Racismo no esporte: até quando?

Opinião

Rodrigo Rother

Rodrigo Rother

Professor na UNIVATES e no CEAT - @rodrigorother

Colunista Esportivo

Racismo no esporte: até quando?

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Atualizado quinta-feira,
20 de Outubro de 2022 às 08:42

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Paola Egonu nasceu em Cittadella, cidade ao norte da Itália. Ela é filha de um motorista e uma enfermeira nascidos na Nigéria e que imigraram para a Itália. Por isso, obviamente não tem os traços físicos que a população italiana “de antigamente” ou “clássica” apresentava, como pele branca e olhos claros. Mas tem a cara do mundo real e atual: miscigenado, globalizado, itinerante, dinâmico.

Suas características físicas, muito além de a “classificarem” como uma italiana “típica” ou não, a classificam como um dos possíveis maiores talentos que o voleibol mundial já viu em sua história. Ela é nova (tem 23 anos), alta (1,93m), salta bem, é potente, ágil e habilidosa. Não há como não brilhar o olho de qualquer pessoa que ama esporte ao ver em quadra atleta com tamanho talento. É extraordinariamente lindo.

Ainda assim, mesmo usando seu talento para ajudar a Itália a conquistar inúmeros resultados de expressão, Egonu sofre com críticas e (acreditem) racismo. De acordo com a fala da própria atleta, não é um racismo vindo dos adversários, aos quais impõem derrotas, mas sim dos próprios italianos, aos quais defende as cores de sua bandeira: “Há pessoas que me perguntam se sou italiana… Eu me pergunto por que tenho que representar essas pessoas. Gostaria de entender o que alguns jornalistas pensam, coloco minha alma nisso, coloco meu coração nisso, acima de tudo não desrespeito ninguém, então dói”.

Quando cita a imprensa, refere-se ao episódio ocorrido no mês passado, quando foi chamada de “macaca” por uma apresentadora de TV na Itália, algo muito semelhante ao que ocorreu na Espanha com o atleta brasileiro de futebol Vinícius Júnior.

No último final de semana, ao término do jogo em que a Itália venceu os EUA por 3 x 0 e conquistou a medalha de bronze no Campeonato Mundial, Egonu falou ao seu empresário que não jogaria mais pela seleção italiana.

Nos bastidores do voleibol já ouço comentários que ela pode repensar isso. Que estava de cabeça quente. O apelo de todos esportistas é forte para que ela reveja seu posicionamento e não leve em consideração opiniões que não valem a pena. Egonu seria uma perda lamentável para o esporte. Mas o racismo mostra a cada dia, em cada novo mau exemplo, que ele causa perdas muito piores para toda a humanidade. Não há mais lugar pra isso, seja na Europa, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Por favor. É crime.

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