Engenheiros do caos

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Engenheiros do caos

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Um universo paralelo se criou. As fendas da realidade despertaram trevas até então esquecidas. Toda a distopia social criada por uma grande rede de desinformação. Pode parecer que estou falando do pós-eleição. Engana-se. É do livro O Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.

Daquela ficção pós-apocalíptica, escrita na década de 30, existem aspectos similares aos de hoje. Naquela sociedade norteada pelas sensações, a verdade é relativizada. Depende de qual bolha pertencemos.

Intrigante. É como se uma inteligência artificial pudesse interferir na vida, nas escolhas e no próprio indivíduo. Entre confiar no noticiário, no Jornal Nacional, ou considerar teorias conspiratórias pouco verossímeis, mas alinhadas com minha “forma de ver o mundo”, muitos ficam com a segunda.
Os métodos de controle hoje usam algoritmos e megaplataformas digitais. A experiência de navegação do indivíduo o leva por um intrincado sistema. Para saber um pouco mais sobre isso, aconselho ler “Os engenheiros do caos”, do escritor italiano Giuliano Da Empoli, best-seller traduzido para 12 idiomas, com 50 mil exemplares vendidos no Brasil.

Mais uma vez a literatura ajuda a compreender a realidade. No livro, esses engenheiros são novos conselheiros políticos do populismo, orientados pela IA, criam informações falsas e teorias diversas para dividir sociedades, gerar um distanciamento do “nós contra eles” e, assim, conquistar o poder.


Redes sociais emburrecem

Uma mentira tem 70% mais de chance de ser propagada do que a verdade, como mostra pesquisa do MIT de Massachusetts. A economia de cliques e compartilhamentos torna as redes sociais um arcabouço de desinformação.

Como o usuário fica em um looping eterno em conteúdos direcionados para suas preferências, tudo que está fora desse espectro parece irreal ou mentiroso.

Os interesses por trás desse fenômeno têm potencial de conduzir o destino de uma nação. E o indivíduo, usuário, que preza pela liberdade, que acredita ter discernimento, é usado como massa de manobra.

  • Notícias falsas têm 70% mais chance de serem compartilhadas do que as verdadeiras (Pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
  • Cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas sobre política no Brasil.
  • Se considerada a média de 200 seguidores por usuário, o alcance pode chegar a toda a população. (Grupo de Pesquisa em Política Pública para o Acesso à Informação da USP).

Falta de perspectiva

Jovens sem trabalho e que também não estudam. O Brasil tem o 2º maior percentual dos “nem e nem” entre os países membros da Organização à Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Pelos dados, 36% das pessoas entre 18 e 24 anos não conseguem um trabalho e nem continuar os estudos. Estamos atrás apenas da África do Sul. Essa falta de perspectiva para o futuro é um problema estrutural. Um desafio geracional para o mercado de trabalho e muito difícil de ser superado.

Esses dados estão presentes no relatório Education At a Glance (“Olhar sobre a Educação”, em tradução livre). Na conclusão, o estudo aponta que não ter uma atividade profissional pode causar “consequências duradouras, especialmente quando a pessoa passa por períodos longos de desemprego ou inatividade.”

Outro fator muito relevante é a classe social. Em geral, mais de 50% dos jovens nem e nem estão nas faixas mais vulneráveis. Por esses dados, reforço a importância de políticas voltadas à profissionalização dos estudantes ainda durante o Ensino Médio. Que se dê oportunidades de conhecimento em áreas de atuação. Essa experiência com o mundo do trabalho pode fazer a diferença na vida de toda uma geração.

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