Digital influencer?

Opinião

Jandiro Koch

Jandiro Koch

Escritor

Colunista do Caderno Você

Digital influencer?

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A modernidade nos brindou com muita coisa. No entanto, as possibilidades de comunicação e de interações sociais ampliadas geram ansiedade, síndrome de burnout e correlatos – porque não conseguimos mais desligar.

Além de alimentados aquém da necessidade, notícias falsas, pseudoconhecimento e opiniões sem fundamentação nos incham e inflamam. Um exemplo de compartilhamento que causou mal-estar foi a declaração feita pela primeira-dama de Lajeado sobre o que ocorreu com Seu Jorge, no final de um show no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre.

Em suma, o cantor argumentou ter escutado ofensas racistas provenientes de uma plateia formada por brancos. Não havia negros entre os espectadores. Essa ausência, se alguém não entendeu, é um dos indicadores mais seguros de segregações étnico-raciais associadas às de classe social. Diante do relato do artista, a primeira-dama gravou um videozinho, desses à moda de digital influencer.

Entre o toc-toc dos sapatos no piso da casa de alto padrão, ela disse: “Será que nenhum branco que estava na plateia não ficou incomodado com a história dele dizer que ficou surpreso que não tinha nenhum negro? Pra que fazer segregação?”

Teor e tom deselegantes revelaram uma forma deturpada de olhar para a realidade, na qual as diferenças são apagadas. Isso permite que as pessoas possam se esquivar de questões historicamente colocadas e das difíceis formas de mitigar suas consequências negativas. O mantra “somos todos iguais” é falso – infelizmente. Estamos separados nos acessos e nos usufrutos. De fato, deveríamos ser mais iguais em oportunidades e reconhecimentos, ninguém discorda.

Não são todos irresponsáveis, mas falácias de blogueiros, youtubers, tiktokers e assemelhados têm nublado a visão de muitas pessoas. O prefeito Marcelo Caumo, face à repercussão gerada, tem a oportunidade de demonstrar que as desculpas ofertadas por sua esposa – sim, houve um pronunciamento – foram refletidas. Através da Secretaria de Cultura, pode trazer nomes aptos a abordar o racismo estrutural ou para falar sobre o que acreditam ser pertinente. Quem? Gilson dos Anjos, Nathallia Protazio, Ronald Augusto e Rosane Cardoso são ótimas referências.

O ideal é que nós, brancos, demandemos esse evento sem que os negros precisem se desgastar – afinal, o erro partiu de cá. Isso é agir minimamente como antirracista. Obviamente, ninguém organiza a casa dos outros de graça. O que não é óbice para um município tão rico. Estar na plateia também seria exemplo.

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