Direção nega tamanho da dívida e critica a imprensa

CRISE NA LANGUIRU

Direção nega tamanho da dívida e critica a imprensa

Em nota, presidência afirma que “medidas austeras e estratégicas estão sendo adotadas para superar momento difícil”. Também frisa que a Languiru tem sido foco de exaustivos questionamentos e divulgações excessivas em veículos de comunicação, o que prejudicaria a saúde financeira e a credibilidade da cooperativa

Direção nega tamanho da dívida e critica a imprensa
Crédito: Divulgação
Vale do Taquari

A situação financeira da Languiru gera angústia na comunidade regional e provoca reação entre representantes dos produtores rurais e entre agentes públicos. Em resposta após publicação do A Hora dessa sexta-feira, a gestão da cooperativa emitiu uma nota oficial.

Leia a reportagem Languiru à beira do colapso

No material, afirma que a dívida não atinge R$ 1,8 bilhão. “(…) percebe-se claramente que se trata de uma INVERDADE, demonstrando que a publicação se baseou em interpretação oportunista e de má-fé, em desfavor da Cooperativa e seu dirigente”.

Pelos dados apresentados, a direção admite ter contraído dívidas, “visando a continuidade de suas operações”. Com os bancos, o valor bruto alcança R$ 826,8 milhões. Ao deduzir as aplicações financeiras, corresponderia a R$ 723,8 milhões em obrigações de curto e longo prazo, com pagamentos previstos até 2037, diz a nota (confira a íntegra ao lado).

“Além disso, importante esclarecer que a participação da dívida líquida sobre o faturamento representa 28,7%, sendo que no ano de 2022, até o mês de novembro (mesma base), esse já somava R$ 2,5 bilhões.”
Conforme apurou o A Hora, o rombo na Languiru só com as instituições bancárias atinge R$ 826,8 milhões. Na resposta da presidência, não consta os débitos com os terceirizados, fornecedores e transportadoras. Somado isso, conforme estimativa extraoficial, se chega a ordem de R$ 1,8 bilhão.

Na tarde dessa sexta-feira, a equipe encarregada de renegociar as dívidas da Languiru com as instituições financeira apresentou a proposta para os próximos anos. A estratégia da cooperativa é tentar mais prazos dos financiamentos atuais e obter novos créditos. A partir desse encontro, se iniciam conversas individuais com cada credor.

“Salvar o associado”

Uma reunião entre gestores públicos da região está marcada para segunda-feira, às 8h, no gabinete do prefeito de Teutônia, Celso Forneck. O propósito, segundo o presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) e prefeito de Estrela, Elmar Schneider, é organizar ações das autoridades públicas para evitar o desmantelamento do quadro de associados e saber quais os riscos dos produtores terem perdas financeiras.
“O quadro nos preocupa, pois se trata de uma cooperativa fundamental para a nossa região, tanto na área econômica quanto social. Precisamos saber se esses problemas vão atingir os agricultores. Nossa preocupação é salvar o associado. Sem ele, não existe cooperativa”, diz Schneider.
Na avaliação dele, diante das incertezas quanto o futuro da Languiru, cria-se um movimento que pode fragilizar o quadro associativo. “Se os produtores começarem a sair, será mais difícil de se recuperar.”
Para Schneider, o conselho administrativo deve chamar uma assembleia extraordinária para apresentar os dados e avaliar os próximos passos de continuidade ou não da atual gestão. O próximo encontro de associados está marcado para 30 de março.

Mudança no comando

Deputado federal em quarto mandato e integrante da maior bancada da Câmara dos Deputados, Giovani Cherini (PL) entende que a primeira saída para a Languiru superar a crise é o afastamento da atual diretoria. Ele esteve em Estrela, onde acompanhou a posse de Renata Cherini, na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, e repercutiu o assunto. Renata é casada com o irmão do deputado.
Com atuação baseada na defesa do cooperativismo e experiência no setor, o parlamentar avalia que a situação da Languiru ocorre, sobretudo, por falta de gestão transparente com os associados. Por isso, defende que um novo grupo assuma a cooperativa, com novos propósitos e amplo apoio externo.
“Com apoio da Ocergs, da Fecoagro, dos prefeitos e lideranças regionais a esse grupo novo, separando a dívida e mantendo associados num outro grupo, é possível evitar que a Languiru entre em liquidação. Se isso ocorrer, o prejuízo é fatal aos associados. Não adianta fugir agora. Se fugir, vai pagar a conta. Se não fugir, a conta é viável”, pondera.
Apesar do montante expressivo de dívidas – que giram na casa de R$ 1,8 bilhão –, Cherini acredita que o montante não é “assustador” e que a Languiru tem a capacidade de dar a volta por cima. Porém, precisa agir o quanto antes.
“É preciso tomar medidas urgentes. Não pode continuar na mesma linha, com a mesma direção, fazendo as mesmas coisas. Tem que haver mudança de pensamento, com mais transparência nas atitudes e ações. Não adianta apenas investir, investir e investir, quando não há a necessidade disso”.

