Minhas queridas, nossas queridas

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

Minhas queridas, nossas queridas

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Catarina é uma gata pretinha que nos foi dada, há alguns anos, por uma amiga. Manhosa – como aliás, todo gato –, se ambientou no sítio em que moramos, escolhendo um cantinho só seu. Quando apareceu prenhe, minha esposa ajeitou-lhe um quartinho aconchegante, próximo ao galinheiro, para que a nova mamãe pudesse ter seus filhotes e criá-los até uma idade segura. E de fácil acesso para acariciá-los. Só que a história foi outra!

Certa manhã, ao aproximar-me da “maternidade” da Catarina para tratá-la, por pouco não me arranha, no voo que deu contra a grade da porta, agressiva. Tornara-se mãezinha, com três lindos filhotes. Os amamentava e os protegia no ninho preparado para tal. Só que, nos meses seguintes, nossa gatinha meiga se transformou numa fera, a ponto de termos dificuldades, até mesmo, para alimentá-la. Hoje, filhotes já adultos, temos nossa gatinha, pretinha querida, de volta.

O instinto maternal, de proteção e de desenvolvimento dos filhotes, é o maior, o mais poderoso dos sentimentos. Atende a ordem divina direta. Primeiro a Adão e Eva: “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra…”. Depois, a Noé, findo o dilúvio, a mesma ordem, só que abrangendo a natureza toda: “os animais que estão contigo, de toda carne….para que povoem a terra, sejam fecundos, e nela se multipliquem.”

Há um bom tempo que o Menino Jesus chamou para si minha mãe, não sem, antes disto, nos permitir um bom período de convívio. Mãe solteira nos idos de 1950, na Picada Felipe Essig ainda sem energia elétrica, interior de Arroio do Meio, uma quebra de tabu só suportada graças à bondade dos meus avós maternos que nos ampararam. Nunca me falou do fato, mas deve ter sido fruto de um momento de intenso amor e de entrega.

Resolveu criar-me sozinha, prescindindo do apoio marital. Após poucos anos, tomou-me pela mão, foi trabalhar em cozinhas de colégios, a troco de formações primordiais que me permitiram transformar-me no que me tornei. Vieram esposa, filhos e quatro netos. Meus queridos.

Raramente visito seu túmulo. Não sou afeito. Mas, no Dia das Mães, invariavelmente, o faço. E, à medida em que me aproximo, não é tristeza ou choro que brotam, mas amor e gratidão. Sentado à beira da lápide, a cada afagada em sua foto (tão natural) ali incrustada, pedaços da vida repassam e perpassam, numa lembrança gostosa infinita, mesmo que finitas nossas vidas, já que é nos filhos que nos perpetuamos.

Esta, uma das essências do instinto maternal: abrir mão do seu eu e do que é seu, em prol da assegurada e boa continuidade da espécie. Não importam longas noites de vigília a um filho enfermo. Do início acelerado e cedo de cada dia para colocá-los a caminho da escola. A superação extrema, requerida pela vida, para superar as carências materiais extremas, com que tantas e tantas mães se defrontam.

Na essência, o que importa à mamãe é o preparo para a sobrevivência, do serzinho que gerou, numa garra, por vezes, inimaginável.

Cada qual de nós tem sua história, são milhares, são milhões, são pessoais, extremamente pessoais, independente de ser maior ou menor o flagelo da concepção e da criação. É o cumprimento do desígnio divino do crescimento e da multiplicação. Tudo eivado do maior dos sentimentos, da maior das forças, também decorrente de um desígnio divino: o amor. Este poderoso amálgama – o mais poderoso deles – trabalhado e eternizado pela insuperável força das mães, nossas queridas. Sempre queridas. Insuperavelmente queridas.

Tanto as humanas quanto as do reino animal. Geram, lambem suas crias e dedicam suas vidas em prol da sua consolidação para que elas, as criaturas geradas, continuem a cumprir o desígnio divino da multiplicação.


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