O ano que encerra nesta sexta-feira ficará marcado por um período de forte recuperação da economia nacional, seguido de uma perda de tração provocada pela alta da inflação e dos juros, além de aumentos nos riscos ficais. Números do Boletim Focus projetam crescimento de 4,58% no PIB em 2021, mas a recuperação deve ter menos força em um ano marcado por eleições majoritárias.
Em 2022, as projeções do mercado apontam para uma elevação de 0,42% do PIB, novas elevações na taxa de juros, que deve chegar a 11,5%, e inflação na casa dos 5%. No câmbio, a expectativa doo mercado é de dólar flutuando entre R$ 5,55 e R$ 5,50.
Economista e consultor, Eloni Salvi afirma que a alta do PIB em 2021 representa uma acomodação em relação a base deprimida de 2020. “O que acontece agora é a retomada de negócios que pararam ou retraíram durante a pandemia. Não é um crescimento marcado por nova demanda.”
Segundo ele, as perspectivas mais pessimistas para 2022, de crescimento nulo ou próximo de zero, tem relação com as eleições, que no país sempre provocam maior volatilidade. Ressalta as incertezas provocadas pelos modelos de condução econômicas que antagonizam a pauta econômica dos partidos em disputa.
“Isso gera em todos os agentes econômicos, em especial nos responsáveis pela produção, um certo receio na tomada de decisão. É um momento de compasso de espera”, aponta. Economista chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo ressalta que a principal fonte de incertezas do mercado é a relação com as contas públicas.
Segundo ela, o descompromisso fiscal estimula processo inflacionário e a consequente elevação na taxa básica de juros.
“Esse cenário não se reverte em 2022, por ser um ano de eleição com orçamento já aprovado”, aponta. Além disso, ressalta que os dois candidatos que hoje estão à frente das pesquisas para presidente não demonstram compromisso em fechar a torneira das contas públicas.
Diversidade favorece o Vale
Na economia regional, o cenário é de descolamento na comparação com o cenário nacional, em especial devido a força da produção de alimentos – último a entrar em qualquer crise e o primeiro a sair. Conforme Salvi, o agronegócio foi também o atenuador de uma crise maior na economia durante a pandemia e ajudou a região a sair com menos sofrimento. “Isso deve continuar no ano que vem.”
Economista e professora da Univates, Fernanda Sindelar destaca o desempenho superior da região na comparação com o Estado e o País. Por outro lado, alerta para as consequências da estiagem, que tende a pressionar os custos de produção. “Os municípios da região já começando a dimensionar perdas em função da seca. Os insumos, já elevados, devem ficar ainda mais caros no próximo ano.”
Lembra que a quebra na produção de grãos para silagem, em uma economia baseada na produção de aves, suínos e leite, torna maior os gastos com a alimentação animal. “A tendência é de impacto ainda maior na inflação ao consumidor.”
Eloni Salvi afirma que a pressão dos insumos sobre o agronegócio é atenuada com aumento dos preços dos produtos. “Nós conseguimos trazer para cá a produção do estado e do país em grãos e transformar em proteína animal. Os preços se ajustam, por isso os impactos são menores.”
De acordo com o economista, a economia do Vale do Taquari se sustenta da tecnologia empregada na agregação de valor aos produtos do campo. Para ele, nos equiparamos ao mercado internacional em genética, sementes e manejo, assim como na transformação das matérias-primas.
Estado retoma investimentos
Conforme analistas, ajuste nas contas públicas adotado por Leite favorece otimismo quanto à economia gaúcha (FOTO: Thiago Maurique/Arquivo a Hora)O ajuste nas contas públicas do Rio Grande do Sul favorece otimismo em relação à economia gaúcha. Fernanda Sindelar destaca o simbolismo de colocar em dia a folha de pagamento do funcionalismo e dos anúncios de investimentos em infraestrutura, ainda que em valores considerados baixos. “É uma retomada ainda incipiente, mas um sinal de que podemos esperar situação melhor para médio e longo prazo.”
