“Me arrancam tudo à força e depois me chamam de contribuinte.” – Millôr Fernandes
Durante as fortes enchentes que atingiram o estado em 2023,varias pontes foram arrastadas e acabaram por isolar algumas localidades. Durante aqueles primeiros momentos de consternação, várias autoridades, tanto a nível federal quanto estadual vieram manifestar apoio e divulgar liberação de verbas. Foi assim que recebemos na região a visita do vice-presidente e até mesmo da atual primeira dama.
No entanto, entre a intenção e a concretização da prometida ajuda o tempo passa e frustra muitos daqueles que contavam com o auxílio governamental. A reação nas comunidades foi diversa, variando de lamentações a franca hostilidade e protestos. Mas algo diferente ocorreu em Nova Roma do Sul. Lá a comunidade se reuniu, arrecadou recursos e em menos de quatro meses teve sua ponte de volta. Detalhe: dois metros mais alta e com capacidade aumentada para passagem de carga por cima dela.
Tal fato acabou expondo e de certa forma constrangendo o governo estadual, que havia acenado com uma ponte nova, maior e custando no mínimo cinco vezes mais. A notícia viralizou pois comprova a distância que existe entre a vontade das comunidades e a burocracia que acaba amarrando obras públicas e as atrasando.
Foi então que lembrei de uma piada antiga que sarcasticamente retrata algo parecido com o que ocorreu com a tal ponte de Nova Roma do Sul. Aliás, essa é uma daquelas piadas que acabam se concretizando no mundo real e mostrando que Freud tinha razão quando falava sobre o papel do humor no nosso aparelho psíquico. Como se pensássemos assim: nós todos juntos iremos transgredir e com isso, deixaremos aparecer uma verdade que está reprimida, produzindo prazer e a satisfação. Além disso, as piadas também ajudam a descarregar uma agressividade reprimida.
A piada do momento no Rio Grande do Sul é a seguinte: Um político havia prometido construir uma ponte e para isso convocou três empreiteiros: um japonês, um americano e um brasileiro.
– Faço por R$ 3 milhões – disse o japonês – Um pela mão-de-obra, um pelo material e um para meu lucro.
– Faço por R$ 6 milhões – propôs o americano – Dois pela mão-de-obra, dois pelo material e dois para mim. Mas o serviço é de primeira!
– Faço por R$ 9 milhões – disse o brasileiro.
– Nove milhões? – espantou-se o político – Por que esse valor tão alto?
E o brasileiro responde:
– Três para mim, três para você e três para o japonês fazer a obra.
– Negócio fechado! – responde o político.
A repercussão da construção da ponte de Nova Roma em substituição da antiga que foi levada pela enchente foi tão intensa que até o governador se manifestou, de forma elegante diga-se de passagem, depois de se sentir atingido, mas sem conseguir disfarçar o desconforto.
Nesses tempos de condenações severas e injustas por crimes de opinião, talvez o humor seja uma das poucas saídas que nos resta.