Drama de quem espera pelas promessas de ajuda dos governos

ECONOMIA E NEGÓCIOS

Drama de quem espera pelas promessas de ajuda dos governos

Centenas de negócios de pequeno porte na região foram totalmente impactados pela enchente de setembro. Apesar das sucessivas promessas do governo federal, sentimento é de desesperança quanto à liberação de recursos

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Drama de quem espera pelas promessas de ajuda dos governos
Loja de roupas femininas foi atingida pela primeira vez por uma enchente. (Foto: Matheus Laste)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Pouco mais de dois meses após a enchente de setembro, empreendedores da região impactados pela inundação do rio Taquari buscam reunir forças para seguir em frente. Com perdas volumosas, muitos ainda aguardam por ajuda federal para a reconstrução. Outros, no entanto, já perderam a esperança de um receber auxílio público capaz de fazer frente às perdas.

Morador de Muçum, Carlos Alberto Di Domenico inaugurou uma empresa familiar na cidade há cerca de um ano. Quando abriu, não imaginou que estaria em uma área vulnerável a uma cheia histórica, assim como outros empreendedores da região.

“Na minha casa pega enchente. Tiramos o que dava e levamos para a casa da minha mãe. Fomos colocando tudo no segundo andar. Mas estava subindo muito rápido. E quando chegamos no mercado, estava com água já na porta. Não deu para salvar quase nada”, lamenta.

Di Domenico estima perdas em R$ 100 mil no estabelecimento

Calcula perdas estimadas em R$ 100 mil, entre alimentos, freezers e outros equipamentos. “Os computadores nós conseguimos resgatar, até para não perder nosso banco de dados. Mas o prejuízo foi grande”. Apesar dos estragos, Di Domenico conseguiu reabrir o estabelecimento em oito dias. “Baixei a cabeça e fui dos primeiros a retomar”.

 

“Voltei do jeito que dava”

Quase 90% do estoque de Lorenzi foi perdido com a cheia

Também de Muçum, Luiz Eduardo Lorenzi atendia normalmente em seu estabelecimento na tarde de 4 de setembro. Por volta das 15h, foi alertado sobre a velocidade com que o nível do rio subia. Colocou os itens de sua loja de assistência técnica no segundo andar. Não adiantou.

“Infelizmente a água chegou no segundo piso também. Tive quase 90% de perdas em meus produtos, como acessórios e peças, além também da casa, com móveis e eletrônicos”, comenta. Foram cerca de um mês e meio sem trabalhar. O retorno, em outubro, foi com a loja ainda esvaziada. “Voltei do jeito que dava. Decidi ficar na cidade para recomeçar”.

Tanto Di Domenico quanto Lorenzi foram contemplados com R$ 2,5 mil pela Central Única das Favelas (Cufa), dentro das doações feitas pelo Pix SOS Rio Grande. “É muito pouco. Não deu nem para o pagamento da luz”.

Meios próprios

Lívia teve que pegar empréstimo na Caixa para recomeçar atividades

Proprietária da CLB Eletro Hidráulica, de Roca Sales, Lívia Giongo tem o estabelecimento há quatro anos. Relata um prejuízo de R$ 250 mil a R$ 300 mil com a cheia, entre perdas de móveis e mercadorias. O recomeço, como na maioria dos casos, têm sido com a maior parte oriunda de recursos próprios.

“A única coisa que chegou semana passada foi um empréstimo da Caixa, que seria de juro zero, mas pela informação que tive é de 6% ao ano. Fora isso, não tenho esperança de receber algum tipo de apoio, pois a gente já devia ter recomeçado com a ajuda deles. Fizemos tudo por meios próprios, com o que tínhamos de reserva”, recorda.

As duas unidades da barbearia de Muniz foram atingidas, mas os estragos maiores foram em Roca Sales

O barbeiro Janei Muniz, que atua com estabelecimentos em Roca Sales e Lajeado, também foi afetado pela enchente. Os estragos, contudo, ocorreram na unidade da região alta. Até a cheia de setembro, segundo ele, nunca havia sequer entrado água no local.

“Eu estava em Lajeado no dia. Cheguei de tarde, tirei as coisas que tinha em casa e depois vim até a barbearia. Só peguei algumas coisas e saí. A maioria do pessoal acreditava que entraria só um pouco no comércio. Mas aí a água entrou uns dois metros”, lembra. Os prejuízos estão estimados em R$ 85,7 mil, com móveis e maquinários.

Afora a ajuda de uma barbearia de Porto Alegre, Muniz reclama da falta de auxílio dos governos. “Fiz vários cadastros, mas não teve nada até agora. Dois meses já se passaram. E a unidade de Lajeado também entrou água, cerca de um metro. Então foram duas pancadas”.

Apoio de associação

Estabelecimento ficou cerca de 40 dias fechado antes de retomar operações

A Loja De Conto é tradicional em Encantado. O atendente Luan de Souza comenta que, no dia da enchente no estabelecimento de material elétrico e hidráulico, os funcionários e amigos transportaram todo material do primeiro andar para o segundo piso. No entanto, a aguá alcançou 60 centímetros do segundo andar e ocasionou a perda de 60% do material em estoque.

“Sete computadores, um estabilizador, balcão e mais de 40 dias sem poder atender as pessoas. Não foi contabilizado, mas as perdas foram em várias frentes”, relata. Atualmente, o único auxílio recebido pelo comércio foi por meio de alguns fornecedores e da Associação Comercial e Industrial de Encantado, que disponibilizou móveis usados para a empresa.

“Fora isso tivemos ajuda de alguns amigos para a limpeza, mas financeiramente ainda não veio nenhum auxílio. Ainda temos um pingo de esperança, fizemos todos os cadastros e registros solicitados, mas não sabemos o quanto vem ou quando virá”, comenta.

No centro da cidade, a Casas Garça, uma loja de roupas femininas com foco em moda pluz size, também passa por situação semelhante. Em operação há 13 anos, a proprietária Thais Teles Fraporti, conta que em todo esse tempo a loja nunca havia sido atingida pela força da água. Apesar de levar todo seu estoque para o andar superior, as perdas foram grandes.

“Tive que trocar toda a estrutura do espaço que eram em MDF, não deu para recuperar. Pintei a sala comercial também. Foram mais de R$ 20 mil, sem contar os 15 dias parados e sem vender” esclareceu Thais. Em valores, não houve ajuda, embora a empresa tenha feito os cadastros necessários. “Acho que não vamos receber mais, porque já são dois meses sem nenhum retorno”.

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