A Grande Demissão no Vale

Opinião

Sérgio Sant'Anna

Sérgio Sant'Anna

Publicitário

Assuntos e temas do cotidiano

A Grande Demissão no Vale

Vale do Taquari

Às vezes estamos tão longe e, às vezes, tão perto de tudo. Essa ideia de visão global e ação local nunca é mera resenha, nem algo de mão única. Não queira pensar que estando aqui, no Taquari, sob os braços do Protetor, estamos a salvo das controvérsias do mundo. Semana passada, após presenciar um caso de demissão espontânea e sem motivo aparentemente justificável, mergulhei de cabeça no tema: a tal Grande Demissão (The Great Resignation, em Inglês), também chamada de Grande Debandada.

Nos EUA, entre setembro e outubro do ano passado, mais de 8,5 milhões saíram do emprego sem ter garantia de outro trabalho. Na China, ganhou o nome de tangping, algo como “fique deitadão”. Em resumo, pessoas de até 40 anos que preferem não fazer nada, nem mesmo casar.

O espanto vem somar ao contingente de jovens brasileiros de até 29 anos que nem estuda, nem trabalha, os chamados “nem-nem” (12,3 milhões, segundo a consultoria IDados). O que era algo penas juvenil, atinge agora profissionais de nível médio, com formação superior e possibilidade de avançar na carreira, e que, com certa facilidade, abrem mão do emprego em busca de novas experiências.

De acordo com mapeamento do Linkedin, em setembro: 80% entre a geração Z, 50% entre millenials e 31% entre os integrantes da geração X, com idade entre 41 e 56 anos.

Para entender melhor o movimento e apontar causas, pesquisadores da MIT Sloan Management Review analisaram 34 milhões de americanos que deixaram o emprego por algum motivo, entre abril e setembro de 2021. A análise aponta a cultura tóxica das empresas como principal motivo das demissões, o que envolve o fracasso das companhias em promover a diversidade, a equidade e a inclusão; trabalhadores se sentindo desrespeitados e comportamento antiético.

Ok, bons motivos. Aliás, salário aparece apenas na 16ª colocação. Se destacam ainda insegurança e reorganização do trabalho pós pandemia e falhas em reconhecer a performance. E uma que me chama atenção: altos níveis de inovação. Pois é. O envolvimento e a dedicação que um projeto inovador demanda também causa desistência.

No fim, a Grande Demissão pode ser apenas um Grande Realinhamento, conforme sinaliza a Dra. Kirstin Ferguson, especialista no assunto. Penso que, diferentemente do “movimento do desbunde” dos anos 70, que propunha buscar alternativas ao contexto político e social brasileiro, o movimento atual é apenas reflexo da necessidade pessoal de um propósito na vida.

Para os líderes e empresários, uma baita oportunidade para se realinhar com os movimentos do mundo. Se quisermos ver nosso Vale ocupar lugar de destaque e seguir cada vez maior, não adianta querer simplesmente demitir o problema. O bode está na sala.


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