Melanie Klein nasceu em Viena em 1882. Seu pai Moritz Reises era um judeu estudioso do Talmude, mas rompeu com a ortodoxia religiosa e formou-se em medicina. Ele nunca teve muito sucesso na profissão pelo fato de ser judeu, e também de ter origem polonesa, o que significava pertencer a uma classe desfavorecida dentro da hierarquia social judaica.
Melanie nasceu do segundo casamento de seu pai e era a mais jovem dos quatro filhos. Ela não recorda do pai ter brincado com ela e se chocava com a franqueza de seu pai ao dizer preferir a filha mais velha. Sua mãe, 24 anos mais nova que o pai, era filha de um rabino. Melanie gostava da atmosfera de cultura e tolerância dessa parte da família e sonhava fazer medicina. Não pôde realizar seu sonho devido às condições financeiras de seu pai, casou jovem e teve três filhos em meio a várias crises depressivas, internações e um casamento sem amor.
No meio de tudo isso encontrou alento ao descobrir a psicanálise. Primeiro como paciente e depois como profissional da área onde acabou se destacando pela psicoterapia de crianças. Seguindo o pensamento de Freud, ela partiu do princípio básico de que o ser humano busca constantemente reduzir a tensão provocada por desejos insatisfeitos. No caso dos bebês, o objeto que reduz essa tensão é a mãe ou a parte dela que atende essa necessidade, o seio materno. E é essa relação que servirá como base para os relacionamentos futuros da criança. Dessa reflexão surge a figura do seio bom/seio mau. Um nos satisfaz e dá prazer e o outro nos frustra.
Acontece que à medida que cresce a criança passa a perceber que a mesma mãe pode ser boa quando se mostra presente e satisfaz nossas necessidades e má quando assim não faz. É esse mecanismo que levamos para a nossa vida: quando gostamos de algo trazemos aquilo para dentro de nós, nos identificamos e aquilo passa a fazer parte de nosso inconsciente. Esse processo Melanie Klein chamava de introjeção. O contrário da introjeção é a projeção. Tudo aquilo de que não gostamos ou não somos capazes de aceitar em nós mesmos, projetamos nos outros ou no ambiente.
É devido a esses mecanismos psicológicos que estamos vivendo um momento impar nas vésperas dessa eleição. A divisão política nos fez regredir (psicanaliticamente falando) para aquele ponto onde não enxergamos o bom e o mau do mesmo objeto. Amamos desesperadamente um e odiamos profundamente o outro e não conseguimos perceber as nuances de nossos candidatos.
O candidato que amamos nós introjetamos, o que odiamos nós projetamos para fora, para os outros. E projetar é a raiz da fofoca. Por isso, nós humanos gostamos tanto de fofoca, pois ao falar dos outros, estamos na verdade falando de nós mesmos. Era por isso que Freud dizia: “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.”