EGR investe R$ 35 milhões, mas buracos voltam a aparecer

CONDIÇÃO PRECÁRIA

EGR investe R$ 35 milhões, mas buracos voltam a aparecer

Autarquia considera intempéries climáticas como motivo para redução na vida útil do pavimento e promete operações pontuais para corrigir falhas

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Atualizado terça-feira,
09 de Maio de 2023 às 12:44

EGR investe R$ 35 milhões, mas buracos voltam a aparecer
Conforme a EGR, há um plano em vigor para manter a manutenção paliativa após o período de chuvas. Crédito: Filipe Faleiro
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

As condições da RSC-453 são alvo de críticas por motoristas e empresários. Essas reclamações surpreendem por ocorrerem menos de seis meses após as obras de recuperação nos quase 30 quilômetros entre Venâncio Aires e Lajeado.

Em junho do ano passado, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) iniciou um plano de melhorias, com aporte de R$ 35 milhões. No pacote constam: reforço na capacidade estrutural, recapeamento asfáltico, melhorias no acostamento e na sinalização
Por meio do portal oficial da autarquia, publicação de 20 de dezembro dava conta de que o pacote de obras estava na reta final. No entanto, no primeiro período de mais chuva, abriram-se muitos buracos.

Inclusive os motoristas questionam a qualidade do material e do serviço contratado pela EGR. “Não lembro de quando tivemos uma rodovia em boas condições. Está sempre esburacada. Fazem manutenção, mas parece ser muito mal feito”, frisa o produtor rural com terras em General Câmara e morador de Lajeado, Jaime Alves de Freitas

O trecho mais crítico vai da divisa de Cruzeiro do Sul com Mato Leitão, até a área urbana de Lajeado. Diante da situação da pista, Freitas realça o risco de danos nos veículos e, até mesmo, de acidentes. “Imagina só, se tiver escuro, nem dá pra ver os buracos. Isso pode resultar em um acidente grave”, alerta e complementa: “o pedágio em si não é caro. Mas pelo menos tem de deixar a rodovia em condições de trânsito.

Diretor de uma indústria de alimentos no Distrito Industrial de Cruzeiro do Sul, Cristian Bergesch, destaca: “a praça de pedágio está em Cruzeiro faz 25 anos. Pagamos a tarifa todo esse tempo e temos pouco retorno.”

A EGR informa que providenciou serviço de tapa-buraco. Conforme a autarquia, as fortes chuvas ocorridas nos últimos dias danificaram o asfalto. Por nota, afirma que esses pontos da estrada que ainda não receberam a manutenção definitiva.

A cada quilômetro, 27 buracos

A reportagem trafegou durante a manhã de ontem de Lajeado até Mato Leitão. O trecho mais crítico vai da praça de pedágio de Cruzeiro do Sul, até a entrada do parque de eventos de Lajeado.

A equipe do A Hora contou os buracos nestes oito quilômetros. Como critério, foram considerados os pontos onde a primeira camada de asfalto cedeu, em que aparece o pavimento sequente. No percurso, foram calculados 222 buracos, uma média de 27,7 por quilômetro. “A cada 100 metros o motorista tem que desviar. E não é só um buraco, são vários e bem fundos”, diz o comerciante de Cruzeiro do Sul, Marlon Siebenborn.

Ele mora a cerca de 4 quilômetros da empresa em que trabalha, que fica às margens da 453. “Chegando hoje pela manhã, me admirei de não ter nenhum motorista empenhado”, ironiza.

Minutos depois e a poucos metros do acesso a empresa onde Siebenborn trabalha, a reportagem encontrou dois veículos parados devido a danos provocados por buracos. Um deles era o industriário em Cruzeiro do Sul e morador de Lajeado, Caleb da Silva. Trafegava no fim da manhã de ontem quando um pneu estourou. “Desviei de um buraco e cai no outro. Tenho que voltar para o trabalho, mas do jeito que está essa rodovia, fico até com medo.”

Moradora de Venâncio Aires, Terlize Carvalho, voltava para casa após o trabalho em Lajeado, quando a roda entortou. “Desviei de três buracos e caí no quarto. Está muito ruim de dirigir. Muito perigoso. Agora vou ter que pagar pelo prejuízo.” O borracheiro Mauro Immich foi quem atendeu Terlize. “Depois da chuva, ficou muito ruim. Só hoje de manhã (ontem), tive de fazer dois socorros”, diz. Sobre os investimentos afirmados da EGR, ironiza: “quanto mais mexem nesse asfalto, fica pior.”

“Representatividade”

Presidente do Conselho de Desenvolvimento da região (Codevat), Luciano Moresco, acredita ser necessário haver uma atuação mais presente tanto da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Concedidos (Agergs), do Ministério Público (MP) e do Tribunal de Contas (TCE).“É uma vergonha que em menos de seis meses a 453 já esteja nessa situação de novo. De quem é a responsabilidade? Cadê a Agergs, o MP ou o Tribunal de Contas? São eles que tem legitimidade para cobrar, pois sabemos que o cidadão tem pouca representatividade.”

