O Monstro

Opinião

Hugo Schünemann

Hugo Schünemann

Médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron)

O Monstro

Por

A psiquiatria americana, de origem judaica, cunhou a expressão “A BANALIDADE DO MAL”, ao acompanhar em Israel, o julgamento do nazista Adolph Eichmann, responsável por um grande número de morte de judeus em campos de concentração. O nazista, durante seu julgamento, alegava que pessoalmente não tinha nada contra aquelas pessoas que ele encaminhava às câmaras de gás, mas que ele apenas cumpria ordens.

Nesta semana, fomos bombardeados por notícias, primeiro, de um tiroteio numa festa de aniversário onde dois agentes de segurança, usando armas profissionais, balearam-se e dos quais, um morreu e outro está em estado grave. O motivo seria político. Imediatamente grupos começaram a usar o episódio para ataques ideológicos, como se estivéssemos em uma competição de quem atira mais. Uma tragédia.

Mas, nem o assunto morrera, uma bomba atinge-nos em cheio, com imagens inacreditáveis de um anestesista violentando uma grávida, durante a cirurgia de cesariana. Inacreditável.
A equipe desconfiou da conduta do médico (médico??) e armou um flagrante. Há pelo menos cinco outras mulheres que possivelmente passaram pela mesma situação.

Este caso causou comoção, mas não é o único. Aqui no estado mesmo, tivemos há pouco tempo, cirurgiões plásticos presos por crime semelhante, mas não há imagens. Também houve profissional, da área de reprodução assistida, de São Paulo, que foi preso por conduta igual, abusando de mulheres que estão sob efeito de sedação.

E para terminar a semana, tivemos no Vale, homem que cumpre pena, foi solto (liberdade condicional) e em poucos dias realizou vários crimes, inclusive dois estupros (segundo jornal A Hora). Fico pensando o que nos trarão na próxima semana, os meios de comunicação.

A questão é: banalizarmos o mal. Não nos chocarmos. Nos acostumarmos. Os homicídios passarem a ser estatísticas. Os estupros também, isso quando não despertam a discussão sobre o quanto a mulher contribuiu para o estupro – com suas atitudes e roupas – o que não se pode falar das mulheres anestesiadas.

E o que dizer do presidiário, que recebe o benefício de liberdade condicional e logo em seguida, comete vários crimes, inclusive estupro. Estamos banalizando o mal.
Não nos importamos com ele – a não ser quando nos atinge. Deveríamos nos chocar.

Protestar. Não aceitar. Pedir mudanças nas leis. Na atitude das autoridades. Exigir valorização da vida. E não aceitar, sob qualquer protesto, a violação das mulheres.
A banalização do mal nos torna parte dele.


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