Para Patrícia Palermo, além de investir em infraestrutura, com as contas mais enxutas o Estado oferece melhores perspectivas para investidores. “Acredito que viramos uma chave importante, que nos dará frutos principalmente em médio e longo prazo”, aponta. No curto prazo, afirma que o Estado sofrerá devido aos índices de inflação e taxas de juros do Brasil.
No agronegócio gaúcho, após um aumento de área plantada de 4,4% em 2021, o Estado teve a maior safra de grãos da história, com mais de 37 milhões de toneladas colhidas. O faturamento bruto do setor foi de R$ 73,5 bilhões.
Para o ano que vem, a projeção da Farsul é de um aumento de 3,1% na área plantada, e um crescimento de 1,8% na produção, atingindo um valor bruto total de R$ 77,1 bilhões. Economista-chefe da entidade, Antônio da Luz rio Grande do Sul estima que o PIB gaúcho deve atingir 9,49% em 2021 e 0,58% em 2022.
A indústria gaúcha voltou a crescer neste ano após forte queda em 2020. Números da Fiergs apontam para alta de 6,3% no setor em 2021. Para o próximo ano, a perspectiva é de crescimento baixo, de 0,7% na indústria gaúcha, e de queda de 2,7% na atividade industrial brasileira.
O relatório da entidade aponta a continuidade de fatores que restringiram o desempenho de 2021, sobretudo a escassez de matérias-primas e a desorganização das cadeias de fornecimento.
Recuperação do varejo perde fôlego

No comércio, perspectiva é de crescimento nas vendas de produtos
para classe média e alta, mas queda nas classes mais baixas (foto: Thiago Maurique/Arquivo a Hora)
Setor mais impactado pela pandemia, o comércio de bens, serviços e turismo recuperou parte das perdas com a pandemia a partir do avanço da vacinação e a consequente flexibilização das atividades. Conforme Patrícia, no último trimestre do ano essa recuperação perdeu fôlego, justamente devido a elevação nos juros.
Para 2022, estima um ano de baixo crescimento, com destaque para os segmentos como bares, restaurantes e turismo. “São atividades, que vem de uma base de comparação muito baixa e com grande demanda reprimida.”
Conforme a economista, o desempenho do comércio dependerá de qual o público-alvo do negócio. A venda de produtos para classes média-alta e alta tendem a crescer, enquanto as classes baixa e média-baixa, que dependem de crédito, devem reduzir os gastos. “No geral, o comércio não terá um ano muito animador.”
No turismo, os negócios locais tendem a se beneficiar das incertezas da pandemia. Segundo Patrícia, o surgimento de novas variantes da Covid-19, como a Omicron inibe as viagens ao exterior, ampliando o consumo em comércio, serviços e destinos regionais.
Cenário incerto na construção civil

Na construção civil, alta de insumos pressiona preços, mas mercado de alto padrão segue em crescimento (foto: Thiago Maurique)
Segmento que lidera a recuperação dos empregos no Brasil, acumulando saldo positivo por 11 meses consecutivos, a construção civil deve continuar sentindo os efeitos da alta dos insumos em 2022, além de enfrentar incertezas devido a elevação nas taxas de juros. De acordo com o presidente do Sinduscon, Jairo Valandro, não há uma sinalização no recuo dos preços dos materiais de construção e a elevação dos juros esfria as negociações, fazendo com que o investidor recue nos seus investimentos do setor.
“Também não se tem notícias sobre quanto será destinado para o programa Casa Verde e Amarela e demais financiamentos por parte do Governo”, afirma. Por outro lado, ressalta o aquecimento do mercado de alto padrão, tanto no Vale do Taquari quanto em outras regiões do Estado.
“Não será um ano de muita facilidade”, afirma. Segundo ele, a valorização dos imóveis deve seguir tendência de alta, principalmente devido ao repasse dos aumentos dos insumos para o consumidor final.