Feliz ano velho?

Opinião

Guilherme Cé

Guilherme Cé

Economista

Feliz ano velho?

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Tinha me proposto a não falar de política nesse começo de ano. Mas a velocidade e a intensidade dos acontecimentos me fizeram desistir. Há pouco menos de dois meses escrevi aqui que o novo governo Lula não teria margem para erros e precisaria mostrar, já de início, qual caminho seguiria: o de união e moderação, que o fez ter apoios improváveis durante a eleição, ou o do petismo tradicional, com o velho discurso do “nós contra eles” e de “vamos desfazer as reformas feitas”.

É verdade que temos muitos ruídos, com cada um querendo aparecer mais do que o outro, mas olhando a composição do ministério e os discursos parece que estamos vendo uma repetição do passado. Não dos acertos, mas sim dos erros, por mais que alguns insistam em ignorar o fracasso econômico e social que as medidas que agora se propõe repetir nos causaram.

Abro um parênteses aqui para registrar que houveram sim algumas (poucas) boas nomeações e, também, que muitos dos ministérios do governo anterior pouco entregaram, com destaque negativo especial para Educação – aliás, alguém se lembra do nome dos ministros que passaram por lá?

Se Lula I teve a capacidade de se cercar de bons técnicos na economia, deixando a ala ideológica para outros ministérios, em 2023 já começamos mais perto do Lula II e, pior, do governo Dilma do que qualquer outra coisa. Não canso de repetir, até porque ainda tem quem negue e ignore os dados, que a crise que estourou no país no governo Dilma foi sendo plantada nos anos anteriores.

Além disso, ao contrário do que contam, os governos Lula não foram de crescimento expressivo. Quando o desempenho brasileiro no período é comparado com a média do mundo vemos que crescemos praticamente o mesmo. Quando comparado com países emergentes ou nossos vizinhos sul americanos nosso desempenho foi bem inferior. Na era Dilma nem se fala…

O fato é que o governo Lula III recém começou, porém já temos motivos suficientes para nos preocupar. Pode até parecer pegação de pé, mas não é. Não esqueçam que os que cansaram de apontar os erros no passado eram chamados de pessimistas e que a crise óbvia de 2014-16 por muito tempo foi negada. Se o atual governo insistir em repetir o passado – que não, não foi uma era de ouro em termos de desenvolvimento no país – o resultado, infelizmente, é certo.

O curto prazo pode até, outra vez, nos fazer flertar com a ideia de que o desenvolvimentismo heterodoxo dessa vez vai dar certo, mas já adianto que não vai. Se o passado pouco ensinou aos líderes petistas, espero que ao menos tenha deixado lições para que grande parte da sociedade esteja mais vigilante para combater o populismo e a irresponsabilidade fiscal.

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