Minha afilhada, Valentina!

Opinião

Hugo Schünemann

Hugo Schünemann

Médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron)

Minha afilhada, Valentina!

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Valentina tem 12 anos. Menina esperta, boa aluna, leva uma vida normal aqui na região, cumprindo com suas tarefas e brincando com seus amigos.

Mas, a vida trouxe outras realidades à menina. Primeiro, a pessoa que trabalhava junto à família teve um AVC (acidente vascular cerebral) muito grave e, após poucos dias de hospitalização, veio a falecer. Ela ficou muito triste, tentando compreender a realidade da vida.

Em seguida, o avô, que tinha saúde debilitada, veio a falecer. Ela chorou muito, ficou-lhe mais difícil compreender. Alguns dias após o enterro do avô, o tio, que vinha enfrentando delicada situação de saúde, apresentou piora e foi internado às pressas. Em poucos dias, infelizmente, veio a falecer também.
Como explicar a sucessão dos fatos a uma menina de apenas 12 anos?

Sabemos que a morte é parte certa da vida. Sabemos que todos, em alguma ocasião, enfrentarão este momento. Uns de forma mais tranquila. Outros nem tanto. Mas por que essa dificuldade em tratar deste assunto? De compreendê-lo como parte da vida?

Historicamente, a morte fazia parte do cotidiano das pessoas. Na mesma fazenda em que a neta estava a parir seu filho, no quarto ao lado, estava o avô a se despedir da vida. Era natural.

Aí, vieram os hospitais. Esses passaram, de certa forma, a sequestrar a morte e os que morriam para seu interior, e as pessoas não eram obrigadas a viver a partida, ver a morte.

Com o passar do tempo, a ciência resolveu doenças incuráveis, passou a prolongar a vida nos dando uma certa sensação de imortalidade. É certo que imortalidade não existe. É certo que precisamos lidar com a finitude da vida, buscar formas de compreender e aceitar esta finitude.

Centros mais modernos já lançaram atendimento domiciliar (chamado “Home Care”), que pode evitar as idas ao hospital, mas nos põem frente à vivência do fim. Há hoje especialistas em terminalidade e cuidados paliativos, que por um lado buscam oferecer conforto e alívio àqueles que vivem seu fim, por outro nos fazem viver de certa forma intensa este fim.

É certo que este desafio, de enfrentar o fim, vai nos acompanhar, como sociedade, por muito tempo. Sei que minha querida afilhada Valentina vai compreender o que se passou e tirar lições dessas experiências.
Devemos lutar e valorizar a vida. A morte. A dos outros. A de todos.


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