexidade: 397
  • Consultas: 4.955

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