O legado do “Vem Pra Rua” dez anos depois

POLÍTICA

O legado do “Vem Pra Rua” dez anos depois

A próxima terça-feira, 20 de junho, completa uma década do primeiro protesto em Lajeado. O movimento que ficou conhecido como “Marcha dos Descontentes” uniu diferentes grupos. Naquela quinta-feira chuvosa, quase três mil pessoas levantaram bandeiras contra os gastos à Copa do Mundo, a corrupção e por mais ética na política

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O legado do “Vem Pra Rua” dez anos depois
Organização em Lajeado começou entre estudantes das escolas públicas de Ensino Médio e teve repercussão entre outros grupos sociais (Foto: Arquivo)
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Um sentimento de que o país precisava mudar. De que o formato político/partidário estava distante das demandas sociais e que a perpetuação no poder era marcada por escândalos de desvios do dinheiro público.

Esses foram alguns motivos que levaram milhares de pessoas às ruas naquele mês de junho de 2013. Um movimento nascido de estudantes em São Paulo, que alertava para a alta no preço das passagens do transporte público frente a péssima qualidade do serviço, se tornou em uma mobilização heterogênea, com facetas múltiplas.

Iniciada em 6 de junho, em São Paulo, os primeiros atos foram reprimidos com força pela polícia militar. Neste episódio, pouco mais de quatro mil pessoas tomaram as ruas da capital paulista. Dois dias depois, os protestos já estavam em outras capitais e com reivindicações cada vez mais diversas.

As principais críticas eram direcionadas ao governo federal e ao Congresso Nacional. Na época, a presidência era ocupada por Dilma Rousseff (PT), na câmara dos deputados, estava Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) e no Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL). Também sobravam críticas ao governador Tarso Genro (PT), em especial pelo conflito com professores para pagar o piso nacional do magistério.

Na região, após os atos do dia 20 em Lajeado, forma mais três dias de movimentos. Aos poucos, se alastraram por outras cidades. Em Estrela, Roca Sales, Arroio do Meio e Muçum também houve episódios.

“Foi um aprendizado”

“Era um movimento de pautas comuns as pessoas. Tínhamos pessoas que pensavam diferente mas que conviviam. Tinha ideologias de esquerda e de direita. Todos juntos cobrando por melhores condições de vida”, relembra um dos manifestantes da época, hoje empresário, Tiago Guerra.

Há dez anos, ele era estudante de Engenharia de Produção na Univates. Atuou no Diretório Acadêmico (DCE). Lembra que na região os atos iniciaram com uma cobrança pela extinção da Proposta de Emenda a

Constituição (PEC) 37, que limitava o poder de investigação do Ministério Público. “Foi o primeiro movimento nascido na internet, pelas redes sociais. Virou um grito de insatisfação para diferentes pedidos, por meio de uma construção coletiva. Foi um aprendizado para mim.”

Um dos momentos mais marcantes foi quando o grupo de estudantes levou uma carta com diversas reivindicações à câmara de Lajeado, em 26 de junho. Foram 25 itens cobrando mudanças no Legislativo. Com destaque para redução nos subsídios (na época de R$ 5,6 mil), do número de assessores por parlamentar e equiparação dos salários entre vereadores e professores.

“Como legado, acredito que o principal foi o envolvimento das pessoas indiferente da linha ideológica de cada um. Hoje perdemos isso. Direita e esquerda no fim querem a mesma coisa, desenvolvimento econômico e social, com menos desigualdade. A diferença está no caminho para chegar lá. Hoje ficamos brigando qual caminho tomar sem tentar unir aquilo que é comum entre as diferentes correntes de pensamento.”

Das ruas ao Legislativo

Atual vereador em Estrela, João Braun (PP), esteve entre os líderes das mobilizações na região. “Foi uma onda nacional que arrebatou toda a sociedade. Deu voz às pessoas, permitiu que milhões se expressassem contra a corrupção e a falta de ética na política”, relembra.

Naquele momento, afirma que nunca havia pensado em se candidatar a algum cargo público. “Minha família sempre participou de discussões. Por consequência, eu também. Mas, se me perguntassem naquela época, não estava em meus planos entrar na política.”

De acordo com ele, colocar o próprio nome para avaliação dos eleitores foi um dos efeitos daqueles dias de protestos. “Entrei para fazer a diferença. Mostrar que podemos ser melhores, pois a política precisa ser um vetor de transformação na vida das pessoas.”

Nos atos, o Partido dos Trabalhadores (PT) era o principal alvo, afirma Braun. “Afinal era quem estava no poder. Muitos escândalos aparecendo, como o Mensalão, além de um cenário econômico terrível, de incongruências de um governo que gastava muito e na fraca articulação política da ex-presidente.”
Para ele, como legado houve rupturas importantes com nomes da política nacional, como o ex-ministro Zé Dirceu e a própria presidente Dilma.

 

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