Um ano depois da televisão ser inaugurada no Brasil, a Tv Tupi colocou no ar a primeira telenovela brasileira, “Sua Vida me Pertence”, em 21 de dezembro de 1951. Como ainda não existia o videoteipe, tudo era feito ao vivo, e os 15 capítulos da trama eram exibidos às terças e quintas-feiras.
As produções da época eram apresentadas em parcelas, em dois ou três dias na semana. Até que descobriu-se que, para segurar o público, era necessário criar o hábito de manter a co- munidade em frente à televisão todas as noites, no mesmo horário. No período, o diretor podia mudar o roteiro de acordo com a reação do público, e isso era inédito no Brasil.
Ao longo dos anos, surgiram grandes produções nacionais, como Helena, O Clone, Caminho das índias, Vale Tudo, entre outras, e as telenovelas brasileiras se tornaram destaque internacional.
De lá pra cá
Desde 1951, uma das grandes mudanças no cenário das produções foi a evolução da tecnologia e a cultura digital. E, se antes, as novelas eram exibidas ao vivo, mais tarde, passaram a ser gravadas, com imagem colorida e em alta resolução, com proximidade cada vez maior com o cinema.
A inserção de temas cada vez mais atuais e que acompanham as mudanças da sociedade também são mudanças importantes destacadas pelo escritor, diretor e roteirista, Ismael Caneppele. Assim como o surgimento de personagens negros, trans, com uma diversidade sexual e novas configurações familiares. “Acho que as novelas são cada vez mais um espelho da nossa sociedade”, diz.
O diretor destaca que as novelas se tornaram muito populares no Brasil, em especial pela quantidade de televisões à disposição da comunidade, que também pode assistir à TV aberta de forma gratuita.
Hoje, essa popularidade é questionada, com a chegada da internet e do streaming. E as pessoas já não precisam mais estar à frente da televisão para assistir novelas, porque terão um catálogo diversificado de produções nacionais e internacionais nas plataformas.
“O formato telenovela e televisão aberta estão enfrentando um período de crise que exige
uma reformulação, um novo jeito de engajar os telespectadores. Só não sei se será por meio da TV aberta ou pelo streaming”.
A pandemia teve grande impacto nas novelas, e o ritmo de produção se tornou mais lento. De acordo com Caneppele, o grande desafio, hoje, é ter uma novela fechada antes de ir para o ar, e conseguir comunicar a história ao público.
O que ainda falta no Vale
Na região, as produções audiovisuais existentes estão, em sua maioria, nas escolas, com festivais e mostras de cinema. Mas Caneppele acredita que para que seja possível produzir filmes e novelas no Vale, é preciso políticas públicas voltadas à cultura.
Frente a este cenário, muitos atores da região saíram do Vale para consolidar a carreira em São Paulo e Rio de Janeiro, berço das produções de telenovelas no país. Assim como Jossias Brauers, 34, natural de Roca Sales.
Formado em dança, chegou ao Rio de Janeiro com uma mala, uma mochila e R$ 500 reais no bolso. Com a necessidade de trabalhar o mais breve possível, foi indicado por um amigo, ator, para participar de alguns trabalhos como parte do elenco de novelas.
Teve participação no Zorra Total, e isso abriu portas para a carreira como ator. “Fiz essa atuação que era para ser de um dia e durou três. Na semana seguinte, o produtor começou a me chamar para fazer outras gravações”, conta.
A primeira novela que fez foi “Em Família”, em uma cena com Gabriel Braga Nunes e Ana Beatriz Nogueira. Também já contracenou com Zezé Motta, Betty Faria, Isis Valverde, Bianca Bin, Giulia Gam, Marco Ricca e Thais de Andrade. “Ter participado de uma novela tão bonita, tão leve do horário das 18h foi uma coisa muito legal”, ressalta Jossias.
O bailarino e ator também fez participação em produções como “Malhação”, “Êta Mundo Bom”, “Novo Mundo” e “Haja Coração”.
A origem de Jade
Do outro lado das telas, a popularização das novelas fez surgir histórias que ficaram marcadas nos núcleos familiares e muitas crianças da época receberam nomes de personagens das produções.
Uma delas foi Jade Amaral, 19, moradora de Taquari. Ela conta que em 2001, a novela O Clone estava em alta, e no mesmo período a mãe, Joana Amaral, 47, estava grávida. “Uma amiga muito querida de minha mãe ajudou na escolha, deu ideia da novela”, conta. E, assim, a menina recebeu o nome da personagem interpretada pela atriz Giovanna Antonelli na produção. O pai, Flávio Luís, 54, apoiou a escolha.
O gosto pelas telenovelas vem de gerações, e começou com a avó de Jade. Ainda hoje, a família costuma se sentar à sala para assistir às produções.