Dois metros abaixo do nível normal,  Rio Taquari expõe estragos nas margens

Vale do Taquari

Dois metros abaixo do nível normal, Rio Taquari expõe estragos nas margens

A baixa ocorre em função da abertura da Barragem Eclusa, que seguirá assim até sábado, 23. Durante esse período, será feita a avaliação das estruturas em Lajeado e Estrela

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Dois metros abaixo do nível normal,  Rio Taquari expõe estragos nas margens
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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A pedido do governo de Lajeado, marinas, Corsan e empresas, as comportas da Barragem Eclusa, de Bom Retiro do Sul, foram abertas ontem, 21. A ação permitiu uma nova visão sobre o Rio Taquari. Com cerca de onze metros, dois abaixo do normal, foi possível verificar os estragos deixados pela enchente nas encostas. A condição será mantida até as 14h de sábado, 23.

Conforme o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo (PP), a ação começou a ser projetada no final de outubro, mas só foi possível fazer agora, já que o rio voltou para o leito normal. O objetivo principal é a reconstrução das rampas de acesso ao rio Taquari. Em nota, o Dnit também falou sobre a manutenção para captação de água e demais estruturas que ficarão expostas.

Entre os pontos que precisam de manutenção está o Porto dos Bruder, que teve parte da rampa destruída. Os estragos podem gerar problemas para os barcos que chegam ao local. Caumo falou também sobre como a calçada feita à beira do Rio Taquari ajudou a conter o desmoronamento dos barrancos e que a obra deve continuar em parceria com o governo do estado.

Análises para o futuro

A redução de dois metros no rio despertou, mais uma vez, a dúvida sobre os efeitos da abertura da barragem antes de uma enchente. “A prefeitura de Lajeado e alguns representantes da iniciativa privada já tiveram reunião com o Dnit para entender e ter a disposição para executar essa medida quando se tem previsão de chuva. Hoje, a gente não tem sincronismo e não sabe como isso pode auxiliar, mas é uma das ações que estão em andamento”, conta Caumo.

Para Caumo, essa não é a única solução que vai resolver o problema, mas é um conjunto de ações. O engenheiro civil e vereador de Encantado, Marcos Bastiani (PSDB), afirma que somente abrir as comportas não seria suficiente para mitigar os estragos da enchente. “Não temos previsão das águas antes de algumas horas. Além disso, se fala em 18 mil metros cúbicos por segundo na última enchente. Dessa forma, a Barragem estaria cheia em pouco mais de 10 ou 15 minutos”, explica.

Outro ponto destacado por Bastiani é a necessidade de fazer a constante dragagem e contenção das encostas, o que seria necessário também para recuperar a navegação. “Ao longo das décadas, temos que nos acostumar a ver dragas ao longo do rio, e não apenas uma, mas várias dragas. O rio, depois de 1940, passou a ser um problema que nos aflige. É algo que deu origem a nossas cidades, mas nós não estamos cuidando dele como ele merece”.

Possibilidade de novas barragens

A Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) se aproximou da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) para desenvolver um plano contra cheias. O encontro na manhã de ontem, 21, na sede da organização, em Brasília, discutiu a necessidade de construção de barragens, financiamento e projeto regional integrado entre municípios da bacia Taquari-Antas.

O prefeito de Estrela e presidente da Amvat, Elmar Schneider (MDB), lidera a iniciativa em reunião com o representante sênior da Jica, Aoki Issei. O japonês explica que a atuação da agência começou no país após enchentes em Santa Catarina, em 2008, e deslizamentos de terra ocasionados pelas fortes chuvas nos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011.

A empresa trabalha com o objetivo de preparar as cidades para enfrentar as consequências negativas desses desastres. Schneider detalha a perspectiva de a agência ampliar a atuação ao Vale do Taquari. “Vamos retornar para se reunir com o comitê da bacia para entregar um anteprojeto das nossas necessidades à Jica. Este projeto precisa ser regional.”

Ações previstas em Lajeado

  • Criação de mais contenções para os barrancos;
  • Recuperação da mata ciliar;
  • Limpeza da barranca do rio;
  • Adiantamento do Viva o Taquari Vivo.

Entrevista
Julio Salecker • Presidente da Bacia Taquari-Antas

“Nós falamos de, no mínimo, dois tipos de dragagem”

A abertura das comportas da Barragem Eclusa ajudaria a reduzir os estragos durante uma enchente?

Julio: Essa questão de termos a opção de baixar o lago da Eclusa de Bom Retiro para, um pouco antes de uma onda de enchente, o lago segurar a parte dessa elevação, dá para dizer que tecnicamente tem lógica. Obviamente, se você tira um bloco de altura de água, de todo o comprimento do lago, que tem 30 km de comprimento, você vai preencher esse buraco com a enchente, com parte da enchente. O que nós vamos ainda calcular, quando for feito o projeto disso, é o que que isso vai representar, quanto tempo leva para essa lacuna ser preenchida, se isso vai valer a pena ou não.

Com todo o debate sobre o rio, muito se fala sobre dragagem. O senhor, em entrevista ao A Hora, já disse que tirar o cascalho do Taquari poderia ser uma solução. O que impede a realização deste trabalho?

Julio: O que pode ser feito para voltar a ter a dragagem de cascalho com finalidade de obra civil é mexer nos critérios de proibição ambiental. Dragagem para mineração de areia e de cascalho, existe em todo o mundo. E elas com certeza elas ajudam, dentro de determinados limites, a manter o canal limpo quando chega grandes vazões, como às enchentes, e ter um escoamento facilitado. Mas nós falamos de, no mínimo, dois tipos de dragagem: essa, que deveria ser permanente, de mineração de cascalho, e também uma dragagem do que não deveria estar dentro do rio, que é boa parte da nossa mata ciliar, as construções, móveis e veículos.

Passada a comitiva para Blumenau, debates e seminários sobre o assunto, como o senhor percebe entendimento regional nos planos para mitigar estragos causados pela enchente? Quais devem ser as próximas ações que a população vai perceber em curto e médio prazo?

Julio: Blumenau foi atingida por uma mega enchente em 1983 e terminou o plano de ação em 1985. Das 11 barragens previstas, elas fizeram três até hoje. O que eu quero dizer com isso é que eles nunca pararam de fazer as coisas, e não é só a barragem. Mas o que pode ser rápido nisso tudo são as ações não estruturantes. Que é educar a nossa população para os desastres, a definição de local que não poderá ter mais construções, reestruturação da defesa civil, dos planos de contingência e de evacuação.

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