Mentira tem perna curta?

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Mentira tem perna curta?

Essa é uma história que não sei se realmente ocorreu ou se é uma lenda urbana, mas quem a contou jura que aconteceu em Porto Alegre.

A esposa descobriu que o marido tinha uma amante. Meticulosamente ela pesquisou o endereço da rival e descobriu que ela morava em um daqueles amplos, mas velhos, apartamentos na proximidade da Assembleia Legislativa do RS.

Feita a descoberta, um belo dia desconfiada com a ausência do marido de casa, ela resolveu cercar o apartamento da concubina. Decidida, ela conseguiu adentrar no prédio das hostes inimigas e pôs-se, indignada, a tocar a campainha da outra.

“Qualquer um se convence de que uma deslavada mentira é uma verdade absoluta depois de ouvi-la varias vezes contada por si mesmo”

Millôr Fernandes

O marido, surpreendido, olhou pelo olho mágico e viu a esposa a guardar a única porta do apartamento como um cão feroz. Sussurrou com a amante e acharam mais prudente esperar que a “matriz” fosse embora.
Passou uma, duas, três horas e nada indicava que esposa fosse arredar pé do território vigiado. Com seis horas de cerco, o marido tomou uma decisão aparentemente insana: iria abrir a porta e passar pela esposa como se ele, o marido, fosse um completo estranho.

E assim o marido fez. Ao abrir a porta, a mulher o reconheceu e iniciou uma série interminável de xingamentos ao que ele apenas respondia: “Eu não lhe conheço! Tchau, querida”. Obviamente ela seguiu atrás dele, sempre xingando em alto e bom som até que ele entrou em um taxi e desapareceu da sua vista.

Quando a mulher chegou de volta a sua casa encontrou o marido confortavelmente instalado em sua poltrona e com uma completa cara de paisagem. Ela iniciou os xingamentos e ele calmamente respondeu que ela esta louca e equivocada e que ele jamais estivera onde ela jurava o ter encontrado e que ela certamente o estava confundindo com alguém muito parecido com ele.

E assim se passaram os dias e as semanas. Ela acusando e ele negando. Tanto ele negou e com tanta veemência que a esposa começou a considerar a hipótese de realmente ter se enganado. Por volta de seis meses depois, ela já aceitava pedir desculpas e colocar uma pedra sobre o ocorrido. Ele secretamente comemorava o acerto da sua estratégia.

Eu, como você que chegou até aqui na leitura, também considerava improvável essa história. Mas depois de ver e ouvir tantos gritar que era golpe ou que golpe não era; depois de tanto ouvir negativas de autoria de alguns dos mais descarados roubos da história do Brasil, começo a acreditar na possibilidade dela ser real.
Como a memória humana é falha, basta apenas saber negar e não piscar!

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