Não há escolha sem custo

Opinião

Guilherme Cé

Guilherme Cé

Economista

Não há escolha sem custo

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O ano era 1967 e o então ministro do Planejamento Roberto Campos, na sua despedida do cargo, alertava que “todo o mundo gostaria de atingir um máximo de desenvolvimento com um mínimo de inflação, mas aqueles que pensarem que é possível afrouxar o combate à inflação, para estimular o desenvolvimento, acabarão tendo muito mais inflação que desenvolvimento.

” Coincidência do destino ou não, mais de 55 anos depois, é o seu neto, Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, que vem sendo apontado como o vilão da vez pelo novo presidente da República. O “crime” de Campos Neto é defender o óbvio: um país que não faz o esforço fiscal necessário para equilibrar suas contas terá que conviver com taxas de juros maiores por mais tempo para tentar segurar a inflação.

O PT, como já fez no passado, aponta o dedo para a SELIC como se ela fosse causa e não consequência. No último governo petista vimos que a tentativa de baixar os juros na marra, comandado pela dupla Mantega na Fazenda e Tombini no BC, resultou em menos desenvolvimento e mais inflação. Tudo isso é história e está amplamente comprovado pelos dados, por mais que alguns, incrivelmente, ainda insistam em negar o fracasso da “nova matriz econômica”. Felizmente, o Banco Central hoje é independente e não está sujeito a interferência política. Ainda…

O governo abrir fogo contra o BC sem fazer o dever de casa resultará em mais incerteza, mais juros e inflação. As expectativas econômicas futuras já retratam isso. E, nunca é demais repetir, a inflação é o imposto mais cruel justamente com os menos favorecidos, que veem sua renda ser corroída diariamente sem ter condições de se proteger. Quem diz defender os mais vulneráveis deveria ter o controle inflacionário como premissa inegociável e não vai ser atacando a instituição “guardiã da moeda” que fará isso.

O fato é que não há escolha sem custo. Só há uma forma de reduzir de forma sustentável a nossa taxa de juros e ela passa, obrigatoriamente, por mais responsabilidade fiscal. É necessário fazer um ajuste fiscal sólido, que torne possível reequilibrar as contas e coloque a nossa dívida pública em patamares aceitáveis, reduzindo o risco de crédito do país.

Esforço fiscal que deveria, necessariamente, passar por redução de gastos, além, é claro, de uma maior efetividade na aplicação dos recursos dos pagadores de impostos. Gastar mais (e em tudo) não é gastar melhor. Gritar contra a taxa de juros serve justamente para aumentar a incerteza e o risco, fazendo com que os credores vejam ser necessário um prêmio maior (leia-se juros) para emprestar para aquele que grita, mas não será capaz de fechar as contas no azul…

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