A fórmula de dona Iva Araújo Huber, 81, para se manter ativa e feliz inclui encontros com os amigos e a família. Ler o jornal e jogar cartas também fazem parte do pacote. Por anos, ela liderou o grupo de idosos Sempre Felizes, que se encontra duas vezes por mês para cantar, dançar, dar risada, organizar viagens. Uma festa que mantinha a energia vibrante e o espírito jovem.
Iva faz parte das mais de 30 milhões de pessoas acima de 60 anos no Brasil. Mas, por se preocupar com a saúde mental e viver em condições externas positivas, está fora dos índices de ansiedade e depressão na terceira idade no país, que se agravou a partir de 2020.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, a população entre 60 e 64 anos era considerada a mais afetada pela depressão. Entre os principais motivos estava o abandono familiar e a falta de propósito após a aposentadoria.
O isolamento social, o medo, o luto e a insegurança durante a pandemia agravaram o cenário e essa faixa etária continua em foco de campanhas como Janeiro Branco, que busca incentivar, já no início do ano, o cuidado com a saúde mental.
Ombro amigo
Atividades como as desempenhadas por Iva ajudam a manter a mente equilibrada. Hoje, com dores no joelho e problemas no coração, ela já não consegue mais ir às reuniões todos os meses. Mesmo assim, segue como conselheira do grupo.
“Eu olho nos olhos e já sei quem tá precisando de uma palavrinha. Sabe que a gente, idosa, é complicada, porque tem dias que a gente não está de bem com a vida, né? Tudo incomoda, é uma dor ali e aqui, e às vezes a gente desanima”, comenta.
Mesmo antes do isolamento social, Iva já percebia as dificuldades emocionais dos amigos da mesma faixa etária. Há seis anos, soube que um integrante do grupo estava com depressão profunda. Mas Iva acredita que os encontros animados do Sempre Felizes ajudaram a aliviar a dor do amigo e recuperar a vontade de viver.
De volta ao violão
A última Pesquisa Nacional de Saúde, publicada em 2019, aponta que a depressão atinge cerca de 13% da população brasileira entre os 60 e 64 anos de idade. Para que a doença seja amenizada, a família tem importante papel de cuidado. Além disso, a busca por atividades de lazer é responsável por incentivar o idoso a se manter saudável.
Aos 71 anos, é isso o que o aposentado Sirio Giovanella procura. Acostumado a tocar violão quando mais novo, o morador de Lajeado mantinha, inclusive, uma banda com os amigos. Com o tempo, a prática foi deixada de lado. Mas, no ano passado, começou a frequentar aulas de música ao lado do neto Pedro, de 10 anos.
“Há mais de 30 anos, aprendi a tocar de ouvido. Hoje, meu neto sabe melhor do que eu as notas e acordes. Ainda estou meio sem agilidade nos dedos, mas a gente vai seguindo”. O aposentado conta que ele e a esposa queriam voltar a morar no interior, mas a saudade dos netos fez com que voltassem à cidade. “A gurizada faz muita falta pra nós. Dois, três dias tu ficar lá, tudo bem, mas depois sente saudades”, diz.
Idosa aos 60 anos?
Com seis décadas de vida, a psicóloga Cynara Arenhart, passou a integrar o público da terceira idade faz pouco tempo e acredita que, hoje, ser idoso não implica em ter limitações. “Anos atrás uma pessoa de 60 anos era mais debilitada mesmo. Hoje eu corro, faço academia, ando de moto, tenho uma vida super agitada. Pretendo, se a saúde permitir, ir até os 75 anos andando de moto”, destaca. Para ela, a idade está longe de ser um problema. “Eu vejo que ser um pouco mais velha me favoreceu muito. Tenho mais liberdade”, conta.
O envelhecer só se tornou uma preocupação quando, aos 50 anos, percebeu que precisava buscar por atividades físicas para garantir a saúde e bem-estar. Foi nessa época que Cynara começou a correr e até hoje frequenta a academia. Além das atividades físicas, a psicóloga salienta a importância das boas relações para envelhecer com saúde.