O anel de Giges

Opinião

Carlos Schäffer

Carlos Schäffer

Advogado

O anel de Giges

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Atualizado quarta-feira,
16 de Agosto de 2023 às 16:23

No livro A República, de Platão, Sócrates, num dos debates que desenvolve com seus discípulos, ouve a observação de Glauco, um dos componentes do grupo, sobre a origem da justiça, assunto que coloca em discussão a história do anel de Giges.

Giges era um pastor que estava a serviço do rei que naquela época governava a Lídia. Certo dia, durante uma tempestade acompanhada de um terremoto, o solo se abriu e formou-se um precipício perto do lugar onde o seu rebanho pastava. Assombrado, ele desceu até o fundo do abismo, e entre outras maravilhas que a lenda menciona encontrou um cavalo de bronze, oco, cheio de pequenas aberturas. Debruçando-se para o interior delas viu um cadáver que parecia maior do que o de um homem normal, que tinha na mão um anel de ouro, que ele tomou para si, e dali saiu sem levar mais nada.

Com esse anel no dedo ele foi assistir a assembleia habitual dos pastores, que se realizava todos os meses com o objetivo de informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado seu lugar no meio dos outros, sem querer mudou a posição do anel, rodando um lado para o interior de sua mão, e constatou então que havia se tornado invisível para seus vizinhos, posto que falavam dele como se não estivesse ali. Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tornou-se visível. Repetiu a experiência várias vezes para ver se realmente tinha esse poder, e assim que teve certeza que, de fato, isto acontecia, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam se encontrar com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve assim o poder.

Resumindo o assunto, essa história da mitologia grega evidencia o que o ser humano é capaz de fazer, em termos de maldade e de injustiça, quando as pratica sem que se possa ver o que está fazendo, quando dissimula seus atos ao realizar uma má ação na escuridão das trevas da invisibilidade.

Hoje em dia, no mundo inteiro, a grande maioria dos homens que nos lideram perderam completamente a vergonha. Já praticam suas maldades, suas indignidades, suas injustiças, às claras, em plena luz do dia, sem remorsos, sem constrangimentos, sem escrúpulos. Nem pensam mais, sequer, na hipótese de utilizar o anel de Giges para realiza-las sem serem vistos.

No debate contado nessa história, aos bons e aos justos os deuses concederão a devida recompensa. Serão conduzidos aos Campos Elísios, introduzidos no banquete dos virtuosos, onde serão coroados de flores. É esta a recompensa que será revivida nos seus filhos, nos filhos dos seus filhos na sua posteridade.

Os injustos e os maus serão mergulhados na lama do inferno e na infâmia durante toda a vida.

Sócrates viveu entre os anos de 399-470 a.C. Já faz mais de 2 mil anos que Jesus Cristo veio à terra para nos redimir dos pecados, e até agora nada aconteceu.

Lamentavelmente, o Tempo, para o fim de se aplicar a justiça aqui neste mundo em que vivemos, parece não se preocupar muito com a velocidade da sua passagem.

Para o meu gosto, nesse ponto específico, o Tempo e os deuses andam e agem muito devagar.

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