A busca por um lar

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A busca por um lar

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O governo federal tem como prioridade resolver o grave problema habitacional gerado pela catástrofe do Rio Taquari. A condição foi confirmada ontem pelo Secretário de Comunicação Institucional da Secom, Maneco Hassen, durante entrevista exclusiva ao Grupo A Hora, concedida dentro da prefeitura de Encantado, local escolhido para sediar o Gabinete de Crise do Estado. Segundo o agente público, a União vai trabalhar de forma intensa para garantir um lar para todas as famílias que perderam as casas. Mas, e isso não é uma crítica aos governantes, a construção de uma casa – bem como a escolha correta do terreno – não ocorre do dia para a noite. E estamos falando de centenas de desabrigados. Diante disso, diversos movimentos iniciam nos bastidores para garantir lares temporários às vítimas da enchente. E, entre as ideias, destaque à adoção de famílias.

A ideia é simples. De acordo com interlocutores envolvidos com os desabrigados, a proposta é encontrar moradores do Vale do Taquari dispostos a “adotarem” – de forma temporária – algumas pessoas que hoje passam a noite nos abrigos improvisados. Seria algo semelhante aos já conhecidos processos de intercâmbio estudantil, por exemplo. Mas bem mais complexo, claro. Para tal, os anfitriões seriam capacitados e remunerados com recursos públicos, e receberiam outros benefícios financeiros e sociais por parte dos governos municipal, estadual e federal. Além desta inusitada proposta, outras tantas sugestões já chegaram aos ouvidos e mesas dos líderes municipais. Como exemplo, o uso do histórico Weiand Turis Hotel, interditado e fechado faz alguns anos, e cujos quartos restam ociosos. Enfim, são ideias que surgem nestes turbulentos dias de reconstrução.

E a sede da BM?

O esforço para construir uma nova sede para o 40º Batalhão da Polícia Militar em Estrela esbarrou na resistência de alguns moradores do centro da cidade. A intenção era retirar a corporação da Rua Coronel Brito, entre os bairros Centro e Oriental, e assim evitar os prejuízos gerados pelas recorrentes cheias do Rio Taquari e seus afluentes. Com a segunda maior enchente já registrada na história, o prédio sofreu avarias ainda maiores, e, por ora, a sede da Brigada Militar foi transferida para a cidade de Teutônia. Muitos estrelenses temem que a mudança seja definitiva. Diante do quadro, uma importante reunião ocorre hoje, a partir das 7h30min, na sede da La Salle, em Estrela. Empresários, representantes da CACIS, da Aespro e da própria BM vão se reunir com o prefeito, Elmar Schneider (MDB), e com o Secretário de Administração e Segurança, Comandante César.

Problemas à E-Log

Além das já anunciadas avarias no porto e na própria sede da Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log), a direção terá muito trabalho para retomar os serviços junto ao Aeródromo Regional. O espaço também foi inundado pelo Rio Taquari na semana passada, e sofreu danos. A pista também precisa de reparos. E o espaço está interditado pela ANAC até o dia 30 de setembro.

Paciência e resiliência

As pessoas mais atingidas pela catástrofe da semana passada estão deixando pouco a pouco o estado de choque. E com isso surge a dura realidade. Muitos perderam literalmente tudo. Inclusive a família. Por óbvio, o estado emocional dessas pessoas está no limite. E isso é natural, reforço. Dito isso, também é natural que determinados agentes públicos enfrentem algumas críticas mais ásperas nas ruas. E cabe a eles compreenderem e contornarem bem essas eventuais situações.

TIRO CURTO

– O anúncio de R$ 1 bilhão em empréstimos via BNDES animou diversos setores. Mas também preocupa outros tantos. Há quem defenda maiores critérios para a distribuição dos recursos. O fato de conceder os créditos para toda e qualquer empresa localizada em município atingido não foi bem visto por uma ala da classe empresarial. Eles querem prioridade para quem, de fato, sofreu avarias.
– A Universidade do Vale do Taquari (Univates) está diretamente envolvida no processo de reconstrução das cidades atingidas. Além de provocar mudanças na ocupação do solo por meio de estudos e pesquisas, a instituição de ensino já capacitou voluntários para cuidados médicos e psicológicos dos atingidos, e agora surge com uma luz para os alunos do Colégio Castelo Branco.
– Aliás, a Univates também poderá ceder parte da unidade instalada no bairro Jacarezinho, em Encantado. O pedido é para abrigar alunos de escolas e creches do referido município.
– Em 2020, o então secretário de Planejamento de Lajeado, Giancarlo Bervian, projetou a construção de um monumento às cheias. A ideia era instalar a estrutura no Parque dos Dick, para servir como um espaço pedagógico e de reflexão. Afinal, não podemos esquecer que o problema existe, sob o risco de seguirmos subestimando os riscos. À época, a ideia não foi compreendida e nada saiu do papel. Desta vez, precisa ser diferente. E não só em Lajeado.
– O ex-secretário também iniciou um estudo para verificar as cotas de inundação em diferentes pontos da cidade. Um estudo hidrográfico, e que ainda não foi finalizado pelo governo municipal. E um dos pontos é o bairro Universitário, nas proximidades do Forqueta e do Taquari.

– Na sessão plenária da câmara de Arroio do Meio, e entre os 11 parlamentares, só o vereador Paulo Backes (PDT) fez menção à necessária atualização do Plano Diretor. Ele promete lutar pela retirada das famílias das áreas de risco. “A natureza não pensa, ela age. Nós pensamos e, muitas vezes, não agimos”, declarou.
– Em Encantado, o chefe da Defesa Civil, Roberto Preto, sugere a criação de zonas de evacuação na cidade, utilizando cores distintas para os diferentes níveis do Rio Taquari.
– É alentadora a notícia divulgada pelo governador Eduardo Leite (PSDB), sobre a intenção do Estado reconstruir a histórica ponte rodoferroviária, entre Muçum e Roca Sales. Aliás, o tucano e toda a sua equipe demonstram muito empenho na reconstrução do Vale do Taquari.
– Não podemos deixar nenhuma cidade ou comunidade de lado. Em Cruzeiro do Sul, por exemplo, moradores de bairros mais distantes se queixam de pouco auxílio. E a culpa não é do governo municipal. O mesmo vale para Colinas, Taquari e Bom Retiro do Sul.

E a sede da Delegacia Regional?

Delegada Regional da Polícia Civil, Shana Luft Hartz foi enfática. “Não vamos retornar para a sede”. Ela se refere ao prédio na esquina da Rua João Batista de Melo com a João Abott, no centro de Lajeado, uma das áreas alagáveis mais tradicionais da cidade. Como de costume, boa parte da estrutura ficou submersa durante a histórica enchente da semana passada. Mas, e assim como na maioria das edificações atingidas, desta vez o impacto foi muito maior. Segundo a representante da PC, as condições já eram ruins e agora se tornaram insustentáveis. Há riscos iminentes – choque elétrico, por exemplo – aos agentes e policiais. As portas e janelas estão apodrecendo. A sujeira está por todos os cantos. E a nova Central de Polícia, a ser erguida no São Cristóvão, só deve ficar pronta em dois ou três anos. Portanto, é preciso encontrar uma sede temporária à PC regional.

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