Feministas e red pills

Opinião

Jandiro Koch

Jandiro Koch

Escritor

Colunista do Caderno Você

Feministas e red pills

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Uma crítica que sempre mantive, apesar dos dentes rangendo, foi ao uso enviesado do conceito de “lugar de fala”, amplamente polinizado por Djamila Ribeiro. Simplesmente porque muitas pessoas não empregaram a noção de saber o seu contexto social como parte relevante nos diálogos, construindo uma ideia rasa de impossibilidade de falas sobre temas relacionados a grupos aos quais não se pertence.

Passado muito tempo, ouvi a Djamila explicar sobre a utilização equivocada, algo que, na minha opinião, deveria ter feito antes. Para um podcast, ela resumiu o problema: sem lerem o seu livro “Lugar de fala”, as pessoas começaram a se colocar pelas redes sociais. Movimentos semelhantes, na internet, têm gerado vários mal entendidos. Um dos temas mais distorcidos é o próprio feminismo.

Fora das discussões conceituais, notória má condução sobre o assunto tem sido feita por coaches e influencers conhecidos com red pills, mormente homens, sem contar alguns grupos religiosos, nos quais mulheres e homens vêm sugerindo a submissão delas a eles como ensinamento bíblico. Do outro lado, muitas mulheres têm colocado esses reacionários no chinelo em divertidas respostas pelo TikTok, Instagram e outras plataformas.

Embora não seja necessário muito esforço intelectual para rebatê-los, acredito que há possibilidade de responder com melhor fundamento. Para que não se repitam erros cometidos no exemplo dado no começo desse texto que, por fim, mais prejudicam do que ajudam. Um excelente livro para compreender as múltiplas movimentações das mulheres, sejam elas liberais ou marxistas, brancas ou negras, heterossexuais ou lésbicas, é “Pensamento feminista: conceitos fundamentais”, coletânea organizada pela mais nova integrante da Academia Brasileira de Letras, Heloísa Buarque de Hollanda.

Com a reunião de nomes como Audre Lorde, Donna Haraway, Joan Scott, Judith Butler, Patrícia Hill Collins, Sueli Carneiro e Teresa de Lauretis, apresenta dezenove textos seminais para entender as direções e os meandros nas pautas feministas. Múltiplas facetas e autocrítica se congregam para evidenciar de onde elas saíram e aonde querem chegar.

Sim, ainda precisam, os LGBTQIA+ e as mulheres, carregar o fardo da responsabilidade de serem melhores conceitualmente – como se quem precisasse mais não fossem os que espalham idiotices. Para evitar que tenhamos o mesmo impacto que deveriam ter os red pills e correlatos: nulo. Para sublimar a possibilidade de tiro no pé: ler.

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