Uso precoce de álcool e outras drogas cresce quase 20% em dez anos

RISCO NA ADOLESCÊNCIA

Uso precoce de álcool e outras drogas cresce quase 20% em dez anos

Em cada dez adolescentes, oito já experimentaram alguma substância psicoativa, mostra pesquisa. Especialistas alertam para prejuízos à cognição e ao organismo

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Atualizado quarta-feira,
07 de Dezembro de 2022 às 07:58

Uso precoce de álcool e outras drogas cresce quase 20% em dez anos
Terceiro diagnóstico sobre o uso precoce foi apresentado ontem, no aniversário de dez anos do programa. Crédito: Filipe Faleiro
Lajeado
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No aniversário de dez anos do programa Vida+Viva sem Álcool, o comitê técnico apresentou o terceiro diagnóstico sobre o uso precoce de substâncias psicoativas. A cerimônia ocorreu na manhã de ontem no teatro do Sesc. “São jovens com comportamentos de adultos, pelo menos no que se refere ao consumo de substâncias psicoativas”, resume o coordenador da pesquisa, o professor doutor Luís César de Castro.

Houve um aumento perto dos 20% nos índices de experimentação de álcool e outros compostos químicos ante os dados atuais. Em 2002, primeira edição, 62% dos jovens de 12 a 17 anos confirmaram ter experimentado alguma substância. Na pesquisa mais recente, esse percentual foi de 80%.

“Percebemos um aumento vertiginoso e com o avança na idade, na faixa dos 16 a 17 anos, mais presente está esse consumo, em especial do álcool”, avalia o pesquisador. De acordo com Cunha, outro fator preocupante está na elevação do consumo em idades mais tenras. No relato dos menores, experimentações antes dos 10 anos.

O primeiro contato é em casa, com a família, realça. “Uma das características se sustenta na licitude das bebidas alcoólicas. Na interação que tivemos com as escolas, na pesquisa, nos trabalhos, os menores não veem uma proibição do uso. Mas o direito de não usar.”

Este aspecto precisa ser destacado. “Devemos reforçar. O jovem tem o direito de não usar álcool, por todos os prejuízos que isso acarreta ao desenvolvimento pessoal”. De acordo com Cunha, quanto mais precoce esse contato, mais risco de dependência. Como resultado, perdas cognitivas, emocionais, nas relações sociais e também impacto sobre os índices de violência.

Esta edição foi a maior já feita, com mais de 2 mil questionários aplicados. Pela profundidade da pesquisa e o formato de aplicação digital, são possíveis análises estatísticas para além do espectro do consumo de entorpecentes. A consulta aos menores foi autoaplicável com preservação de anonimato. O estudante recebeu por meio digital, leu e respondeu sem qualquer contato ou entrevista de terceiros. Isso proporciona o sigilo e proteção ao menor, ressalta o coordenador do estudo.

Distúrbios emocionais

As bebidas alcoólicas lideram a incidência de consumo entre os menores. Algo próximo dos 70% dos entrevistados admitem terem contato com a substância. Outros produtos também se apresentam como fatores de risco. Neste aspecto, a presença de ansiolíticos, hipnóticos e anorexígenos no cotidiano dos jovens.

Pelos dados, 31,1% dos adolescentes relataram dificuldades para dormir. Preocupação e ansiedade além do normal para 58,9% e fadiga o tempo todo para 46,3%. Nestes percentuais sobre saúde mental, quase 30% afirmaram não ter prazer nas atividades do dia a dia.

Como resultado, mais do que dobrou o uso de fármacos para distúrbios emocionais na comparação com os estudos anteriores. Em 2012, era de 8%. Na segunda edição (2017/18) passou para 11% e em 2022 chegou a 29,3%.

Cigarros eletrônicos

O tabaco perdeu espaço para os cigarros eletrônicos. Pela análise do programa, os cigarros comuns tiveram redução no uso (de 23,3% em 2017/18, para 17,9% em 2022). Por outro lado, os dispositivos eletrônicos de fumar (DEFs) alcançaram uma experimentação de 26,4%.

Conforme o comitê técnico, o uso induz à dependência, por conter nicotina, e também eleva as chances do uso de cigarros convencionais. Substância cancerígena, aparece como consumo junto com o álcool.

Pela conclusão da pesquisa, há pouco acompanhamento dos parentes a exposição dos cigarros. Dentre os entrevistados, 79,8% afirmaram que presenciam pessoas em seus círculos sociais fumando, em especial pais e colegas.

Programa consolidado

Um fórum para debater os riscos da exposição precoce para substâncias psicoativas, o Vida+Viva reúne instituições públicas, empresas, escolas, e instituições sociais para tratar do tema. Por meio de atividades lúdicas, seminários e o acompanhamento feito pelas pesquisas, busca elevar a consciência dos jovens e das famílias sobre o malefício do álcool e das drogas.

Nesta primeira década, o coordenador Neidemar Fachinetto considera que foi possível consolidar o programa. Ao longo deste tempo, estima que mais de 30 mil jovens foram impactados de alguma forma. “Este é um momento para agradecermos. Conseguimos tornar o Vida+Viva uma ação permanente. Contamos com o apoio da comunidade, das organizações e dos gestores públicos para continuarmos.”

Na cerimônia de ontem, também foi um momento de homenagens para parceiros, voluntários e apoiadores. Entre eles, o juiz-corregedor Luís Antônio de Abreu Johnson. “Temos de lutar, esclarecer e prevenir cada vez mais. Desconheço região ou cidade do nosso estado com um projeto dessa envergadura.” O prefeito Marcelo Caumo também destaca a importância do Vida+Viva. “Um projeto pioneiro e que auxilia nas políticas públicas de enfrentamento ao uso dessas substâncias.”

A reitora da Univates, Evania Schneider, realça o propósito da instituição de ensino seguir como parceira. “É nosso dever contribuir. Seja com a presença dos docentes, dos alunos por meio de projetos de extensão”. Para ela, os resultados mostram que é preciso atividades para preencher o tempo livre dos menores. “O ensino, o exercício físico e o trabalho dão sentido à vida. Precisamos intensificar isso para reduzir a incidência de uso do álcool e drogas.”

O programa é mantido pela Associação Lajeadense Pró-Segurança Pública (Alsepro), conta com a parceria da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Ministério Público (MP), Poder Judiciário, Sesi, 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e Administração de Lajeado. Ontem também ocorreu a abertura da mostra de atividades nas escolas. Os materiais ficarão expostos no Sesc por um mês.


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