Meio ambiente: mecanismos de recompensa ou uma nova ética?

Opinião

Jandiro Koch

Jandiro Koch

Escritor

Colunista do Caderno Você

Meio ambiente: mecanismos de recompensa ou uma nova ética?

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Passados cinco anos, estou de volta na Univates, no Mestrado de Ambiente e Desenvolvimento. Tentei algumas leituras na área. Atraiu-me a atenção considerável diferença com a qual os temas eram encarados quando eu era mais jovem.

Certamente vivi um tempo no qual se reclamava urgência para as questões ecológicas, o que era decorrência, muitas vezes, de prognósticos apocalípticos e nostradâmicos. Tinha-se a sensação de que, não refreando as ações antrópicas, o mundo entraria em colapso a qualquer minuto.

Esse lapso temporal curto, a ponto de comprometer a vida da pessoa, levava a um envolvimento feroz do sujeito. Digo, portanto, que não era somente um engajamento desprendido, que não abrangia o “eu”, como alguns pretendem. Havia algo de egoísta que, também, movimentava.

Os anos foram passando, o fim do mundo não chegou. Apesar do maior conhecimento obtido sobre diversos desses temas, na prática, o compromisso das pessoas, hoje, parece muito distante do necessário para barrar efeitos danosos de grande monta. Ao menos a quilômetros daquele empenho que ocorria há décadas, quando éramos movidos por algo que críamos inadiável.

Com as previsões mais pessimistas afastadas, sem novas datas exatas para que os prejuízos se façam visíveis, novas gerações, muito mais narcísicas, preterem a urgência e procrastinam. Parece-me que na sociedade do consumo e das redes sociais, ligada a mecanismos de recompensa imediatos, as demandas por participação maior em arguições ambientais não produzem dopamina. Principalmente por preverem resultados a longíssimo prazo e difusos.

Para reocuparem um lugar central, acredito que precisariam encontrar formas de dar a ignição ao mecanismo de recompensa. A energia solar, por exemplo, está ligada à sensação de prazer, porque oferece um cálculo atraente de redução de custos. O meio ambiente surge como fator secundário, mas faz gol.

Outra maneira de encarar o assunto é, numa linha de raciocínio muito próxima com a adotada pelo filósofo Michael Sandel, apostar as fichas em uma nova ética possível. Em vez de dar demasiado crédito à meritocracia como fator individual, um dos motores do capitalismo, passar a reconhecer o esforço quando a pessoa consegue algo que contribui para o bem comum.

Gatilho de recompensação como paliativo. Modificar o imaginário, volvendo as glórias para as realizações em torno do bem coletivo, a meta final. Em questão de meio ambiente, estamos apartados de ambos. Iniciar onde?

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