Menos alunos e prédios ociosos obrigam reinvenção nas universidades

ENSINO SUPERIOR

Menos alunos e prédios ociosos obrigam reinvenção nas universidades

Ensino Superior privado tem queda no número de matrículas desde 2014. Fenômeno se acentuou a partir da pandemia. Para melhor ocupação dos prédios, instituições formam parcerias com colégios, empresas e representantes de setores produtivos

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Menos alunos e prédios ociosos obrigam reinvenção nas universidades
Com base nos acessos a rede de internet em aparelhos individuais, o primeiro semestre teve uma média de 10,4 mil pessoas em circulação por semana no campus Lajeado (Foto: Felipe Neitzke)
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

As transformações no mercado de trabalho, a instabilidade econômica e a queda considerável no número de novos alunos exige um repensar das universidades. Conforme o Censo da Educação, a taxa de desistência dos acadêmicos pulou de 15% em 2017 para 56% em 2021.

Uma realidade nacional e com mais impacto sobre as instituições comunitárias, como é o caso da Univates, em Lajeado, e da Unisc, em Santa Cruz do Sul. Como resposta, as estratégias visam otimizar recursos, tanto financeiros quanto à infraestrutura imobiliária, como uma forma de usar o conhecimento, os laboratórios e a mão de obra disponível para prestar serviços à comunidade.

Conforme o presidente da Fuvates, mantenedora da Univates, Ney Lazzari, a instituição enfrenta um gargalo no uso noturno das estruturas, com períodos diurnos com mais ociosidade. “Durante a gestão de Tarso Genro como governador, a Univates ofereceu ao Estado o uso das estruturas pelos colégios estaduais durante o dia. Infelizmente, a proposta não foi adiante. Não houve interesse.”

No ano passado, a Univates e o Colégio Gustavo Adolfo firmaram uma parceira. Alunos do Ensino Médio passaram a ter aulas no Prédio 1, nos turnos da manhã e tarde. Junto com isso, também podem ter acesso as demais estruturas, como laboratórios e biblioteca.

Também há acordos com o Sesi e com governos municipais da região. “Nos últimos anos, crescemos em serviços, com espaços como o Tecnovates, que abriga diversas empresas. Além disso, os laboratórios, em especial nas áreas da saúde, como Fisioterapia, Odontologia e Nutrição, são muito maiores do que há sete anos. Tudo está a serviço da comunidade, o que tem contribuído para melhorarmos a ocupação.”

Pelos dados do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI), com base no uso da rede de internet em aparelhos individuais, o primeiro semestre teve uma média de 10,4 mil pessoas em circulação por semana.

Em uma recorte mais recente, com base nos últimos dias de julho, o resultado de movimento de pessoas foi de 1.819 (manhã), 3.049 (tarde) e 3.185 (noite). O campus Lajeado da Univates tem 27 prédios, com uma área construída de 81,4 mil metros quadrados.

Parceria no Ensino Médio

Convênio entre o Colégio Gustavo Adolfo e Univates está para completar dois anos. O diretor Edson Wiethölter, afirma que os resultados superaram as expectativas. Hoje são 210 estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Médio com aulas nos turnos da manhã e atividades à tarde no prédio 1 do campus Lajeado.

“O objetivo é preparar os alunos para o futuro, conectando-os com a realidade acadêmica e empresarial”. O Colégio, agora denominado Centro de Educação Básica, estabeleceu uma escola dentro da Univates, ocupando os espaços disponíveis e proporcionando maior interação entre os alunos e o ambiente universitário.

Wietholter destaca que a escola não se configura como uma instituição aplicada à universidade, mas como uma oportunidade para que os estudantes vivenciem o ecossistema acadêmico, estabelecendo conexões com diferentes iniciativas da instituição de ensino superior.