Frente ao processo de discussão do novo plano de pedágios, Moresco defende que seja instituído um novo conselho dos usuários, algo feito nos primeiros anos da EGR, mas desmontado durante a gestão de José Ivo Sartori. “Só assim a palavra do usuário será ouvida. Se não for pelo conselho, então que seja pelo fortalecimento da Agergs.”

A agência de regulação passa por mudanças no comando. Durante sessão do conselho em 18 de abril, o presidente Luiz Afonso Senna renunciou ao cargo. Em carta direcionada ao governo do Estado, fez críticas a relação do Piratini com a entidade. “Infelizmente, a governança, independência e autonomia da Agergs neste momento não apenas estão sob risco, como está em andamento um dos ataques mais mortais que já lhe foi desferido”, escreve.

“Muito embora o discurso oficial externo reiteradamente afirme a intenção de fortalecer a agência, de fato, nestes três anos em que estive à frente da Agergs, o que ocorreu foi exatamente o oposto” diz em outro trecho da carta de duas páginas.

Extinção da EGR

Desde o primeiro ano de gestão, o governador Eduardo Leite, tem se manifestado pelo fim da autarquia. A transferência das rodovias concedidas depende do pacote de concessões. “Enquanto entidades, sempre formos contrários a atuação da EGR. Porém, buscamos contribuir com o aprimoramento dos trabalhos. Agora, vemos a extinção como um caminho sem volta”, realça o presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale (CIC-VT), Ivandro Rosa.

Na análise dele, a EGR como prestadora de serviços deixa a desejar. Ainda assim, considera que há três obras importantes em andamento. Tratam-se dos acessos ao Distrito Industrial de Cruzeiro do Sul, ao Parque de Eventos em Lajeado, e a nova rótula em Muçum. “São investimentos que estavam previstos nas concessões e estão sendo antecipados. Serão importantes pois sairão do volume de obras no futuro modelo de pedágios.”

Antecipação de obras

Pelo pacote levado a leilão no ano passado e depois suspenso pelo Piratini, as melhorias na RSC-453 entre Mato Leitão e Cruzeiro do Sul começariam só depois do 20º ano de concessão. “Não podemos esperar todo esse tempo. Por isso houve tamanha mobilização do setor produtivo”, relembra Cristian Bergesch.

O presidente da CIC-VT reforça essa posição. “É um trecho muito importante, pois liga dois vales, o Rio Pardo e o Taquari”. De acordo com Rosa, existem algumas particularidades na rodovia. “Temos do trecho do Distrito Industrial até Lajeado um alto tráfego. No nosso entendimento, este percurso deve ser prioridade.”

O empresário Bergesch concorda. “Não temos nem acesso ao Distrito Industrial. São dezenas de caminhões, que precisam cruzar a pista. Se formos ver todas as empresas ali, são mais de 500 pessoas. Todas expostas a um risco devido as más condições da pista.”

Seminário debate pedágios

Em 18 de maio ocorre o 1ª Fórum sobre implantação do free flow (modelo de pagamento automático da tarifa). Será na Univates, a partir das 16h30min. Conforme líderes locais, o encontro vai debater novas tecnologias de cobrança, bem como as necessidades da região quanto ao novo sistema elaborado pelo governo do Estado.

Palavra da autarquia

Conforme a autarquia, há um plano de recuperação da 453 em vigência. Por meio de nota, afirma que desde agosto foram feitas restauração das camadas mais profundas da pista para resolver problemas.

No trecho mais crítico, do quilômetro 20 ao 29 (Cruzeiro do Sul a Lajeado), serão feitas obras de recuperação após a implantação das quatro rotatórias previstas (nos quilômetros 23, 25, 27 e 29), sendo que a obra da rotatória do quilômetro 27 da RSC-453, em Lajeado, já está em andamento desde o dia 27 de fevereiro

“Após a conclusão, a EGR dará início à construção da segunda intervenção, na altura do quilômetro 29 da rodovia. Essas obras visam aprimorar a qualidade do fluxo de veículos em direção ao perímetro urbano do município, além de trazer mais segurança para a comunidade do bairro Floresta e arredores.”

Além das rotatórias previstas nos quilômetros 27 e 29, a EGR lançou um processo licitatório com objetivo de contratar empresas para a execução de mais duas rotatórias.

Uma na interseção no acesso secundário a Cruzeiro do Sul, junto à rua Frederico Germano Haenssgen, e a outra no quilômetro no acesso ao distrito industrial, com investimento de R$ 5,5 milhões.

Conforme a autarquia, em menos de nove quilômetros, serão quatro rotatórias. O que terá melhorias para o fluxo, além de mais segurança aos condutores.

“Tão logo a EGR finalize essas quatro intervenções, será implantada a nova camada asfáltica e a sinalização horizontal e vertical em todo o trecho do quilômetro 20, em Cruzeiro do Sul ao 29, em Lajeado”, frisa a nota.

Problema recorrente

Há um ano, reportagem do A Hora mostrava as condições precárias da RSC-453. Em cima disso, líderes locais formaram um grupo para cobrar melhorias na infraestrutura da rodovia.

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