Audiência no Piratini

A situação da Languiru ecoa também em Porto Alegre. Surpreso com as proporções tomadas pela crise, o deputado estadual Airton Artus (PDT) vai aproveitar a agenda com o vice-governador Gabriel Souza para abordar o drama da cooperativa. O encontro ocorre na próxima segunda-feira, 6, às 11h30min.
“Eu já tinha essa audiência confirmada com ele. Estou incluindo esse assunto, pois tomou uma proporção muito grande. Pegou todo mundo de surpresa, pelo tamanho do rombo, e é uma questão urgente a ser resolvida. Torcemos para que um mínimo de produtores rurais seja prejudicado”, afirma.
Na terça-feira, 7, em Santa Cruz do Sul, Artus também pretende conversar com Eduardo Leite a respeito da Languiru. O governador participará de reunião-almoço no município do Vale do Rio Pardo. Desdobramentos também devem ocorrer na reunião da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, da Assembleia Legislativa.
Artus entende que, primeiro, é necessário fazer um diagnóstico completo da crise, até para evitar um efeito cascata. Depois, avaliar o que levou a Languiru à beira do colapso. “Sabemos que uma das causas é o preço dos insumos. Isso também influencia. Mas é um setor que vinha pujante até pouco tempo. Tem que entender se foi um fato isolado ou se pode contaminar o setor”.

NOTA DE ESCLARECIMENTO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA LANGUIRU

O Conselho de Administração da Cooperativa Languiru Ltda vem a público manifestar-se quanto às últimas publicações, na mídia regional, as quais objetivaram não informar, mas sim prejudicar deliberadamente a imagem de uma Cooperativa que há 67 anos vem contribuindo decisiva e especialmente com desenvolvimento do Vale do Taquari, contemplando seus associados, empregados, terceiros e comunidade em geral.
Informamos que documentos prévios, realizados por terceiros, para fins específicos de uma instituição financeira, os quais foram encaminhados unicamente para algumas Instituições Financeiras, foram disseminados e divulgados, sem autorização, em mídias (falada, escrita e digital), causando um enorme prejuízo à imagem da Cooperativa Languiru. O conteúdo do referido estudo foi divulgado fora do contexto em que foi produzido, gerando interpretações maldosas e distorcidas.
É público e notório que a Cooperativa Languiru, assim como muitas outras empresas, está atravessando momentos de dificuldades financeiras, o que já foi amplamente compartilhado com seus associados e comunidade (inclusive em reunião da AMVAT), não podendo se falar em falta de transparência, muito menos de um fato novo.
Visando a superação de tal momento, medidas austeras e estratégicas estão sendo adotadas para que a Cooperativa possa atravessar mais este momento. Entretanto, ao contrário do que ocorre com outras empresas, que também estão passando por dificuldades financeiras, somente a Languiru está sendo foco de exaustivos questionamentos e divulgações excessivas pela imprensa, o que acaba prejudicando e comprometendo a saúde financeira e a credibilidade da Cooperativa Languiru.
De fato, a Languiru contraiu dívidas, assim como tantas outras, visando a continuidade de suas operações. Referente as dívidas, posição 30/11/2022 (base utilizada pela imprensa), essas atingiam o montante de R$ 826,8 milhões (dívida bruta), porém, o montante líquido (deduzido de suas aplicações financeiras) correspondia a R$ 723,8 milhões, em obrigações classificadas em curto e longo prazos (estendendo-se as de longo prazo até o ano 2037). Além disso, importante esclarecer que a participação da dívida líquida sobre o faturamento representa 28,7%, sendo que no ano de 2022, até o mês de novembro (mesma base), esse já somava R$ 2,5 bilhões.
Sobre o montante da dívida publicado, que supostamente se aproximaria a R$ 1,8 bi, percebe-se claramente que se trata de uma INVERDADE, demonstrando que a publicação se baseou em interpretação oportunista e de má-fé, em desfavor da Cooperativa e seu dirigente.
Feitas essas colocações, o Conselho de Administração alerta sobre a importância da análise acerca das informações e números divulgados pela imprensa regional. O Relatório divulgado trata-se de um material prévio (objeto de análise específica por empresa terceira, contratada por uma Instituição Financeira), tendo a divulgação pela mídia regional ocorrido “fora de contexto”.
Em uma sociedade em que todos têm o mesmo objetivo, o fortalecimento e a união de esforços faz com que seja possível superar toda e qualquer crise. É preciso nos darmos as mãos para que juntos, mais uma vez, associados, empregados, prestadores de serviços e terceiros em geral, possamos fazer com que a Languiru continue sendo referência na agregação de valor aos produtos oriundos de propriedades rurais de seus associados, estimulando o empreendedorismo, a inovação, a melhoria contínua e o respeito à tradição da Cooperativa, oferecendo alimentos e serviços de qualidade à sociedade.
Mais informações serão prestadas, aos associados, na Assembleia Geral, a ocorrer em 30/03/2023.

Teutônia/RS, 03 de março de 2023.

Dirceu Bayer, Presidente

Mais detalhes da crise da cooperativa em:

O caso Languiru e o jornalismo necessário – por Fernando Weiss

União e renovação na Languiru –  por Rodrigo Martini

A busca da verdade e da solução – por Fabiano Conte

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