De acordo com ele, os resultados têm sido promissores. “A vivência no espaço acadêmico estimula os estudantes e contribui para alto desempenho. A parceria tem proporcionado a participação em atividades nos cursos técnicos e até mesmo estágios junto à Tecnovates”, frisa Wietholter e complementa: “além disso, estreitamos os laços com a comunidade, abrindo-se para a cidade e promovendo uma diversidade de experiências para os alunos. Essa sinergia entre a universidade e a escola tem sido muito bem recebida pela comunidade do Vale do Taquari, que tem buscado cada vez mais matrículas na instituição.”

Os números corroboram esse fenômeno, diz o diretor. Para o próximo ano, devido a alta procura por matrículas, acredita em um crescimento de 20% no número de alunos. “A integração dos espaços e a conexão entre o ensino médio e o ambiente universitário demonstram uma abordagem inovadora e promissora para o ensino na região”, estima o diretor do Gustavo Adolfo.

Futuro da universidade

A pesquisa é fundamental, afirma o presidente da Fuvates. A Univates, diz, busca mais interação com setores produtivos. “A instituição negocia com uma empresa de Lajeado que precisa de um espaço significativo para pesquisas e desenvolvimento de produtos. Essa parceria interessa, pois envolve alunos e oportunidades de aprendizado”, realça Lazzari.

De acordo com ele, a visão de futuro vai além das salas de aula. A instituição planeja investir em pesquisa, desenvolvimento de produtos e ampliação do parque tecnológico. Espaços destinados a equipamentos e a outras atividades complementares também estão nos planos, que busca estreitar a relação com a comunidade e empresas locais.

Neste sentido, o plano é seguir com espaços destinados à saúde, a Univates se tornou um centro clínico com movimento durante todo o dia. “Atendemos mais de 20 especialidades clínicas, disponível para pacientes de cidades vizinhas, como Arvorezinha, Estrela e Colinas. Eles encontram aqui um atendimento próximo, o que evita deslocamentos para Porto Alegre.”

Desafio nacional

Presidente do Consórcios das Universidades Comunitárias Gaúchas e reitor da Unisc, Rafael Henn, acredita que a ociosidade nas universidades privadas é um desafio enfrentado por diversas instituições.

Em Santa Cruz do Sul, a ociosidade é de cerca de 30%, em especial no turno da manhã e tarde. Ele atribui essa redução ao cenário pós-pandemia e às mudanças nas metodologias de ensino, com maior adesão ao Ensino à Distância (EaD). Além disso, relembra as alterações no programa de financiamento estudantil (FIES) em 2014, que reduziram os financiamentos para a entrada de novos alunos.

Assim como na Univates, a receita é buscar novas fontes de receita além da graduação, por meio da prestação de serviços e de parcerias com empresas. Também destaca a proposta de locar salas para o ensino público estadual.

Pelo Censo nacional do Ensino Superior, são mais de 2,5 mil instituições de ensino no país. Do total de vagas disponíveis, 96,4% são ofertadas pela rede privada e 3,6% por instituições públicas. Nos cursos presenciais, a maioria dos estudantes estão no turno noturno, o que corresponde a 54,5% dos mais de 8,9 mil acadêmicos matriculados.

EaD cresce e presencial diminui

Em dez anos, as matrículas em cursos à distância (EaD) aumentou 474% no país. Por outro lado, houve queda de quase 50% no preenchimento das vagas presenciais, afirma o reitor Rafael Henn. Esse cenário mostra a necessidade de adaptar os modelos, com aulas híbridas.

Mesmo sem regulação federal, há uma adaptação em curso para proporcionar essas possibilidades aos estudantes. Com menos necessidades de prédios, inclusive o planejamento de novas construções nas duas maiores instituições de ensino superior dos vales do Rio Pardo e Taquari estão sendo revistas.

Para além da questão de infraestrutura, a coordenadora dos cursos técnicos da Univates, Edi Fassini, demonstra preocupação com a qualidade do ensino. “Temos de acompanhar esses resultados. Na média, há perdas no processo de aprendizagem. Não se tem vivência em grupo e isso interfere sobre a formação do acadêmico.”

Na avaliação da professora, existem conteúdos que podem ser repassados de maneira remota. No entanto, as práticas precisam ser em grupo. Essa análise de Edi vai ao encontro do preconizado pelo próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep).

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