Sem fronteiras para celebrar

véspera de natal

Sem fronteiras para celebrar

Colombianos, haitianos ou iranianos cultivam diferentes tradições para o Natal em seus países de origem. No Vale, misturam seus próprios costumes com os hábitos locais e celebram a data em comunidades

Sem fronteiras para celebrar
Daouda Fair, do Senegal, diz que o que não pode faltar no Natal é o arroz com peixe. (Foto: Filipe Faleiro)
Vale do Taquari

Decorar a casa, montar a árvore e preparar a ceia. Essas são tradições cultivadas pelos cristãos ao longo dos anos. Apesar de ser mais conhecido pelo calendário religioso, o Natal é celebrado de diferentes formas ao redor do mundo. Mas uma coisa parece ser comum. Os povos esperam o feriado com festa, e reúnem a família para agradecer.

De acordo com o Doutor em História e professor da Univates, Mateus Dalmáz, a origem da data é ainda anterior ao Cristianismo. Os povos da Roma antiga já mantinham uma celebração no dia 25, alusiva à chegada do inverno, ou a passagem de uma estação para outra, com símbolos como árvores coníferas ou alimentos típicos de temperaturas mais frias, compartilhados em uma espécie de ritual.

Quando o cristianismo começou a se espalhar e foi oficializado pelo império romano, no entanto, a Igreja Católica associou o nascimento de Jesus Cristo a esta celebração e colocou nos rituais um significado cristão.

Neste cenário, à medida em que a religião foi globalizada, o Natal também passou a ser celebrado em diversos países do globo. “E aí tem uma figura que surge no decorrer da expansão do cristianismo no ocidente, que é o São Nicolau. Um bispo que fazia ações de caridade na data natalina, deixando algum tipo de moedas perto das chaminés”, destaca o historiador.

Foi por volta do século XIII e, mais tarde, São Nicolau passou a ser associado ao Natal. Recebeu uma fisionomia específica, e vestimentas vermelhas, sobretudo, com características de inverno. Com o tempo, a data não apenas se tornou presente no mundo oriental, como também passou a fazer parte do calendário de países do mundo oriental.

“Assim, a data não passa em branco nesses países, e há sempre uma reunião, uma janta ou comemoração”. De acordo com Dalmáz, o Natal, para eles, é como o Halloween para os brasileiros.

Pelo mundo

O Natal é celebrado de formas diferentes em muitos países. Na Espanha, o Dia de Reis, em 6 de dezembro, é uma data especial nas celebrações. Já nos Estados Unidos, o “Thanksgiving”, dia de Ação de Graças, compete com o dia 25, e serve à mesa diversas comidas típicas.

Além disso, muitas pessoas também passam o Natal longe de casa, e levam consigo a cultura da data, ou se encaixam nas comemorações locais. “É curioso enxergar o comportamento de quem está no interior e quer cultuar uma tradição de seu país de origem. Assim criam-se nichos. Então é possível encontrar em países islâmicos as celebrações de Natal, porque ali existe uma comunidade cristã que faz questão de celebrar a data”. Por outro lado, depois de um longo período no exterior, é natural que haja uma junção de culturas. “Então existem as duas coisas, um pequeno nicho que mantém a sua tradição original e aqueles que se inserem na cultura local, e incorporam os hábitos do seu local de estadia.”

Noite das Velas na Colômbia

Na Colômbia, a partir do dia 7 de dezembro, as famílias se reúnem, enfeitam as casas e se preparam para a chegada do Natal. A data é marcada pela chamada Noche de las Velitas (Noite das Velas), quando as pessoas vão para as ruas para acender velas nas calçadas, portas e praças dos bairros.

Mais tarde, o dia 16 dá início a outra tradição colombiana, a celebração da Novena, mantida, em especial, pelos católicos. Assim, a família se reúne para cantar canções de Natal e rezar pelos nove dias da véspera de Natal. Além de se reunirem com comidas típicas do país. No dia 24 é feita a última Novena e as famílias costumam trocar presentes.

A ceia é feita nas casas, com músicas e danças até o amanhecer. Entre os alimentos mais tradicionais, além do peru, está a natilla, feita de farinha de milho, leite, uma espécie de rapadura e canela, e os buñuelos, bolinhos à base de farinha, arroz, batatas ou pão, com recheio de carne, peixe, legumes ou doces.

“O período de fim de ano é bem especial no nosso país”, conta Katherine Lizeth Borda Narváez, 30. Ela veio de Bogotá ao Rio Grande do Sul com o namorado e o cachorro em 2019, e desde lá é moradora de Lajeado. No Vale, algumas tradições que cultivava no país de origem vieram na bagagem, e outras foram adaptadas à cultura gaúcha.

Natural da Colômbia, Katherine (meio) passou a comemorar a data no estilo gaúcho e, ao invés da tradicional ceia, gosta de fazer churrasco

Longe da família, ela costuma passar a data com outros colombianos. Este ano, a noite do dia 24 será na casa dela e a janta, faz dois anos, se tornou o churrasco. As músicas que eram ouvidas em Bogotá continuam fazendo parte do repertório das festas, assim como as danças pela madrugada. Durante a noite, também reserva um momento para ligar para a família e desejar um Feliz Natal.

O primeiro Natal

Roya Rashnoo, 30, também passará o feriado longe de casa. Ela veio do Irã para o Rio Grande do Sul para um PHD na Univates faz três meses e, neste ano, passará a data na casa de uma amiga, em Lajeado. No país de origem, a religião muçulmana não celebra o dia 25 de dezembro, mas pequena parte da população cristã mantém a tradição. Este é o primeiro ano que Roya passa o Natal no Brasil e ela diz estar feliz por conhecer a cultura cultivada na região.


Costumes adaptados

Diego veio do Haiti em 2013

Também no Haiti, o Natal é um período em que as pessoas saem para passear ou ver a família e os amigos. Assim, é comum comprarem roupas novas para os encontros, e as crianças esperam presentes dos familiares.

A data é marcada pela reunião do povo. Alguns aproveitam para manifestar as tradições religiosas e outros para se divertir. Concursos de canções natalinas também costumam ser organizados, e as músicas das edições anteriores são tocadas nas rádios locais ao longo do dia.

Algumas famílias fazem uma limpeza completa da casa e guardam presentes entregues pelo Papai Noel, chamado “tonton Noel”. As pessoas também queimam fogos de artifício durante a noite. Na mesa, servem comidas típicas, como o “diri cole”, uma mistura de arroz e feijão, “banane pesée”, um bolinho de banana, e o “paté codé”, uma espécie de pastel.

Uma das comidas tradicionais no Natal haitiano é o paté codé

Na cidade de Léogân, onde o haitiano Diego Larose, 28, nasceu, ele passava a data em família. Em 2013 veio ao Brasil e, de lá pra cá, o Natal foi celebrado entre amigos ou na igreja que frequenta.

A cultura de origem não mudou, mas ele passou a festejar a data como os brasileiros, com direito a ceia e decorações típicas do país.

O Natal é também celebrado desta forma pelo senegalês Daouda Fair, 34, que costuma passar a data em comunidade. Ele conta que no país de origem, a festa reúne toda a família, e o que não pode faltar é o arroz com peixe.

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