Concessões mal concedidas

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

Concessões mal concedidas

Se funcionário, imagine-se por dez dias impedido de trabalhar e a renda reduzida porque descontados no salário. Se empresário, imagine-se dez dias sem abrir seu negócio, funcionar com sua indústria, ou, sem poder exercer qualquer atividade. Se produtor rural, dezenas de milhares de litros de leite jogados fora, centenas de milhares de frangos e de suínos mortos e perdidos. Por consequência, rendas drasticamente reduzidas. Já como cidadão, tal qual aconteceu com milhares, obrigado a desfazer-se de mantimentos, do dia a dia ou estocados nos congeladores, com expressivos prejuízos imprevistos.

Pois, esta é a realidade maquiavélica do jogo de interesses e do lucro máximo, de grandes grupos econômicos privados, a quem concedida a exploração da distribuição da energia elétrica, a que somos submetidos, a cada vento mais forte ou a algum temporal que interrompam a distribuição da energia. Para resolver, bastaria concentrar recursos humanos e materiais suficientes onde os problemas acontecem, disponibilizar canal de comunicação rápido e humano com os consumidores, além de um atendimento desburocratizado. Pois, isto é possível. As cooperativas de eletrificação rural o conseguem. Acessíveis, corteses e ágeis no atendimento. E, pasmem, igualmente rentáveis.

Já a RGE, concessionária privada que atende a maior parte da região, com uma inexplicável reserva de mercado, procede da pior forma com seus consumidores. A ponto de ser objeto de cena tragicômica, há poucos dias, em que produtora de leite, desesperada com as perdas, derramou balde de leite, porta adentro, no escritório regional da empresa, em Lajeado. E produtores, na parte alta do Vale do Taquari, impedirem o retorno de uma unidade de atendimento da empresa à sua base, sem resolver os problemas da falta de luz. Queriam ir embora porque a ordem de serviço que recebera de São Leopoldo (não de Lajeado!!), rezava uma vírgula diferente da realidade que encontrara no local do concerto. Pode?!

Ora, se as cooperativas de eletrificação são eficientes, por que a RGE não o consegue?

A diferença está na ganância, permitida por legislação mal concebida, de submissão total – ao invés de proteção –, do consumidor. Adicionalmente, controladas por agências reguladoras manietadas pela mesma legislação mal concebida e pelo arcabouço jurídico brasileiro que beneficia o delinquente e penaliza o cidadão de bem.

Junte-se, neste angu, a quantidade de equipes para o atendimento das emergências, dificuldade de comunicação e burocracia. Enquanto a RGE dispõe de duas unidades para emergências no Vale do Taquari, a Certel, vinte. Enquanto, para comunicar-se com esta ou a Certaja, você fala com Teutônia ou Taquari, atendido em poucos segundos, para falar com aquela, você é atendido em um detestável call center distante, por atendente eletrônico que lhe faz dedilhar inúmeras opções, por minutos intermináveis e sem solução.

O mesmo se observa na telefonia. Concentração cada vez maior em poucas operadoras que fazem o que querem com seus consumidores, disponibilizando conexão cada vez mais deficiente. E agora, bem próximo a nós, um obscuro programa de concessão de rodovias que o governo do estado tenta nos impingir, que não resolve nossos problemas logísticos e os do Estado.

A solução? Nossa indignação. No caso da energia, com auxílio do Ministério Público que, através de Termos de Ajustamento de Conduta, é apto a fazer a concessionária melhorar, de imediato, seu atendimento, sob pena de pesadas multas. E, a médio prazo, melhorias na rede de distribuição. Porém, importantíssimo, no campo político, forçarmos a mudança necessária na legislação que rege as concessões. Inclusive as rodoviárias.


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