Vírgula ou ponto final: o adeus sempre chega

Opinião

João Lucas Feldens Catto

João Lucas Feldens Catto

Advogado desportivo

Vírgula ou ponto final: o adeus sempre chega

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Uma grande história sempre é escrita sob duas narrativas: o sucesso ou a busca incessante por ele. Para os grandes ídolos, suas despedidas são sempre carregadas de homenagens e momentos emocionantes. Essa emoção toma conta porque, independentemente de ter alcançado o sucesso, passa o filme da vida em sua cabeça, onde relembra dos momentos de dificuldade em que saiu de casa quando criança, abdicou por muitos anos de sua família apostando que a redenção um dia chegaria

Para esses, a fama, dinheiro e o sucesso chegaram, mas apesar disso, a carreira do atleta profissional é curta e o momento de “pendurar as chuteiras” vai chegar, onde ele encerra uma etapa importante de sua vida. Ele se afasta do esporte que chamou de profissão, deixando para trás uma parte de si mesmo. Há quem diga que essa é a primeira morte do atleta.

Por outro lado, nem toda história é de absoluto sucesso. Pelo contrário, apenas 1% dos atletas profissionais consegue encerrar essa etapa, pendurar a sua companheira de trabalho de quase 30 anos e apenas viver. Não é demagogia, mas em qualquer profissão o trabalho remunerado pode começar a partir de 16 anos de idade e, na medida que trabalhar por determinado tempo, ele vai se aposentar.

Já o atleta começa a trilhar o seu caminho, treinando todos os dias, faça chuva ou faça sol, desde criança e já sabendo que jamais vai se aposentar sendo atleta. Ao decidir parar de jogar, ele simplesmente deixa de lado anos de dedicação extrema para encarar uma nova realidade e uma nova profissão. Nessa próxima etapa, o atleta (agora ex-atleta) tem que se reinventar e começar uma vida totalmente do zero, justamente quando a maioria das pessoas já se encontram consolidados em suas carreiras que (essas sim) podem durar para o resto de suas vidas.

Mas se até os atletas do primeiro exemplo passam por dificuldades nessa transição, o que dizer da grande maioria que passa longe dos holofotes da mídia e da fama? O atleta que passa sua carreira toda em clubes de menor expressão, sem aqueles contratos milionários, vive de incertezas buscando a oportunidade de ter uma vida digna em sua profissão e, por muitas vezes, tem que tomar essa decisão de encerrar a carreira sozinho, pesando contra ele os problemas do futebol de verdade: frustrações, mentiras e falta de reconhecimento.

É, chega o momento de deixar para trás uma grande parte da sua identidade e essa etapa é muito dolorida. Isso eu posso afirmar. Mas apesar dessa difícil etapa, cada vez mais tenho visto um importante movimento de preparação para essa transição. O atleta não é aquele que apenas joga futebol, mas é aquele profissional que molda sua vida para a carreira e que já tem consciência que ela é passageira e, por muitas vezes, curta.

Então, que tenhamos mais atletas profissionais e menos jogadores de futebol, pois a vida do atleta é feita de escolhas, seja ela de começar a apostar na incerteza de um sonho desde muito cedo e quando o realiza, independentemente de ter fama, glamour ou sucesso, o ponto final da carreira vai chegar, cabendo ao atleta fazer desse ponto final uma vírgula para uma nova jornada.

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