O jornalismo para além dos fatos

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

O jornalismo para além dos fatos

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Leitor, já ouviu falar em jornalismo diversional? Alguns chamam de Novo Jornalismo (ou literatura de não-ficção). Talvez o conceito não seja tão conhecido para o grande público, mas sem dúvida, muitos já ouviram falar de Tom Wolfe, Gay Talese, Truman Capote e/ou Joseph Mitchel. Grandes expoentes do estilo de narrativa nascido nos Estados Unidos e consolidado na imprensa (inclusive no Brasil) entre os anos de 1930 até o fim de 1970. A inovação daqueles redatores era dar um relato mais humanizado, capaz de levar impressões, ambientes, cenários, personagens e acontecimentos para um estágio acima da fórmula do “Quem?Quando? Onde? Por quê? O quê? e, Como?”. Hoje, o mundo mudou, a agilidade, o dinamismo e as informações mais resumidas se tornaram uma exigência frente ao cenário de midiatização e de acessos instantâneos. No entanto, há certos acontecimentos impossíveis de se “encaixotar” nesses dias apressados e, por vezes, superficiais das notícias curtas. Nos últimos dias, me deparei com um desafio. A materialização dele está nesta edição. Como contar uma história para além da notícia? Mais do que um gancho factual? É possível que a impessoalidade da reportagem capte sentimentos e consiga traduzi-los sem sensacionalismo ou falso sentimentalismo linguístico para o texto? Não sei. Mas o público pode ter uma visão sobre as preocupações deste repórter. Só voltar um pouco e ler (ou reler) a seguinte reportagem: Assassinato que chocou Lajeado completa um ano. Será que consegui?

A arte da reportagem

Nesta escola jornalística quase moribunda, é cada vez mais difícil se deparar com um conteúdo que incorpora técnicas dos romancistas. Isso não quer dizer que basta aprender a técnica base, pois toda a leitura ajuda. Aquele redator com bagagem dos grandes clássicos vai ter mais repertório. Mas essa é outra história. Voltamos ao tópico. Para contar o caso Tadeu Pavoni, precisei mergulhar nas lembranças de quem conviveu com ele. Uma temática muito delicada. Inclusive no contato com as pessoas. Não tenho a pretensão de me comparar com qualquer mestre da literatura e do jornalismo que inventaram esse tal “diversional”. Apenas usei algumas técnicas que encontrei neste estilo de narrativa para contar parte dos acontecimentos daqueles 24 e 25 de janeiro de 2023. Descobri ao longo dos anos de produção intelectual voltada ao jornalismo impresso que a arte da reportagem vai além de escrever. É preciso saber ouvir. Entender o “não” da fonte. Ter sensibilidade, empatia e ser leal aos princípios éticos da profissão. Quando alguém aceita falar daquilo que é mais íntimo, daquilo que sente, do que pensa e não divide com os outros, cria-se um laço de confiança que um trabalho mal feito pode destruir para nunca mais. Aprendi nestas duas décadas como repórter que para ser um bom profissional, primeiro é preciso ser uma boa pessoa. Uma lição também deixada pelo advogado Tadeu Pavoni.

Escola brasileira

Entendo pouco do mundo. Tenho mais perguntas do que respostas, mais dúvidas do que certezas. Por isso o jornalismo faz tanto sentido pra mim. Um professor dizia: “o jornalismo é a busca canina pela verdade factual.” Aos repórteres mais jovens, digo: duvide e seja curioso. Como no racionalismo de René Descartes: a dúvida como método. Falei de nomes norte americanos do jornalismo diversional, mas saibam, temos grandes referências nesta parte da Linha do Equador. Talvez hoje a profissional mais destacada para esse tipo de narrativa seja a gaúcha Eliane Brum. Na história há tantos outros. Os perfis de Joel Silveira. A narrativa viva de José Hamilton Ribeiro. E a história real em dados e histórias humanas de Caco Barcellos.

Foto: Divulgação

 

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