A Carta de Alforria do Futebol

Opinião

João Lucas Feldens Catto

João Lucas Feldens Catto

Advogado desportivo

A Carta de Alforria do Futebol

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A escravidão é um marco na história do mundo todo e ela sempre existiu. No Brasil, graças à Lei Áurea em 1888, houve a abolição da escravatura e os escravos deixaram de ser tratados como objeto de negócio. Esse é o resumo da história que os professores nos contam nas aulas na escola.

Desde sempre aprendemos que, ainda que fez parte da história do mundo, a escravidão é repugnante e incabível, tanto no passado e principalmente nos dias atuais.

Pois é, mas no futebol a escravidão não acabou.

Num cenário comum, qualquer cidadão tem o poder de escolha, podendo trabalhar em qualquer lugar em que se sentir feliz e motivado.

Com o atleta é diferente. Mesmo que infeliz, ele não pode simplesmente sair do seu trabalho e partir para um novo capítulo de sua história.

Para o trabalhador comum, quando está infeliz e quer sair de seu emprego, ele comunica seu patrão e abre mão de algumas coisas, mas pode trabalhar livremente em qualquer outro lugar que se sinta bem.

Já o atleta descontente, para sair de seu emprego, além de comunicar seu patrão e abrir mão de algumas coisas, ele precisa também pedir sua “carta de alforria”, sabe por quê?

Porque existe uma previsão legal, na qual o atleta que voltar a trabalhar por algum outro clube dentro de 30 meses, deverá pagar ao seu antigo clube uma multa baseada na sua média salarial, podendo exceder em até 2 mil vezes a sua remuneração.

Essa multa é comumente conhecida com a multa rescisória que tanto ouvimos por aí e sim, para muitos casos ela é necessária. Mas aqui esqueça o futebol dos milhões e pense no futebol dos tostões, aquele que vive longe dos holofotes da mídia.

Será que o atleta que “recebe” R$ 1.500,00 por mês, em uma segunda divisão estadual, estando infeliz em seu clube, terá alguns milhões para conseguir seguir sua vida e procurando um lugar para retomar a sua carreira de uma maneira feliz?
Difícil né, mas sempre há uma saída. E a única saída capaz de resolver esse problema vem do clube atual, que terá de abdicar desses direitos que tem sobre esse atleta e o deixar livre para seguir sua vida. Isso não nos é familiar em algo em nossa história?

É, por mais que digam que a escravidão no país acabou, no futebol ela, de certa forma, existe.

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