Fim de Uno e Gol coloca em cheque futuro dos populares

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Fim de Uno e Gol coloca em cheque futuro dos populares

Montadoras confirmam a saída de linha de veículos históricos e surpreendem mercado

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Atualizado sábado,
08 de Janeiro de 2022 às 17:25

Fim de Uno e Gol coloca em cheque futuro dos populares
Produzido há 41 anos, o Gol também teve a versão quadrada e é o carro mais vendido da história brasileira (Foto: Marcel Lovato)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Décadas nas ruas e estradas. Presentes nas recordações dos brasileiros. Essas duas características unem veículos populares e que estão perto de deixar as linhas de produção. O Fiat Uno deixou de ser produzido em 31 de dezembro. No último dia de 2022, o Gol deve ter o mesmo destino.

O movimento chama a atenção para a possibilidade do fim dos “carros de entrada”, conceito criado para designar automóveis com preços mais acessíveis.

Conforme a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), exigências como a obrigatoriedade de airbags e freios ABS e controle de estabilidade encarecem a fabricação e contribuem para a descontinuidade.

Na contramão

De acordo com o site da Fenabrave, os dois carros mais baratos do país são o Fiat Mobi e Renault Kwid, nos quais os modelos básicos custam em torno de R$ 47 mil. Para o sócio-proprietário da Hélio Automóveis, Hélio Arenhold Júnior, mesmo diante de cenário, Uno e Gol não deveriam ser encerrados.

“É um erro, pois vai contra a realidade. Existe procura. As marcas mexem com nomes consagrados, que possuem apelo emocional, representativo junto aos consumidores. É um tiro no pé. Sabemos que o Uno é um caso consumado, mas acredito na possibilidade da Volkswagen reconsiderar a ideia de tirar o Gol de linha”, avalia Hélio.

Na perspectiva do proprietário da Alternativa Veículos, Marcelo Mattes, Uno e Gol sempre foram sinônimos de resistência e durabilidade. Esses fatores contribuíram para o sucesso junto ao público e incentivaram a criação de propagandas históricas. “Não é, necessariamente, um fim porque eles vão seguir em circulação e os usados à venda”, encerra. Em suma, sempre vai haver uma opção.

A última parada

Substituto do Fiat 147, o Uno foi lançado em 1983, na Itália. Logo depois, chegou ao Brasil e começou a ser fabricado no Polo Automotivo de Betim, em Minas Gerais.  Em 37 anos, foram produzidas quase 4,4 milhões de unidades em diferentes versões. Em vendas, superou a marca de 3,2 milhões. O Uno “Ciao”, que marca a despedida oficial, foi lançado no fim de 2021.

(Foto: Divulgação)

O Gol começou a sua trajetória em 1980 e será descontinuado no fim deste ano. É o carro mais comercializado da história do país (em torno de 7 milhões de unidades) e o primeiro a ultrapassar os números do Fusca, da mesma montadora. Foi líder de vendas por quase 30 anos e o modelo mais exportado pela fabricante, seja na versão “quadrada” ou “bolinha”.  A partir de 2023, dará lugar ao Polo Track.

(Foto: Divulgação)

A norma que “tirou os carros de linha”

Por trás da descontinuação de alguns modelos, está a vigência da fase L7 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), conduzido pelo Ibama. Até o fim do ano, as fábricas terão de investir em dispositivos que controlem a emissão de gases, o que atinge os carros com motores mais antigos, como o próprio Uno.

Também foi alterado o limite de evaporação no tanque de combustível. O vapor tóxico tolerado será de 0,5 gramas por dia. Antes, era de 1,5 gramas a cada duas horas. Para as empresas, vale mais a pena encerrar a produção do que adequá-los às crescentes exigências.

“Fábricas direcionam investimentos para veículos que agreguem mais valor”

Rogério Wink • empresário e diretor do Sincodiv – Fenabrave/RS

• A Hora – Como você observa o comportamento do consumidor em relação aos carros populares?
Rogério Wink – O consumidor tem “abandonado” essa categoria porque deseja conexão tecnológica, como digitalização nos painéis para interagir com o celular e aplicativos, motores com maior desempenho e menor consumo, câmbio automático, sistemas de segurança como controle de estabilidade. Ou seja, acessórios que melhoram a experiência ao volante. É a nova febre do mercado global.

• Com frequência, montadoras têm anunciado a descontinuação de modelos. O que motiva esse movimento?
Wink – As fábricas começaram a direcionar os investimentos para veículos que agreguem mais valor ao cliente e proporcionem uma margem melhor de lucro. Construíram plataformas, unidades mais modernas. Há outros fatores como a própria dificuldade de produção em larga escala pela falta de matéria-prima, o efeito global da covid-19. Hoje, o público-alvo dos carros populares são os clientes empresariais como frotistas e locadoras.

• Quais as alternativas para retomar a produção desses veículos?
Wink – Um caminho é a implantação de um programa de renovação da frota. Por meio dessa iniciativa, carros mais antigos seriam retirados de circulação e substituídos pelos carros de entrada, com estratégia governamental na indústria e meio ambiente. Essa proposta está na mesa e é discutida há décadas. Contudo, nunca saiu do papel.

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